Sejam Bem-Vindos!

"É uma grandiosíssima calúnia dizer que tenho revoltas contra a Igreja. Eu nunca tive dúvidas sobre a Fé Católica, nunca disse nem escrevi, nem em cartas particulares, nem em jornais, nem em quaisquer outros escritos nenhuma proposição falsa, nem herética, nem duvidosa, nem coisa alguma contra o ensino da Igreja. Eu condeno tudo o que a Santa Igreja condena. Sigo tudo o que ela manda como Deus mesmo. Quem não ouvir e obedecer a Igreja deve ser tido como pagão e publicano. Fora da Igreja não há salvação."
Padre Cícero Romão Batista

sábado, 31 de março de 2012

"A Onde Vais, Senhor?"

  
Em Nova Jerusalém e em muitas cidades do Nordeste começou a temporada das “Paixões”. Estamos entrando na Semana Santa! Semana rica de significado e propícia para uma reflexão sobre o sentido da nossa vida e o significado da morte de Jesus. Vamos começar com a lenda do “Quo Vadis”.
Em Roma, ao início do cristianismo, iniciou-se grande perseguição de Nero. O apóstolo Pedro, pressionado por seus irmãos cristãos, procura afastar-se da cidade. Enquanto foge para o sul, ao longo da via Ápia, encontra Jesus que vai em direção oposta. Pergunta-lhe Pedro: “Aonde vais, Senhor?” Jesus responde: “Vou a Roma para morrer de novo”. Pedro compreende, volta atrás e sofre o martírio por Cristo, morrendo crucificado, segundo a tradição, com a cabeça para baixo.
A história do Quo Vadis se repete também hoje. Jesus vem para sofrer e morrer de novo em toda cidade e lugar onde está em ato a perseguição, o perigo, a morte,especialmente em nossos dias, com o desprezo da verdadeira dignidade da pessoa humana, a banalidade da vida humana, a perseguição dos seres humanos ainda no ventre materno, a discriminação de pessoas segundo a sua situação de humilhação e esquecimento, a tentativa de criar um sistema de amordaçamento dos que pensam o contrário e até com a perseguição. Mas Deus não se esquece e suscita ainda discípulos e discípulas corajosos que não fogem, que estão presentes, mesmo sofrendo perseguições abertas ou camufladas.
A história do Quo Vadis tem um sentido também para cada um de nós. Quando Jesus iniciou sua última viagem para Jerusalém que se concluiria com a morte, um dos apóstolos disse aos outros que estavam titubeantes: “Vamos também nós morrer com ele” (João 11,16). Com esse sentimento no coração todo verdadeiro homem de fé deveria iniciar a semana santa.
O domingo de ramos é rico de significado e memórias. Os Ramos constituem o aspecto mais vistoso e sugestivo do acontecimento: recordamos o ingresso triunfal de Jesus em Jerusalém. Os ramos de oliveiras abençoados pelo celebrante, antes da procissão, são sinais de vitória e levamos um depois para nossa casa, em recordação de Cristo vencedor da morte. O Papa João Paulo II ai se inspirou para proclamar a Jornada Mundial da Juventude.
A leitura da Paixão do Senhor que é proclamada neste domingo nos introduz no drama que podemos dividir em cinco comentários: 1. A hora da traição: Os chefes dos sacerdotes se colocam de acordo com Judas para lhes entregar o Senhor Jesus. 2. A hora da Amizade: Jesus recolhido com os apóstolos no Cenáculo cumpri o rito da Páscoa, parte com eles o pão, e se dá a seus amigos no sacramento da Eucaristia que institui. 3. A hora da angústia: Jesus se retira para o Horto das Oliveiras e conhece a solidão , a prisão, a fuga dos seus amigos; 4. A hora do julgamento: Jesus é processado pelo sumo sacerdote e por Pilatos; é renegado por Pedro e escarnecido pelos soldados. Marcos põe em relevo a traição de Pedro. Ela foi anunciada por Jesus na última ceia: “Hoje mesmo, nesta noite, antes que o galo cante, tu me negarás três vezes”. Depois descreve em todo o seu humilhante desenvolvimento, na voz de Pedro: “ Não sei e não compreendo o que queres dizer... Não conheço o homem que vós quereis dizer!”. 5. A hora da crucifixão e morte. Com o grito: “Deus meu, Deus meu, por que me abandonaste?” Assim, não há dor em nossa vida, que Jesus não tenha condividido conosco. Sabemos que o Senhor morreu por cada um de nós.
A participação nas celebrações da Semana Santa não nos leva a celebrar a morte: a nossa meta é a vida, é a Ressurreição! Feliz quem tem o dom de acreditar.”

Dom Bernardino Marchió
Bispo Diocesano de Caruaru.


Raniero Cantalamessa fala sobre conhecimento de Deus



Arquivo
No Vaticano, Raniero Cantalamessa conclui o ciclo de pregações sobre a Quaresma.

O pregador da Casa Pontífica, Frei Raniero Cantalamessa, encerrou nesta sexta-feira, 30, o seu ciclo de pregações de Quaresma, que tradicionalmente acontece todos os anos diante do Papa Bento XVI e da Cúria Romana neste tempo litúrgico.
Em sua quarta e última pregação, o frei capuchinho falou sobre o 'Conhecimento de Deus', a partir dos escritos de São Gregório de Nissa.
"Esta última meditação nos aproximamos dos Padres para renovar a nossa fé no objeto principal da mesma, naquele que está comumente entendido pela palavra “acreditar” e segundo o qual separamos as pessoas entre crentes e não crentes: a fé na existência de Deus", ressaltou

Cantalamessa destacou que São Gregório Nazianzeno é o padre da igreja que explica a pedagogia de Deus ao revelar-se a nós.
"A conclusão importante que podemos tirar de tudo isso é que a fé cristã é também monoteísta; os cristãos não renunciaram a fé hebraica em um só Deus, ao contrário a enriqueceram, dando um conteúdo e um senso novo e maravilhoso a esta unidade. Deus é uno, mas não solitário", destacou.
O pregador concluiu trazendo orientações práticas sobre como a razão pode conduzir cada cristão ao caminho mais puro da fé.
"Depois de todas essas considerações, o que resta à nossa mente é elevar-se especulando não somente por acima deste mundo sensível, mas também por acima de si mesmo; e nesta subida Cristo é caminho e porta, Cristo é escada e veículo", concluiu. 


Fonte: CN

Pediatra orienta pais na formação da identidade sexual dos filhos

O pediatra Christian Snake acompanhado pela coordenadora do Centro de Formação ‘Famílias Novas’, Fabiana Azambuja, durante coletiva de imprensa
A educação dos filhos hoje em dia é assunto que ainda causa dúvida em muitos pais. Como ser pai e mãe nos dias de hoje? A pergunta é tema do ‘Aprofundamento para as Famílias’ promovido pela Comunidade Canção Nova de 30 de março a 1 de abril. Uma das abordagens do evento é a formação da identidade sexual dos filhos. A proposta, de acordo com a coordenadora do Centro de Formação ‘Famílias Novas’, Fabiana Azambuja, é tentar levar aos pais algumas dicas sobre a criação dos filhos. “Ser pais é uma profissão que não tem escola, mas nós podemos ter pistas para sermos melhores pais, melhores mães. Acreditamos que, assim, construiremos uma sociedade melhor”. Em coletiva de imprensa, um dos convidados para o evento, o pediatra chileno Christian Snake, que é especialista em bioética, destacou a preocupação com bens materiais como um dos problemas que mais afetam as famílias e prejudicam o diálogo entre seus membros. “Isso faz com que os pais deixem de lado a preocupação com a aproximação e busca de valores espirituais e de intimidade com seus filhos”. Formação da identidade sexualPai e mãe atuam na formação da identidade sexual de seus filhos, mas Dr. Shnake revelou que cada um tem um papel específico nesse processo. O pediatra explicou que a mãe tem uma proximidade muito maior com a criança, em especial na primeira etapa da infância, o que é natural. Desde a amamentação, a mãe transmite à criança que a sexualidade é algo natural e normal da pessoa.  À medida que a criança vai crescendo, entra em ação o papel do pai que é de alguma forma, romper um pouco essa união tão forte com a mãe. “Esse processo, que significa cortar de novo o cordão umbilical, vai permitir à criança projetar-se para o mundo”, revelou o médico chileno, dizendo que, com isso, a criança vai conseguir afirmar sua identidade. Transtornos de identidadeDe acordo com o especialista chileno, o mais importante é os pais prevenirem possíveis transtornos no desenvolvimento da identidade sexual de seus filhos, processo em que se faz necessária a presença dos pais junto à criança. “Os pais devem ter a capacidade de acolher seus filhos como eles são, com suas características pessoais, apoiá-los e fortalecê-los e não rejeitá-los por serem diferentes daquilo que eles esperavam”, orientou. O médico destacou a ausência do pai como uma das causas dos problemas na área da identidade sexual, tendo em vista o importante papel desempenhado pela figura paterna. “Muitas crianças estão sendo criadas sem o pai. Nessas situações, é necessária a ajuda de um psicólogo cristão que entenda que não é normal nem natural que se possa desenvolver uma identidade sexual em que se projeta uma atração pelo mesmo sexo. Que entenda que essa atração pelo mesmo sexo é a conseqüência de uma falta de identidade sexual da criança”. Quanto à aproximação entre pais e filhos nesse diálogo sobre identidade sexual, o pediatra recomendou que se instruam os pais a terem princípios e saberem da importância de sua proximidade com os filhos. “Parece que à medida que as crianças vão crescendo, os pais acreditam que não precisam abraçá-los e os filhos precisam ser abraçados. Isso não os faz menos homens, muito pelo contrário”. Avanços no pré-natal x abortoUma das palestras do dr. Snake durante o ‘Aprofundamento para Famílias’ refere-se aos avanços na medicina pré-natal. Tendo em vista a oposição entre medidas como estes avanços, que buscam maior segurança para o bebê, e outras que favorecem o aborto, o médico revelou que esta é uma das contradições que acontecem na ciência. Ele citou dois valores considerados fundamentais na maioria das culturas: o respeito à vida e o respeito à autonomia, à liberdade. “Hoje em dia, estamos em um mundo extremamente liberal do ponto de vista filosófico, em que se prima pelo conceito de liberdade, à autonomia, inclusive acima do respeito à vida. Então temos liberdade sem responsabilidade e respeito à vida”. O especialista em bioética finalizou dizendo que o homem poderá atuar corretamente se ordenar seus valores, colocando em primeiro lugar o respeito à vida e em segundo a liberdade subordinada a esse respeito. 

Fonte: CN

Bento XVI envia mensagem a detentos de Roma



Arquivo
Bento XVI em encontro com presos de Roma em 18 de dezembro de 2011

Papa Bento XVI quis se fazer próximo a todos os encarcerados de Roma, às portas da semana santa. O Santo Padre visitou o cárcere de Rebbibia, que fica localizado na capital italiana em 18 dezembro de 2011, e agora, reforçou na mensagem publicada nesta sexta-feira, 30, por ocasião da Via Sacra realizada hoje  mesmo presídio, o que disse quando esteve com os detentos.
"Recordo os rostos que encontrei e as palavras que escutei, as quais me me tocaram profundamente", disse o Papa
O que tocou o Santo Padre foi o fato de muitos presos terem dito a ele, que o mais difícil para eles, era estarem longe da família.
A cruz da via sacra foi conduzida por 14 visitantes, enquanto que os comentários, foram proferidos por 3 detentos. O Papa concentrou sua reflexão sobre a possibilidade de reabilitação dentro do sistema prisional.
"O cárcere serve para reerguer-se depois da queda, para reconciliar-se consigo mesmo, com os outros e com Deus para poder depois voltar para a sociedade. Temos o exemplo de Jesus que nos faz entender que Ele viveu a nossa condição humana, o peso dos nossos pecados o fizeram cair", ressaltou.
Bento XVI concluiu dizendo aos detentos de Rebibbia para não desanimarem diante das mais duras provas.
"Não tenhamos medo de percorrer a nossa via crucis, de levar a nossa cruz junto com Jesus. Ele está conosco", concluiu.

 Fonte: CN

sexta-feira, 30 de março de 2012

Vaticano aprova nova bênção para crianças no útero



Da Redação, com ACI Digital


A Conferência de Bispos Católicos dos Estados Unidos (USCCB) informou, em um comunicado oficial, que a Congregação para o Culto Divino e a Disciplina dos Sacramentos deu sua aprovação ao novo rito de "Benção de uma criança no útero".

A notícia foi divulgada nessa segunda, 26, Solenidade da Anunciação do Senhor. A bênção foi redigida pelo Comitê do Culto Divino da Conferência de bispos católicos dos EUA, ao constatar que não havia um rito aprovado para tal fim.

O secretário do Comitê de atividades Pró-vida da Conferência episcopal norte-americana, Cardeal Daniel DiNardo. manifestou sua alegria ao comunicar a notícia: "Estou impressionado pela beleza da vida humana no útero", comentou.

"Não poderia pensar em um melhor dia para anunciar essa notícia que a festa da Anunciação, quando recordamos o ‘Sim’ de Maria a Deus e a Encarnação dessa Criança nela, nesse útero, que salvou ao mundo".

"Queríamos fazer este anúncio o quanto antes", afirmou Monsenhor Gregory Aymond, secretário do Comitê de Culto Divino da USCCB, "de forma que as paróquias possam começar a ver como esta bênção pode integrar-se na malha da vida paroquial".

O texto será impresso em um folheto bilíngüe - inglês-espanhol - e estará disponível para as paróquias norte-americanas no dia das Mães. "Oportunamente, esta nova bênção será incluída no livro de Cerimonial das Bênçãos, quando esta publicação seja revisada", anunciou Monsenhor Aymond.

O rito foi preparado para apoiar os pais que esperam o nascimento de seus filhos, para alentar as comunidades paroquiais à oração e o reconhecimento do dom dos nascituros e para criar consciência do respeito à vida humana na sociedade. Segundo o comunicado oficial, o rito poderá ser realizado no contexto da Eucaristia ou fora dela.

A bênção teve sua origem em uma solicitude de Monsenhor Joseph Kurtz, Arcebispo de Louisville, quem pediu ao Comitê de Atividades Pró-vida averiguar se existia um rito aprovado para abençoar uma criança no ventre de sua mãe.

Quando não pôde encontrar nenhum, o Comitê redigiu uma versão e a submeteu à aprovação do Comitê para o Culto Divino da Conferência, que o aprovou em março de 2008. A Assembléia plenária dos bispos da USCCB ratificou esta aprovação e enviou o rito a Roma para sua edição e aprovação final. 

Fonte: CN 

Vaticano apresentará novos detalhes sobre a JMJ Rio 2013

Membros da Comissão Organizadora Local da JMJ Rio 2013 estão em Roma desde o dia 22 de março
Na próxima segunda-feira, 2, o Pontifício Conselho para os Leigos, órgão vaticano que coordena as Jornadas Mundiais da Juventude (JMJs) apresentará novas informações para a JMJ Rio 2013.
A coletiva de imprensa está marcada para às 11h30, horário de Roma (6h30 em Brasília), na Sala João Paulo II e será conduzida pelo presidente do dicastério Cardeal Stanislaw Rylko, pelo Arcebispo do Rio de Janeiro, Dom Orani João Tempesta e pelo presidente da Comissão Episcopal para a Juventude da CNBB, Dom Eduardo Pinheiro da Silva.
Desde a quarta-feira, 28, todos os responsáveis pelas JMJs estão reunidos no Encontro Internacional sobre as Jornadas Mundiais da Juventude, em Rocca di Papa, que fica na grande Roma, Itália.
Cerca de 350 pessoas de 98 países, entre elas representantes de 45 comunidades, associações e movimentos juvenis católicos, estão neste encontro que termina no domingo, 1º de abril.
De acordo com o coordenador da JMJ Rio 2013, monsenhor Joel Portella Amado, no primeiro dia de trabalhos do encontro, os representantes da JMJ de Madri apresentaram sua avaliação do evento realizado em agosto de 2011.
Nesta quinta-feira, 29, será a apresentação da Jornada do Rio de Janeiro e na sexta-feira, 30, terceiro dia do encontro, haverá um estudo em nível mundial sobre a presença da Igreja junto aos jovens, hoje a chamada Pastoral Juvenil.
Na Missa do Domingo de Ramos, presidida pelo Papa Bento XVI, um dos diretores do Setor de Preparação Pastoral, Diácono Arnaldo Rodrigues, servirá na Celebração. A Missa será transmitida às 4h30 (horário de Brasilia) pela TV Canção Nova.
Alguns representantes da delegação da Comissão Organizadora Local (COL) chegaram antes a Roma, na quinta-feira, 22, para uma série de compromissos. Segundo padre Márcio Queiroz, diretor do Setor de Comunicação, eles visitaram diversas congregações e todos os organismos que estão diretamente ligados à JMJ, além do sistema de comunicação do Vaticano e o Pontifício Conselho para as Comunicações. 
“Graças a Deus temos tido bons resultados nesses encontros. Todos demonstram muita alegria em nos receber e estão dispostos a colaborar conosco nessa empreitada para a Jornada Mundial da Juventude”, ressaltou padre Queiroz.

Jantar na embaixada brasileira
Padre Zezinho também está no encontro das lideranças juvenis em Roma e conduzirá a ‘festa’ brasileira durante o evento. Está prevista para esta sexta-feira, 30, uma apresentação, depois do jantar promovido pela embaixada brasileira junto a Santa Sé.   
No show, padre Zezinho cantará em seis idiomas e a plateia será composta por delegados das Conferências Episcopais de todo o mundo.


Fonte: CN 

Bento XVI chega ao Vaticano após viagem ao México e Cuba

Da Redação, com Rádio Vaticano

Bento XVI chega a Roma nesta quinta-feira, após sua viagem apostólica ao México e Cuba
A visita do Papa ao México e Cuba terminou na manhã desta quinta-feira, 29, com a chegada de Bento XVI ao aeroporto militar de Ciampino, em Roma. O Boeing 777 da Alitalia, com o Pontífice e sua comitiva a bordo, proveniente de Havana, aterrissou às 10h35, horário de Roma (5h35 de Brasília).
Ainda do avião, Bento XVI enviou um telegrama saudando o presidente Nicolas Sarkozy, ao sobrevoar a França, e pediu a Deus que abençoe o país. O Santo Padre também enviou uma mensagem ao presidente da Itália, Giorgio Napolitano, na qual destacou o encontro com os numerosos fiéis do México e Cuba, e assegurou "uma especial oração para o bem, serenidade e prosperidade de toda amada nação italiana, ao qual envio afetuosamente minha afetuosa benção".
Em Roma, o Papa foi recebido por várias autoridades, inclusive os embaixadores do México e de Cuba junto à Santa Sé, e uma mensagem de boas-vindas do Presidente da República Italiana.
“Sua elevada mensagem pastoral terá grande repercussão em meio aos povos que o receberam com tanto carinho. E também o seu fraterno encorajamento a progredir no caminho da democracia em vista de um verdadeiro progresso, inspirado nos valores da pessoa humana”, afirma Giorgio Napolitano.




Fonte: CN e Rádio Vaticano 

Relacionamento e compromisso

Eu sou de ninguém, eu sou de todo mundo e todo mundo me quer bem..." [referindo-se a uma música]. Muitas vezes, vivemos e cantamos isso, mas o que percebemos no mundo é a falta de um compromisso entre um rapaz e uma moça. A moda é 'ficar'. As pessoas têm medo de ter um relacionamento sério. Somos, por vezes, ignorantes no sentido em que erramos por não saber o que é um namoro. Acha-se que namorar é só beijar na boca, por isso muitos de nós acabamos nos ferindo e ferindo as outras pessoas. Compromisso é algo muito importante dentro de um relacionamento. Compromisso com o outro, consigo mesmo e dentro do ministério. 


Precisamos ter em mente a importância de ter um compromisso definitivo. Eu sei que muitas pessoas, muitos músicos, infelizmente, têm que tocar na noite. Não o estou condenando, é o seu trabalho, mas não se deixem poluir pela noite, não se deixe envolver por ela. Busque ter uma vida de oração para que isso seja apenas seu trabalho. Não se comprometa com as obras do mundo, mas com as obras de Deus. Viva com responsabilidade os princípios cristãos. Cuidado para que você não venha a entrar na moda do mundo!”

FONTE: CN

Você nasceu para gerar vida


Padre Crystian Shankar
Estamos celebrando a quinta semana do tempo quaresmal. Isso quer dizer que a Semana Maior já está batendo à nossa porta.
A Igreja nos deu 40 dias para nos prepararmos para a Paixão, Morte e Ressurreição de Jesus Cristo. Uma preocupação é que muitos valorizam demais o tempo da Quaresma - e ele tem mesmo de ser valorizado, pois é um tempo de conversão -, mas temos também de viver bem o tempo pré e pós-pascal.
Na Quaresma, a Igreja se veste de roxo, a cor da penitência. Mas as pessoas se esquecem de que ela nos chama não apenas a uma conversão pré-pascal, mas a uma conversão que permanece após a Páscoa, ou seja, uma mudança de vida permanente.
Por que nos preparamos durante 40 dias para a Quaresma, mas não fazemos o mesmo nos 50 dias que antecedem o Pentecostes?
Nós precisamos começar a pintar esse mundo com as cores da graça de Deus. Você nasceu para gerar vida, então, assuma a sua vocação.
Você deve pensar hoje: quem você ama, gratuitamente, sem esperar nada em troca? No coração de quem o seu nome está escrito? Sei que quando olharmos no coração de Deus haverá o nome de Abraão, porque ele foi escolhido para gerar vida. Na sua vida, quanta vida você gerou?
“Eis a minha aliança contigo: tu serás pai de uma multidão de nações”(Gênesis 17,4). Você tem gerado vida dentro da sua família? Você está gerando vida por onde passa?
O perfume não transmite cheiro, mas pessoas e emoções. O nosso cheiro deve lembrar a pessoa de Jesus Cristo; não para sermos elogiados, mas porque O amamos e queremos ser como Abraão, gerador de vida.
Aquele que nasceu para o eterno não se sacia com o passageiro. Aquele que busca a santidade evita o pecado. Jesus mostrou que amava o Pai, porque foi obediente a Ele.
Meus irmãos, a Semana Santa não rima com feriadão; para o cristão, a Semana Maior rima com celebração. Ajude a Igreja a celebrar aquilo que ela tem de melhor, a vida que vem da morte. Jesus morreu para que nós tivéssemos vida.

"Aquele que nasceu para o eterno não se sacia com o passageiro."

Creia e você vai receber, acredite e as coisas vão melhorar. Muitas das coisas que não nos acontecem ou não acontecem como queríamos, é culpa de nossa língua, porque não professamos as maravilhas que o Senhor fez. Os profetas falaram em nome de Deus.
Jesus é homem, é Deus conosco e é o amor que se fez carne e habitou entre nós. É Ele a quem vamos celebrar na Semana Santa. Não podemos ter um Cristo que satisfaça as nossas vontades, porque este não é o Cristo da Bíblia.
Hoje, não é qualquer um que pode ser cristão, porque para sê-lo é preciso ter raça, é preciso ter força. Eu não peço ao Senhor que me tire a cruz, mas peço a Ele força para poder carregá-la.
Devemos assumir a cruz como glória, não como dor. Se Jesus foi humilhado e flagelado, nós, para sermos discípulos, temos de traçar o mesmo caminho.
Quem quer viver eternamente? Guarde a Palavra de Deus no coração. A Bíblia, quando nos fala em “guardar”, está falando em vivê-la, praticá-la.
Será que conhecemos Deus? Conhecê-Lo é permitir que Ele entre em nossa vida e participemos da vida d'Ele, é viver as obras que O agradam.
Precisamos de uma religião do coração que nos leve a proclamar a nossa fé. Procure conhecer Deus, guardar a Sua Palavra; procure viver o seu presente com o Senhor para que seu futuro seja abençoado. Faça as coisas da maneira certa, não se preocupe com aquilo que os outros falam de você, mas com aquilo que Deus tem para lhe dar. Tire os olhos de baixo e coloque-os no Alto.
Qual é, meu irmão, o Salmo da sua vida? Conte para as pessoas o quanto a sua vida está melhor depois que você deixou que Deus entrasse nela.
Se sua vida tem sido difícil, saiba que você tem valor. Cristo está testando sua fé. Ele só dá a cruz a quem Ele ama. Se o Senhor não lhe dá as coisas no presente, é porque tem grandes coisas para você no futuro.

Transcrição e Adaptação: Michelle Mimoso
Fonte: CN

quarta-feira, 28 de março de 2012

"A IGREJA FAZ A EUCARISTIA E A EUCARISTIA FAZ A IGREJA"


"A IGREJA FAZ A EUCARISTIA 
E A EUCARISTIA FAZ A IGREJA"
         Este livro foi escrito em Roma, com a aprovação da Igreja, em 1994. O autor não deixa de confessar que deseja suprir ou substituir o silêncio a respeito de tanta profanação e falta de fé, de forma também confirmar na fé muitos fiéis, indignados e sobretudo a sofrer com uma"catequese eucarística" falsamente teológica ou acertada, que invade todo ambiente, a ponto de levar a fuga do verdadeiro cristianismo. É na intenção de satisfazer tantos Sacerdotes e fiéis de hoje, ainda famintos ou sedentos da verdadeira fé que vos apresentamos. Demos pois a palavra ao autor:

PREFÁCIO.

         Escrevo principalmente para os sacerdotes, na esperança de fazer bem pelo menos a alguns.
         Refiro-me àqueles que, a seu tempo, não puderam estudar como se deveria, por circunstâncias que os impediram. A Eucaristia foi por eles compreendida, apenas segundo os termos essenciais do dogma, tal como acaba por ser formulado em qualquer e bem singelo texto catequético para crianças.

         Outros, embora tendo estudado regularmente, conseguiram apenas compreendê-lo bem pouco, ficando com a sua própria mente escrava de muitas dúvidas; e, por conseguinte, dispostos a aceitar todas as hipóteses de explicação, especialmente mais recentes, mais ou menos tendentes a negar e a rejeitar.
         Outros, estudaram seriamente, mas as suas ocupações, com o passar dos tempos, logo os impediram de retomar e aprofundar os problemas relacionados com o dogma, de que conservam apenas vagas recordações, mais ou menos fragmentárias e confusas.
         Outros, à doutrina tradicionalmente ensinada, julgaram de preferência opor-lhe teses ou opiniões teológicas, ousadas ou mesmo arriscadas a cair em autênticas heresias. Ao verdadeiro, logo preferiram o novo que, no entanto, a este respeito, historicamente, não é de fato novo, a não ser na sua expressão mais ou menos pessoal e subjetiva e sugestiva, segundo o temperamento ou disposição daqueles a quem agradam tais opiniões. Mas a verdade é que o erro acaba por ser monótono.

         Evidentemente que falo de “verdadeiro” e de “novo”, partindo de uma tomada de posição a favor do solene magistério da Igreja, fundada na Tradição Apostólica e na Sagrada Escritura, nas catequeses dos Santos Padres e na mais acreditada reflexão teológica.
         Penso que premissas deste gênero poderão tornar construtiva a leitura destas páginas a esses sacerdotes, jovens ou anciãos sinceramente ortodoxos, que vivem como que mergulhados no tumultuoso alastrar de ideais ou opiniões defendidas apenas por uma pequena chusma de teólogos, biblistas e liturgistas, muitas vezes dispostos ao improviso e ao temerário ou atrevido.

         Ao seu tão tristemente suportado silêncio, desejaria eu responder, até mesmo para confirmar na fé muitos fiéis agora já indignados, por ter de suportar uma “catequese” falsamente teológica, que invade já todos os ambientes, chegando a ameaçar com a mais radical animosidade ou antipatia pelo Cristianismo.

                                               Roma, 3 de Janeiro de 1994
O Autor – E.Z.

I
EUCARISTIA OU A PIOR DAS IMPOSTURAS

         O dogma eucarístico começa a empenhar ou interessar todos os meus recursos intelectuais. Muitas vezes a preocupação chega mesmo a perturbar-me, particularmente quando ouço falar de irreverências e sacrilégios, ou de aberta e obstinada negação do mistério.

         Um tal sofrimento tem a sua explicação mais lógica e séria naquilo que se relaciona com a Eucaristia e a Igreja, o Cristianismo, a vida humana, a civilização em geral.
         Basta-me pensar que a autoridade com que a Igreja pode impor-se às consciências deriva da sua constituição de sociedade visível e hierárquica; que uma sua tal constituição é fundada na Ordem Sagrada...; que uma tal Ordem Sagrada torna o batizado participante doSacerdócio de Cristo...; que o Sacerdócio de Cristo é exercido principalmente na oferta do Sacrifício Eucarístico...; que o sacrifício eucarístico exige indispensavelmente o prodígio datransubstanciação, que torna presente, nos nossos sacrários, CRISTO em PESSOA.

         Ora, voltando agora a agir ou pensar às arrecuas, devo concluir que, se a presença de Cristo, não é real e substancial, não existe Sacrifício Eucarístico..., não existe Sacerdócio..., não existe Hierarquia..., não existe sequer um Magistério objetivo e infalível...; e, faltando isto, não podemos já acreditar em verdades indiscutíveis, absolutamente certas, de ordem dogmática e moral: justamente as que criaram a civilização cristã, a única solução ou garantia contra os assaltos do laicismo, que se vai estabelecendo ou fundamentando nos abismos ou precipícios de um historicismo fatalmente céptico e anárquico.

         Estas, as considerações que me animam a enfrentar o argumento ou tema considerado como bem mais árduo e fascinante que outro qualquer.


II
MAS SERÁ ENTÃO MESMO VERDADE
 QUE ELE ESTÁ AQUI PRESENTE?

         A maior dificuldade que a razão humana encontra no acreditar que um fragmento de pão contenha o próprio Deus, o Infinito, o Imenso, é agravado por sacerdotes e fiéis que O tratam como se realmente Ele não estivesse lá. Ponho-me no lugar do ateu, do muçulmano, do judeu, do protestante e, entretanto nas igrejas católicas muitas vezes, vejo coisas, pessoas e comportamentos que me obrigam a interrogar-me continuamente se de fato Cristo estará realmente presente, como sempre acreditei.

         Com efeito, grupos de visitadores, vestidos como muito bem lhes apetece, quero dizer,para além de todo o limite da decência e do pudor, passeiam livremente, como numa galeria ou exposição de arte, olham ou observam, curiosos e palradores, sem se dignarem sequer fazer qualquer gesto de respeito e de fé.
         Tantas vezes, os próprios fiéis procuram apenas cômodos bancos para se sentar como numa sala de concertos... Não há genuflexórios que os levem a humilhar-se, a recolher-se, a adorar. O altar, praticamente despido, já não é o Seu trono, porque O desterraram para um sítio qualquer, como a um qualquer objeto, que nem sempre é assim tão fácil de descobrir. Por outro lado, tantas vezes as prescrições do Direito Canônico são apenas letra morta.

         Tudo concorre para fazer, isso sim, que os próprios fiéis já nem queiram saber d’Ele: eles mesmos preferem ajoelhar-se diante de estátuas ou imagens, a ajoelhar-se diante do sacrário. Muitos não sabem sequer distinguir o que é a consagração e a benção; esta, se dada por qualquer exorcista de gritos, é logo preferida à celebração eucarística.

         Muitos estão convencidos de que podem comungar, mesmo em pecado mortal, bastando um ato de contrição: a misericórdia de Deus supre tudo... A todos é licito a Eucaristia na mão, mesmo prevendo que os fragmentos, caídos por terra, possam ser pisados. “Que importa? Não há motivo para escrúpulos”: Deus adapta-Se a tudo...
         Muitas vezes tenho ouvido repetir que Ele, ao instituir a Eucaristia, Se ofereceu como o pão das nossas mesas... Por conseguinte, disposto a ser tratado sem excessivas atenções... Precisamente como se, depois da consagração, esse pão se não tornasse ELE MESMO...

         Já não há quase ninguém que não possa distribuir a Comunhão. A bispos, sacerdotes, diáconos, acólitos, leitores, religiosos, juntou-se agora um número indefinido de leigos, homens e mulheres. E todos, como certos eclesiásticos, vão declarando: estão autorizados a comungar por eles mesmos. Se a Missa é um mero banquete, e se à mesa não há hierarquias nem precedências, qualquer se pode servir por si só, sem depender de ninguém...

         Alguns cânticos, acompanhados por certos instrumentos musicais, não fazem de modo algum qualquer apelo à presença de Deus, não convidam ao recolhimento, à súplica, a chorar as suas próprias culpas ou ao arrependimento... Judeus, Muçulmanos não poderão sequer suspeitar que nós acreditamos verdadeiramente na Sua Presença; e isto, sobretudo se ensurdecidos pelas contínuas palmas, se a ouvir o enjoado e indiscreto relato de experiências pessoais, se observam a cena nada séria de gente que se abraça, se beija e chega a dançar...

         Muitos sacerdotes, no altar, parecem funcionários do culto, não ligando ao respeito pelas rubricas, mostrando-se expeditos ou desembaraçados, rotineiros, distraídos, enjoados ou aborrecidos... Preferem falar do social a falar de Deus; preocupam-se com recolher fundos para construções ou restaurações, organizar ou reger messes ou cantinas e acolher estrangeiros, copos de água, emigrantes, esquecendo tudo o mais, que é bem mais importante.

Antropologia, psicologia e sociologia interessam mais que a teologia: o amor do próximo parece que prevalece sobre o Amor de Deus e a Sua Justiça. Tenho visto irmãs que, uma vez recebida a Comunhão, logo desaparecem, ocupadas por uma infinidade de outras coisas, e descurando a única que é verdadeiramente necessária. Estão de tal modo despachadas e seguras de si, que se não dignam sequer fazer a genuflexão diante do Santíssimo... A sua confiança com Ele quase não tem limites; mas dá para nos interrogarmos se de fato ainda acreditam.
Eu, por mim, não tenho dúvidas. Se não fosse católico, o seu exemplo não me levaria a acreditar, como de fato escandaliza muitos fiéis que, desmoralizados, vão desertando das nossas igrejas.
         Os Protestantes repetem-nos que, se estivéssemos convencidos da presença eucarística, não trataríamos o Senhor como todos o podem notar e deplorar ou lamentar.
        


III
QUE LITURGIA CATÓLICA?

         Papas e Concílios sempre têm defendido o dogma da presença real contra a heresia protestante; e o Vaticano II confirmou de um modo inequívoco o magistério tradicional.
         Mas entre o pensamento oficial da Igreja e a doutrina que alguns teólogos, escrituristas, liturgistas propagam – impondo-a aos fiéis – o contraste é bem evidente e mesmo escandaloso. Alguns fatos, particularmente bem significativos a este respeito, têm levantado problemas verdadeiramente angustiantes, nos leigos mais informados e coerentes.

É evidente a gradual redução dos sinais de fé, no culto eucarístico, Tem-se notado, para além da eliminação do sacrário do altar-mor, até mesmo a eliminação da balaustradaou grade que, separando o presbitério ou altar-mor do corpo da igreja, indicava a distinção entre Clero e povo, sacerdócio ministerial e sacerdócio comum dos fiéis. Foi suprimido o uso da campainha, que anunciava aos fiéis o momento culminante da liturgia eucarística, para dispô-los a uma atenção mais intensa e a uma concentração ou recolhimento interior...

Foi agora também muito mais reduzido o número de velas, na exposição solene doSantíssimo Sacramento, perante o qual não mais seria prescrita a dupla genuflexão, simultânea, chegando mesmo a ser proibida. Não se trata de ninharias ou frivolidades e, mesmo que assim fossem, verdade é que ainda assim e por isso mesmo convinha e era mesmo de toda a vantagem que se conservassem os costumes anteriores que, sem prejudicar ninguém estimulavam a um mais fervoroso comportamento de fé na presença de Deus... O uso das vestes sagradas (amito, alva, estola e casula, etc.) é cada vez mais reduzido e deixado ao capricho do celebrante.

A COMUNHÃO NA MÃO

Paulo VI não aprovara o uso ou prática da Comunhão na mão dos fiéis, e por anos se debateu, opondo-se à petulância de bispos, mais sensíveis à doutrina e ao costume do mundo protestante, que preocupados com o cultivar a fé do povo. As suas razões (de Paulo VI) eram e continuam a ser objetivamente validíssimas, sobretudo porque fundadas no perigo de multiplicar irreverências e profanações.

MAS NÃO FOI OUVIDO

         E muitíssimas dioceses do mundo católico – inclusas as das Conferências Episcopais italiana e portuguesa – catequistas improvisados, liturgistas sem escrúpulo algum, bispos condenscentes, sacerdotes superficiais e liberaloides, não só aceitaram a nova prática, mas tão pouco se interessaram com o fazer cumprir as normas prescritas, chegando pelo contrário a obrigar arrogantemente adultos e crianças a receber a Hóstia na mão, apesar da resistência e os vivos protestos dos mais perfeitamente informados... 

         O perigo das previstas e temidas profanações foi-se traduzindo numa realidade tristemente reconhecida por um sem numero de testemunhas seculares, infelizmente incapazes de a impedir. O novo rito – segundo crônicas quase diárias – fez subir para números impressionantes a quantidade das “missas negras”, celebradas por toda a parte com Hóstias consagradas, roubadas ou pagas por suspeitas figuras de emissários de Satanás.

         “Chegam-nos vozes ou noticias sobre casos de deploráveis faltas de respeito na forma como se tratam as espécies eucarísticas, faltas que caem não apenas sobre as pessoas culpadas de um tal comportamento, mas também sobre os Pastores da Igreja, que terão sido menos ou mesmo nada vigilantes sobre o comportamento dos fiéis para com a Eucaristia (...). É difícil não acenar para os dolorosos fenômenos acima recordados...”. Assim falou desde 1980, João Paulo II (Dominicae cenae II). Mas os seus lamentos não tiveram eco algum e as profanações continuaram a multiplicar-se.

         A reação oposta ao novo rito, sustentada acima de tudo pelo pleno conhecimento da disposição de Paulo VI e pelos verdadeiros responsáveis denunciados pelo próprio Pontífice, provocou respostas reveladoras das intenções heréticas de teologastros e liturgistas libertinos. Tendo-se lamentado o perigo da queda dos fragmentos do Pão consagrado, o público, em revistas e jornais, logo ouviu muito bem responder-se com irritante jactância ou basófia que não havia motivo para preocupações, porque esses fragmentos, separados das Hóstias e caídos em terra ou ficados no fundo das nossas píxides sob a forma de pó branco, perdem as aparências que caracterizam o pão, pelo que já não são “ o sinal” da presença de Cristo. Mas foi bem mais fácil refutá-lo, respondendo ou observando que:

         - nenhuma das minúsculas partículas ou simples fragmentozinhos desse pó muda de natureza, mantendo-se sempre verdadeiro pão, como não mudam as da pimenta, do cacau, do açúcar farelado e de qualquer outro corpo reduzido a pó... Atesta-o, com absoluta certeza, o simples bom senso de toda a comum dona de casa...;

         - mesmo que cada grãozinho ou fragmento do supradito pó não apresente as dimensões que por norma tornam o pão comestível, verdade é que ele conserva no entanto as qualidades sensíveis suficientes para constituir o “sinal” indiscutível e inequívoco da real presença de Cristo, como a cor, o sabor, o cheiro, o peso, as propriedades nutritivas e outras quimicamente reconhecíveis... De resto, precisamente a qualidade (objeto próprio de cada um dos sentidos) torna sensível a quantidade (objeto comum de todos os sentidos)...;

         - além disso, se com o pó das hóstias, recolhido no fundo das píxides, posso encher uma colher e alimentar-me realmente com ele (como poderia fazê-lo para dar a Comunhão a um doente), é sinal de que os grãozinhos que o compõem permanecem verdadeiro pão: trata-se de“partes integrantes” de um “todo” homogêneo...;

         - supor que os grãozinhos que compõem o  acima referido já não têm valor sacramental significa levantar o formidável e insolúvel problema dos limites da grandeza sob os quais cessa ou desaparece a real presença de Cristo. Quem terá então autoridade para os fixar?... Qualquer indicação que fosse não poderia passar de arbitrária e sacrílega...”

         - e é verdadeiramente arbitrária e sacrílega para quem, aceitando o solene magistério da Igreja, continua a acreditar que, segundo os Concílios ecumênicos de Florência e de Trento,CRISTO ESTÁ PRESENTE EM TODA A HÓSTIA CONSAGRADA E EM CADA UMA DAS SUAS PARTES, POR MAIORES OU MENORES QUE SEJAM.

         Presença que supõe, evidentemente, e de um modo indispensável, essa prodigiosaTRANSUBSTANCIAÇÃO, exigida com insistência pela Igreja, pela qual a presença de CristoNÃO É CONDICIONADA ÀS DIMENSÕES do pão consagrado, mas sim à sua SUBSTÂNCIA. Por conseguinte, até que esta apresente as propriedades que a caracterizam, atransubstanciação é certa, a presença de Cristo é inegável.

UM SIMPLES BANQUETE?


         Alguns novos liturgistas presumem resolver o problema dos “fragmentos”, calando habilmente o fato da transubstanciação. E precisamente a rejeição de um tal dogma está ligado à concepção ou conceito de uma Missa celebrada como simples banquete, em que o pão é tomado por cada um com as suas próprias mãos, e comido tranqüilamente, sem se preocupar com as migalhas ou fragmentos que, ao cair, são depois lançadas no caixote do lixo e destinadas a animais.

         Ora, negada a transubstanciação, não se realiza o Sacrifício Eucarístico, e tão pouco o Sacerdócio que, derivado do Sacramento da Ordem, distingue essencialmente a Igreja hierárquica do laicado. Justamente as teses de liturgistas, segundo as quais a consagração sacerdotal não seria superior, nem se distinguiria da produzida em cada fiel pelo Batismo, ou seja, pelo fato de ser inserido no Corpo Místico como seu membro. Em Cristo, os crentes seriam assim todos iguais, pelo que todos poderiam celebrar a Eucaristia, sendo participantes do Seu Sacerdócio.

         Uma verdadeira série de absurdos ou disparates, no âmbito de um dogma repetidamente definido.

         O Vaticano II autorizou a concelebração. Mas o fato de ela – contra toda a previsão e intenção dos Padres conciliares – ter sido depois apoiada e mesmo recomendada, a ponto de se transformar em ordinário e quotidiano exercício do sacerdócio, faz suspeitar que, por alguns, se pretendia fazer dos concelebrantes outros tanto comensais, ou seja, transformar a Missa em banquete, em que todos os participantes são protagonistas, que têm a mesma dignidade, os mesmos direitos. E daí, precisamente, a dimensão horizontal da relação de paridade ou igualdade entre os concelebrantes, faz passar para segunda ordem a dimensão vertical da dependência de todos do único Verdadeiro Celebrante que é Cristo, Sacerdote e Vítima.
         A tendência que faz prevalecer (muitas vezes de um modo exclusivo) o “banquete”sobre o Sacrifício explica como muitos defendem que a concelebração é preferível àcelebração individual, como se o Sacrifício de Cristo oferecido em toda a Missa individual valesse menos que a Missa concelebrada por cem sacerdotes; como se do número dos ministros (puras causas instrumentais) dependesse o valor do Sacrifício de Cristo, única Causa principal. A importância de um tal assunto irá obrigar-nos a retomá-lo.

“CREIO, SENHOR!”

         Jesus é o primeiro a garantir-me a Sua presença no Sacrário; e as Suas palavras são tão sublimes, singulares, peremptórias, que só podem ter sido pronunciadas por Quem é a Verdade e a Onipotência. Um louco não teria podido exprimir-se como Ele: por mais desequilibrado que fosse, ele só poderia fazer uso dos elementos do seu delírio, apenas daquilo que se costuma pensar e dizer no mundo. Mas no mundo, quem alguma vez teria podido imaginar o oferecer carne e sangue do seu próprio corpo, a fim de conquistar para os outros a vida eterna? E assegurar-lhe a ressurreição?

         Em Cafarnaum, alguns ouviram as Suas palavras com horror, e muito dos Seus próprios discípulos chegaram mesmo a abandoná-Lo, absolutamente desiludidos por um Mestre que já não compreendiam.
         Mas Jesus insiste, fala a sério, e as Suas respostas a tantas insistências dos presentes fazem-se ou dão-se de forma a cada vez mais deixarem os Seus ouvintes apavorados: Ele não hesita em apresentar-Se a Si e à Sua missão, como ninguém alguma vez o poderia ter imaginado. As Suas afirmações, de fato, instam ou avançam num crescendo que faz cada vez mais entrever a mais oculta verdade do seu mistério.

         De um modo bem diferente de tudo quanto tinha acontecido no deserto por meio de Moisés, o PAI, n’Ele, dá o verdadeiro Pão do Céu. É Pão de Deus, é Aquele que desce do Céu e dá a vida ao mundo: Ele é o Pão da Vida. Quem O acolhe não mais tem fome e quem acredita n’Ele, não mais tem sede. Os pais, que comeram o maná, morreram; mas quem se alimenta d’Ele viverá eternamente.

         A partir deste momento, o discurso toma o rumo ou sentido mais surpreendente. Compreende-se que Ele, Verbo de Verdade, alimenta e sacia por Si Mesmo a inteligência humana; como é fácil de compreender que a Verdade é comparada ao pão, como fundamental elemento alimentício do homem.

         Mas Jesus, além disso, insinua que n’Ele o Verbo Se fez carne, assumindo a natureza humana...; que a Sua carne é destinada a ser sacrificada pela salvação do mundo...; carne, a Sua, oferecida a todos sob as aparências do pão; pão que o homem deve comer, para ser assimilado a Cristo e , por Seu intermédio, viver da Sua Verdade: aquela que procura e dá a Vida ou Bem-Aventurança Eterna.
         E, então, quem não come a carne do Filho do Homem e não bebe o Seu Sangue, não pode ter a vida em si; quem, pelo contrário, acolhe o Seu convite, tem o privilégio de estar em Cristo e de ter em si Cristo, sim, de viver por toda a eternidade.

         Linguagem dura, motivo de escândalo? Apenas o é para quem não tem em si a Luz do Espírito, apavorado como está com a recordação da carne lançada como simples pasto aos animais ou consumida por antropófagos...; enquanto afinal se trata de uma realidade que oferece aos sentidos nada mais que as propriedades do pão, mesmo se apenas pão – quanto ao seu ser em si – se torna o Corpo de Cristo, ou seja, a natureza humana, assumida pelo Verbo, único e divino Caminho para o Pai. Precisamente o Pai que revela o mistério do Filho, feito carne, feito pão, feito vida do mundo.

         O discurso que se realizou na sinagoga de Cafrnaum, não podia dizer mais, como solene anúncio do maior e mais supremo dos prodígios, realizado na Última Ceia.

         O relato dos Sinópticos, integrado na catequese de São Paulo aos Coríntios, descreve a cena que se realizou naquela noite no Cenáculo com uma sobriedade que leva a supor nos comensais um certo conhecimento do evento: nenhum deles pede ao Mestre que explique esse Seu misterioso modo de Se exprimir. Declarando que o Pão é o Seu Corpo e que o vinho é o Seu Sangue, Jesus não faz senão retomar e concluir o discurso feito em Cafarnaum... Os Apóstolos tinham-Lhe permanecido fiéis e tinham acreditado n’Ele; e, agora, esperavam d’Ele algo de insolitamente grande.

         Precisamente isto: a Sua palavra criadora transforma inteiramente o pão no Seu Corpo.  O adjetivo demonstrativo “isto” refere-se a tudo quanto caía ou entrava no domínio dos sentidos dos Apóstolos, ou seja, às qualidades sensíveis que indicam a realidade substancial do pão. Ora, o verbo ser conjugado no presente revela que uma nova substância toma o seu lugar, sem anular essas qualidades, que continuam a ser o “o sinal” natural de um outro Pão: o Corpo de Cristo.

         Tudo fez excluir que o verbo ser possa entender-se em sentido metafísico, se atribuído ao Corpo: nessa solene vigília da morte, Jesus não poderia permitir-Se a Si Mesmo linguagem figurada, dirigindo-Se a homens rudes, incultos, a quem noutras circunstancias tinha sentido o dever de explicar o sentido das parábolas... Poderiam eles agradecer, como supremo dom do seu Mestre um vazio símbolo do Seu Corpo?

         Serão os seus fiéis, amanhã, a descobrir de que modo o pão pode parecer pão, apenas porque conserva as qualidades naturais que o tornam capaz de se comer...; e o Corpo, embora sendo rivalíssimo quando à sua substância, não apresenta nada daquilo que o tornariarepugnante aos sentidos. Os Apóstolos, entretanto, não teriam posto qualquer problema. Acreditaram na palavra do Mestre, e a Igreja seguiu a esteira da sua tradição, evitando os dois excessos do realismo grosseiro e ingênuo e do simbolismo gnóstico.
         Ele está verdadeiramente presente, mas sob espécies que não são Suas: são precisamente as mais adequadas para fazer-Se comer com toda a avidez do amor.


A FÉ NÃO BASTA

         Embora acreditando – não posso renunciar a pensar, porque só pensando, posso na realidade acreditar. E digo isto, não porque o pensamento seja capaz de compreender tudo, mas unicamente porque também o mistério está contido no horizonte irradiado da luz do ser, que torna inteligível, a totalidade do real. Aludo a essa margem de inteligibilidade que torna aceitáveis também as verdades da fé, justificando-lhes a revelação. De fato, para que fim serviria esta, se não revelasse nada ao pensamento humano? Por conseguinte, o dogma eucarístico é compreensível: se os seus elementos se perdem no mistério, contudo, este não foge aos princípios do ser; neste caso, que nos restaria pretender?

         Ouso acrescentar que resta muito pretender de um Mistério que os resume a todos, mesmo que justamente por isto levante problemas enormes, que têm empenhado as mais acutilantes e robustas inteligências do passado.

         Como é possível que um minúsculo fragmento de pão contenha o Imenso?... Que Jesus esteja presente numa hóstia inteira e em cada uma das suas partes?... Que a Sua presença – agora, há já milhares de anos – se realize, sem multiplicar-se em mais lugares e tempos, contemporânea e sucessivamente, mantendo-Se ELE sempre idêntico a Si Mesmo em toda a parte: adorado e ofendido, celebrado e feito objeto de profanações turpidíssimas, e mesmo indescritíveis?

         A primeira luz começa a brilhar na Idade Média, pela adoção de um termo que o Magistério não tardou a fazer seu: a transubstanciação.  A qual porém, não tendo algum verificação na natureza, representa um fato, não apenas estranho à investigação cientifica, mas também superior a toda a possível confirmação filosófica.

         Com efeito, as transformações do mundo físico são um dado de primeira experiência: basta pensar naquelas que condicionam a conservação dos organismos, desde o nascimento até à morte... Transformações consentidas pela matéria-prima, sujeito potencial que passa de um modo de ser para um outro, resultando a corrupção do primeiro e a geração do segundo. Na transubstanciação, pelo contrário, também a matéria-prima do pão consagrado se converte na do Corpo de Cristo, pelo que a mudança ou mutação é total e, por conseguinte, naturalmente impossível.

         Portanto, a elaboração teológica do dogma, embora formando um termo altamente expressivo do processo, não apenas o não explica, como também lhe faz realçar o caráter prodigioso, levantando deste modo os problemas que lhe são conseqüentes e que, como veremos, acabariam por ser inteiramente insolúveis, se tivesse de renunciar à metafísica do ser...

         Mas os problemas não existem para aqueles que reduzem “a presença real de Cristo na Eucaristia a um simbolismo, pelo que as espécies consagradas não seriam senão sinais eficazes da presença de Cristo e da sua íntima união, no Corpo Místico, com os membros fiéis” (Pio XII, Humani generis, 16).

         Precisamente a tese protestante, que nega o Sacrifício Eucarístico e por conseguinte osacerdócio ministerial, a Igreja como sociedade visível, capaz de um magistério infalível, sem o qual seria absurdo pretender conhecer a única Verdade verdadeira e certa, que salva do desespero.



“MEU SENHOR E MEU DEUS!”

Se Jesus mo diz e a Igreja mo confirma com cada vez mais vigor, creio na Sua Presença. Bem diversa daquela que devo atribuir-Lhe porque imenso, igual ao Pai.... Por que, como Verbo, vive no “templo” de cada alma em graça; porque, como Mediador, entre o Céu e a Terra, enche de Si Mesmo o Universo e a História...; porque, Cabeça do Corpo Místico, vivifica, com o Seu Espírito, todos os seus membros, inspira as Escrituras, fala e opera nos Seus ministros.

         Todas as formas de uma presença indiscutível e indiscutida, como infelizmente não é a eucarística, pela qual o verbo Incarnado permanece conosco, não menos realmente de como quando vivia na Palestina: os Protestantes recusam-se a acreditá-lo.

         Para disso estar certo, basta-me aderir ao Magistério, que fala de transubstanciação,prodígio que exclui o absurdo em que cairíamos, se acabasse por supor que pão e vinho passam a ser o próprio Deus.

         A Igreja não afirma sequer que passem a ser a Pessoa do Verbo e tão pouco a Sua alma, componente essencial da natureza humana por Ele assumida: a matéria não poderá nunca sublimar-se, a ponto de transformar-se no espírito. Com efeito, a transubstanciaçãoverifica-se ao nível de duas substâncias materiais: o pão e o Corpo de Cristo; pelo que, oprodígio está contido na área do mundo físico, excluindo o salto entre categorias de gênero diverso.

         Isto demonstra a necessidade da Incarnação que, salva a união hipostática, éhumanização e mesmo materialização de uma Pessoa Divina. Por conseguinte, pelatransubstanciação, parece que Jesus tenha querido de certo modo continuar a viver no espaço e no tempo, homem no meio dos homens, satisfazendo, acima de tudo, a mais fundamental função biológica do alimento dos corpos, entendida como símbolo da bem mais vital necessidade das almas, abertas à comunhão de amor com Deus.

Por conseguinte, não se realiza a Eucaristia sem a Incarnação: o pão consagrado pode passar a ser o Corpo de Cristo, apenas porque “o verbo Se fez carne”.

         Mas não basta comunicar com o Corpo de Cristo; quem ama deseja comunicar com Ele, Pessoa Divina, a quem pertence o corpo. Corpo vivificado por uma alma...; alma e corpo, componentes da Sua natureza humana...; contudo, natureza humana que não é Ele. Mas no entanto, não sendo o próprio Verbo (com o qual se quer encontrar e dialogar)¸esta natureza é Sua e, por ela, atinge-se esse mesmo Verbo sem nenhuma outra mediação criada.

         Se, portanto, o pão se torna o Corpo de Cristo, e se Cristo é o Verbo, certamente eu comungo, com o Corpo do Verbo, com o Corpo de Deus, ou seja, com o próprio Deus, que torna adorável a carne concebida no seio da Virgem Maria e sofreu Paixão e Morte.

         Sei que posso comunicar com Deus, adorando-O em espírito e verdade, e isso, não tanto valendo-me da abstração metafísica, quanto supondo a graça e o exercício da fé, como foi o possível aos Patriarcas, aos Profetas, aos Justos da antiga Lei. Mas tratou-se então de relações com Deus inteiramente privilegiadas, superiores à psicologia humana, condicionada ao sensível em todas as conquistas que transcendiam o nível da experiência.

         Ora, o vértice mais sublime de todo o sensível criado e susceptível de se criar é ahumanidade de Cristo, substancialmente unida à Pessoa do Verbo, única Via que, iniciando pela Sua componente corpórea, atinge imediatamente o Seio do Pai.
         Precisamente a componente corpórea que, pelo Pão Eucarístico, nos faz ter acesso ao Deus vivo.

O MAIS ALTO DOS PRODÍGIOS

         Ao silêncio e à adoração, prefiro agora satisfazer a necessidade de entrever a verdade do mistério eucarístico, tentando-lhe uma interpretação que não tem a presunção de a prejudicar nos esquemas ou pelos esquemas da razão, mas tende unicamente a torná-la credível.

         Foi sempre esta a especifica função da investigação teológica que, ao serviço do Magistério, tem atingido a filosofia do ser, para tornar inteligíveis. Pelo menos, os termos do dogma.
         O primeiro dos quais é a transubstanciação que, em relação à substância, foi rejeitada pelo empirismo e pelo fenomenismo, chocando ou combatendo contra um dos primeiros dados do pensamento humano espontâneo, universal.

         Ao nível da reflexão, ela não pode senão definir-se como essência ou sujeito que em um próprio ato de ser, pelo qual existe em si, de um modo autônomo. Se a substância, por isso, não fosse real, não existiria nada, incluso quem tem a presunção de a negar.
         Ora, a substância é o pão de trigo, ázimo ou fermentado, mistura de moléculas de natureza várias, com propriedades especificas e elemento-base do alimento humano, incluído entre os alimentos tomados por Jesus e pelos Apóstolos na Última Ceia.

         É precisamente o pão que o Mestre transforma inteiramente no Seu próprio Corpo,bastando que Ele o declarasse como tal: a Sua palavra, que tinha tirado o mundo do nada, agora, realiza a total conversão da substância do pão na substância do Seu Corpo. Este, o vivo conteúdo do Mistério Eucarístico.

         Para o não deturpar, é necessário supor que:

         - A transubstanciação, segundo o dogma, não deve entender-se no sentido em que a natureza do pão seja assumida pela Pessoa do Verbo, como aconteceu na Incarnação;
         - Que o pão, pelo metabolismo, seja assemelhado ao Corpo de Cristo, como se verifica nos alimentos de que nos alimentamos:
         - Que o mesmo pão receba de Cristo a virtude divina que santifica os fiéis que comungam; neste caso, a Eucaristia não se distinguiria dos outros sacramentos enquanto a verdade é que Ela os transcende a todos:
         - E muito menos ainda que o pão, pela consagração, se torne um símbolo da presença e poder sobrenatural de Cristo; pelo que não teríamos a transubstanciação, permanecendo o pão ontologicamente como era antes.

         Estas, as interpretações heréticas, rejeitadas pela Igreja, que insiste natransubstanciação, proposta como conversão, que não equivale à destruição do pão, nem à criação do Corpo de Cristo: destruição e criação excluídas da continuidade do processo conversivo de uma substância numa outra... Muito mais, que do pão ficam os acidentes, e que o Corpo de Cristo é já real e, sendo ressuscitado, não sofre alterações.

         A unidade do processo agora apresentado, é análoga àquela pela qual, nas combinações químicas, a matéria-prima não é destruída mas passa de uma forma (da substância corrompida) para uma outra (da substância gerada). Ora, no passar, a passagem da potência ao ato é sempre imediatamente de alguma coisa que faz as funções de sujeito: do nada não pode vir nada.

         É precisamente o sujeito que, nas transformações substanciais, é sempre, e necessariamente, a matéria-prima, elemento que não se pode suprimir no composto que precede (o corrompido) e no que segue (o gerado); na transubstanciação, a matéria-prima do pão não faz as funções de sujeito, porque também ela se muda na matéria-prima do corpo de Cristo. O prodígio eucarístico consiste precisamente nesta total conversão da substância do pão na substância do Corpo de Cristo, contra todas as leis da natureza.

         Mas este fato, embora extraordinário, não vai contra os princípios do ser, salvos os quais, tudo é possível, como aliás credível, se depende imediatamente de Deus, Ser-por-essência, que domina a série infinita de todos os seres-por–participação. Tenho de elevar-me a este nível, para aceitar a possibilidade e o fato da transubstanciação.


         Se a natureza transforma o ferro em óxido, permanecendo-lhe imutável ou fixa amatéria-prima ou seja, o sujeito do processo químico...; não vejo por que razão Deus, Criador e Legislador da própria natureza, não possa mudar o pão no Corpo de Cristo, permanecendo o ser – participando por um e pelo outro – o sujeito da conversão de toda a substância do pão na do Corpo de Cristo.

         Isto é evidente que se verifica porque o pão, perdendo o seu próprio modo de ser (que o especifica e diferencia) se muda no modo de ser próprio do Corpo de Cristo, que permanece imutável ou fixo.

         A contradição seria inegável apenas se Deus não modificasse o modo de ser (= a essência) do pão. Seria de fato absurdo supor que o pão, permanecendo essencialmente“pão”, passasse a ser o Corpo de Cristo. Se, no criar, Deus produz o ser, no transubstanciar o pão, Ele Mesmo muda o modo-se-ser do pão; ser que, dominado pela Sua Onipotência, faz as funções – analogamente à matéria-prima – de sujeito da passagem de uma essência para outra.

         A ciência não tem nada a opor a tudo isto; e creio bem que, à mente humana, não seja possível interpretar de outra forma a transubstanciação e, por conseguinte, a origem de uma presença de Cristo não simbólica, mas ontológica, realíssima, segundo o modo de ser da Sua substância corpórea, único traço de união entre o mundo físico dos nossos órgãos sensoriais e a própria Pessoa do Verbo.

PRESENÇA INTEGRAL

         Se, quando à substância, a presença real do Seu Corpo é certíssima, porque devida às palavras da consagração, pronunciadas sobre o pão; não posso ter dúvida alguma da Sua presença, como PESSOA DIVINA. De fato, o Corpo é Seu, e Ele, a partir do momento em que foi concebido, não poderá nunca separar-Se desse mesmo Corpo: a união hipostática durará por toda a eternidade.

         Ora, o Seu Corpo é organizado e vivo pela alma intelectiva que o informa, tornando-o essencialmente humano: Corpo com a sua estrutura, os seus órgãos, as suas capacidades operativas, as suas relações com o mundo exterior. Completa, por conseguinte, é a sua humanidade, aqui presente em virtude das palavras da consagração; as quais, porém, por si mesmas, se referem apenas à substância do Seu Corpo; enquanto, sob o ponto de vista ontológico, ou seja, por natural concomitância, a substância fica unida de um modo inseparável, com tudo quanto objetivamente lhe pertence, constituindo a perfeição do Verbo Incarnado, como foi gerado por Maria...

         E é por isto mesmo que Ele continua a pensar e amar pela alma que vivifica o Seu Corpo, atualmente ressuscitado e glorioso... Por conseguinte, conhece tudo quanto acontece ao Seu redor: dá-lhe conta das nossas adorações e irreverências, compraz-se com o nosso culto e reprova, sem porém os suportar, os nossos sacrilégios.

         Se, e sempre em virtude das palavras da consagração, a presença eucarística não comporta as dimensões do Corpo de Cristo, nem por isso mesmo o completo dos seus órgãos sensoriais...; é, porém indiscutível que, por natural concomitância, a substância do Seu Corpo não fica dessas dimensões, dispostas segundo a típica estrutura do organismo humano. Por conseguinte, estrutura presente só à maneira da substância, ou seja, como é possível a esta que, oculta aos sentidos, está toda em toda a hóstia consagrada e toda em cada uma das suas partes.

         Precisamente a nível sensível não é possível qualquer mútua relação entre nós e Cristo. Se Ele, com os Seus próprios órgãos sensoriais (presentes apenas à maneira da substância) não pode ver, ouvir, tocar nada de exterior a Si...; nós, com os nossos sentidos, podemos apenas colher ou alcançar as naturais propriedades do pão, e não as do Seu Corpo...

         Mas uma tal condição não O impede de estar presente em nós e nós n’Ele, tratando-se da mais verdadeira presença possível ao Seu e ao nosso pensamento, fundada na conversão da substância do Seu Corpo, realmente vivificado para Sua Alma pensante e amorosa ou amante...

         Por isso, se a transubstanciação se não realizasse a nível físico, não seria possível comunicar com Cristo inteiro ou integral. Onde existe uma hóstia consagrada, está Ele: a substância do Seu Corpo comporta ou inclui toda a humanidade assumida pelo Verbo; substância indicada indispensavelmente pelas propriedades do pão, percebidas pelos sentidos, pelo que o mistério eucarístico se segue ao da Incarnação.

A PRESENÇA ADMIRÁVEL

         A transubstanciação, superando todos os processos da natureza, por uma extraordinária intervenção da Onipotência e tornada credível à luz da metafísica do ser,comporta uma outra série de prodígios.
         O primeiro – que confirma a tese filosófica da real distinção da quantidade dasubstância corpórea – fundamenta a possibilidade, pela qual, aqui os acidentes do pão existem sem a substância do mesmo...; enquanto a substância do Corpo de Cristo conserva todas as suas propriedades, mesmo que não acessíveis aos nossos sentidos.

         Ora, o milagre, diretamente refere-se ou diz respeito apenas às dimensões do pão, indispensáveis porque sujeito imediato das qualidades que as supõem: cor, sabor, gosto, etc... exigem algo de extenso, incluindo nos limites de um certo lugar por todos capaz de ser indicado.
         É precisamente pelas dimensões que as qualidades podem ser percebidas pelos sentidos, e o pão consagrado pode ser partido, multiplicado, ocupar um lugar, deslocar-se de um lado para o outro do espaço.

         Mas isso não autoriza a pensar que a presença eucarística, seja comparável à de todas as substâncias corpóreas. De fato, a presença do Corpo de Cristo, sendo condicionada às dimensões do pão (e não às Suas próprias dimensões), não pode dizer-se local, massacramental, miraculoso. Cristo, por conseguinte, está justamente onde se encontram as dimensões do pão consagrado, e move-Se de um lugar para o outro, não por Si Mesmo, mas por estas dimensões. Se adora em muitos altares, é porque neles está presente, não como emmuitos lugares, mas “como no sacramento”, ou seja, de um modo sacramental não local.

         A natural localização de uma substância corpórea é possível apenas pelas dimensões próprias da mesma: pelo que a idêntica substância individua não pode ocupar, simultaneamente, mais lugares circunscritivos.
         Se tudo isso é certo, segue-se que o sinal primário da real presença de Cristo são asdimensões do pão consagrado, qualquer que seja a sua grandeza: e isto porque, mesmo prescindindo da transubstanciação, a substância do pão conserva a sua própria essência, indiferentemente numa hóstia inteira e num seu fragmento dificilmente visível, como no resultado da limadela de uma moeda de ouro – um grãozinho de pó que dela resulta não muda de natureza: mantém todas as suas propriedades organolépticas cientificamente susceptíveis de se verificar.
        
         E por isso, as naturais propriedades do pão consagrado, mantêm-se imutáveis, revelam-se e comportam-se a transubstanciação não se tivesse verificado. Ora, precisamente são a origem próxima de todos os fenômenos que se lhes seguem, se é certo que toda a substância criada é, por si mesma, inerte.
         Não surpreende, por isso que o pão consagrado, em particulares condições por irrevogáveis leis da matéria se corrompa.

         Isso não depende da substância mas das suas qualidades, que se comportam como se a substância do pão fosse ainda real. Falo de qualidade mantidas pelas dimensões que prodigiosamente suprem a matéria do pão, sujeita a corromper-se, dando origem a novas substâncias, como por exemplo a cinzas, em caso de incêndio...

         E é sempre pela razão agora apontada que pão e vinho consagrados podem respectivamente saciar e embriagar; isto, que não depende diretamente das suas substâncias (transubstanciadas no Corpo e no Sangue de Cristo), mas das propriedades (ou energias) dos respectivos elementos. Repito-o: não existe substancia criada que seja ativa por si mesma...

         Se, no culto eucarístico, os nossos sentidos se deixam arrastar ou prender pelo invólucro sensível das propriedades naturais do pão, ou seja, não atingem a substância do Corpo de Cristo, qualquer comportamento humano deixa inalterada essa mesma substância, tanto para o bem como para o mal.
         Ilude-se, portanto, quem pretende fazer sofrer Jesus, pisando ou despedaçando uma hóstia consagrada: e isto, mesmo abstraindo da atual condição de impassibilidade de Cristo Ressuscitado. Em semelhante caso, o sacrilégio ultraja apenas a Sua Pessoa, como uma blasfêmia pode ofender Deus...

         Deste modo, a misteriosa presença sacramental de Jesus, fundada natransubstanciação enquanto nada tira à Pessoa do Verbo Incarnado, tudo remete para as situações ou disposições de espírito do homem, o qual da Eucaristia, poderá fazer tudo o que quiser: honrá-la e profaná-la... Não há nada mais frágil, modesto, vulnerável, do que uma partícula consagrada.
        
Presta-se a todos os usos; está sujeita os riscos e incidentes; é motivo das celebrações mais solenes e das manipulações mais torpes e indecentes...; do amor mais fervoroso e sublime e dos mais diabólicos gestos de desprezo e ódio...; pode guardar-se em preciosos e artísticos sacrários, e ser deitada ou abandonada, em armários carunchosos e repletos de pó...

         Todos hoje podem tocá-la, distribuí-la, transportá-la, roubá-la: sacerdotes santos e leigos irresponsáveis ou mesmo indecentes...
         Quem não acredita, vê nela um fragmento de matéria inerte, incapaz de se defender, opaca, sem vida, de nenhum valor. Na Sua Cruz, o Senhor, moribundo, estava ainda reconhecível como homem: “homem das dores”, mas sempre homem, insultado por alguns, mas também chorado, suplicado, bendito por outros...

         Aqui, já não vejo nada: a Incarnação entende-se até perder os Seus limites nos domínios imensos e obscuros da matéria inorgânica, extremo limite da Onipotência criadora... E é por ela que, do mundo o Verbo volta a subir para o Pai, concluindo o ciclo da permanente aventura do Amor, que Se sujeitou a um total esgotamento de Si Mesmo, o Infinito.

PÃO E VINHO

         Ao tradicional banquete dos judeus não podem faltar pão e vinho, elementos essenciais para a instituição do sacramento eucarístico.

         Ora, que Jesus diga que o pão é o Seu Corpo, não pode admirar nenhum dos Apóstolos, depois daquilo que Ele Mesmo tinha explicado na sinagoga de Carfarnaum. Por outro lado, motivo de surpresa, pelo menos num primeiro momento, foi a peremptória declaração de que ovinho é o Seu próprio sangue. Mas toda a dúvida foi resolvida, não apenas por eles terem recordado que o Mestre tinha acrescentado que o Seu Sangue é verdadeira bebida, mas também o fato de lhes ter afirmado que quem, além de comer a Sua Carne, beber também o Seu Sangue, permanece n’Ele por uma inefável compenetração de amor.

         Por isso, à distinta menção do pão e do vinho corresponde a da carne e do sangue. Por que razão, pois, distinguir os dois elementos, como depois o afirmará São Paulo, ao voltar a recordar e evocar a Última Ceia? E porque Jesus ordena que repitam o mesmo rito, distinguindo a consagração do vinho? Qual o significado desta liturgia?

         É o que os Apóstolos, antes do Pentecostes, não conseguiram compreender, apesar de o Mestre ter predito muitas vezes a Sua Paixão e Morte e, em Cafarnaum, ter declarado que a Sua Carne iria ser sacrificada pela salvação do mundo.
         Dados bíblicos de supremo interesse, de que a Igreja primitiva intuiu muito bem o sentido, repetindo o rito da Última Ceia, para celebrar sacramentalmente o Sacrifício da Cruz, ou seja, a imolação do verdadeiro Cordeiro que tira os pecados do mundo.
        
         Como, pois, a Última Ceia é a antecipação sacramental da Oferta cruenta do Calvário, assim também esta é representada sacramentalmente em cada celebração da Missa chamada precisamente Sacrifício Eucarístico. Sacrifício que, reconciliado o homem com Deus, não pode deixar de se concluir com essa consumação da Vitima imolada símbolo da recuperada amizade de Deus por parte dos fiéis, obtida pelos méritos da Paixão expiadora e redentora.

         Por isso, a Eucaristia compreende ou inclui inseparavelmente o dúplice aspectosacrificial e convivial, no sentido de que um tem valor primário absoluto, porque supremo ato de culto referido a Deus que ofendido pelo pecado exige a reparação oferecida pela Paixão de Cristo. Mediador-Chefe da humanidade pecadora.

         Pelo contrário, o valor do outro é relativo, porque depende da eficácia do primeiro e refere-se ao bem do homem: a redenção que o reabilita é indispensavelmente condicionada àexpiação satisfaz a Justiça de Deus, muito embora a satisfação da Justiça de Deus esteja por Ele liberalmente subordinada à revelação da Sua Misericórdia, a quem compete a iniciativa de tudo.
         Deus não pode ser misericordioso com o homem, se o homem, acima de tudo, não é justo com Deus no reafirmar o sentido absoluto do Seu primado, de quem depende todo o seu bem.

         Que reduzisse a liturgia eucarística a um convívio fraterno, privá-la-ia da eficácia redentora que deriva do seu caráter essencialmente sacrificial. Tudo se desenvolveria precisamente segundo a tendência horizontalista que humaniza o rito, baixando-o ou reduzindo-o ano nível de um fato ou acontecimento social (comunitário) na exclusão da sua referencia à Transcendência, à obra expiadora de Cristo, à realidade histórica do pecado, ao sacerdócio ministerial da Igreja hierárquica.

         É tudo quanto está subentendido na distinta consagração do pão e do vinho, elementos de um banquete que não oferece outro alimento nem outra bebida senão a carne e o sangue da Vítima sacrificada pela salvação do mundo.


O QUE É, POIS, A SANTA MISSA?

         É o momento de entregar-se e responder a esta pergunta, para entender o sentido da escolha do pão e do vinho, feita por Jesus, na instituição da Eucaristia: Só na Missa temos a explicação de tudo.

         Ela “é algo mais que uma festa da união fraterna; é muito mais que um banquete de amigos ou que uma mesa para pobres. Não é pouco o momento de celebrar a dignidade humana, as reivindicações ou esperanças puramente terrenas. É o SACRIFÍCIO que torna Cristo realmente presente no Sacramento” (João Paulo II. 20.3.1990. aos Bispos brasileiros, na sua visita ad sacra limina).

         Por isso, é a celebração sacramental do Sacrifício do Calvário: o mesmo Sacrifício da Cruz, celebrado por Jesus, mediante o Seu ministro, autorizado por Ele a representá-Lo invisivelmente, sim, a agir em Seu Nome, na Sua Própria Pessoa.

         Sacrifício dito incruento, não porque diverso do cruento, mas porque é o mesmo, de que difere apenas na medida em que é oferecido sob as espécies do pão e do vinho,elementos que, distintamente consagrados, evidenciam simbolicamente a violenta separação do sangue do corpo da vítima imolada.

         Não é, porém, uma pura representação simbólica-comemorativa de quanto aconteceu há mais de vinte séculos, em Jerusalém. Certamente, é uma representação, mas o seu simbolismo não resolve em si ou só por si a realidade do SACRIFÍCIO: compreendemo-lo ou abrangemo-lo, refletindo em que a distinta consagração do pão e do vinho é o sinal da REAL e ATUAL MORTE DA VITIMA. Os dois elementos consagrados, de fato, já não são PÃO e VINHO, mas o próprio Cristo, com o Seu Corpo morto e o Seu Sangue derramado. Por outro lado, Cristo, como Mediador universal, não realizou o Seu Sacrifício, mas REALIZA-O, porque EXPIA os pecados cometidos da primeira à última geração humana, a respeito das quais Ele mesmo é contemporâneo, não podendo ser nunca, nem futuro nem passado para nenhuma delas.

         Três, pois, segundo o Magistério, são os pressupostos fundamentais, e entre si inseparavelmente ligados, do Sacrifício Eucarístico: o pecado de todos os tempos, atranscendência do Verbo Incarnado, a transubstanciação.

         A Missa não é a assembléia dos fiéis. Estes participam nela, mas não a celebram. E tanto isto é verdade, que a Missa é validíssima por si mesma, mesmo quando não esteja presente nenhum fiel. Nem qualquer presidente pode fazer de celebrante: mas apenas oSACERDOTE que, em virtude do Sacramento da Ordem, representa Cristo como Seu ministro.

         Representando Cristo diante do Pai, ele representa a Igreja. Seu Corpo Místico e, por conseguinte, também os fiéis que são os Seus membros. É em Cristo, pois, que é necessário fixar a atenção, uma vez que é Ele o único verdadeiro Celebrante, principal oferente ou oferecedor, como é a única verdadeira Vítima principal oferecida.

         Jesus é o próprio Verbo que, assumindo a natureza humana, lhe participa, com o Seu próprio ato de ser – filial- a infinita dignidade e poder que Lhe são próprios, como Pessoa Divina que é. Dignidade e poder que a todas as ações do HOMEM-JESUS conferem um valor imenso: precisamente aquele que é necessário para fazer de mediador capaz de reunir e conter em Si tudo quanto é criado, ou seja, de transcender e compreender ou incluir todo o curso das gerações humanas, e ser por isso o CENTRO a que todas e cada uma delas convergem, podendo assim perceber os frutos da Sua Mediação expiadora.

         Por conseguinte, se, incarnando, Ele Mesmo Se insere no tempo e Se reveste da natureza humana, sujeita-Se às suas leis e experimenta-lhes as misérias...; continua, porém, a salientar-Se e a dominar, pelo que é contemporâneo de cada indivíduo que, pecando, O faz agonizar na alma e no corpo. Portanto, a causa mais real da Sua Paixão é todo o pecador, enquanto, segundo o plano da Providência, a obra de juízes iníquos e de velhacos fanáticos tem sido apenas o instrumento e como que o símbolo das culpas humanas que, ofendendo a Deus, não tem cessado nem cessarão de trespassar o Coração de Cristo.

         Conclui-se assim, que o delito dos Judeus é como que o “signum” (sinal) de todos os pecados que, cometidos ao longo de todos os séculos, são os verdadeiros responsáveis de umaPaixão sempre em ato, ou seja, nem futura para alguns, nem passada para outros, mas sempre presente, a par da mediação do Verbo Incarnado, no centro de todos os tempos: Ele é Primeiro e Último, Alfa e Ômega, Princípio e Fim da História.

         Mais claramente: a Paixão não precede o pecado, mas segue-o, sendo este a sua causa. Não pode dizer-se que Cristo já sofreu pelas culpas do gênero humano (pelo que eu ficarei livre de pecar), porque sou precisamente eu, com as minhas culpas cometidas de um momento para o outro, que O firo. Perfeito é o sincronismo entre mim-pecador e Ele-morimbundo Jesus deixará de morrer, com o último pecado do homem.

         Para quê o Sacrifício Eucarístico?

É simples: para tornar possível à Igreja de todos os lugares e tempos, a participação na Oferta cruenta da Cruz. Ou seja, para que o pecador de todos os lugares e tempos, porque o ofender a Deus, se torne responsável da Paixão de Cristo, de forma a poder também fazer sua esta mesma Paixão, ou seja, expiar as suas culpas e deste modo se redimir ou salvar. E ele pode fazê-lo não apenas recordando uma Paixão sofrida há milhares de séculos: mas, sobretudo, instruindo ou compreendendo, à luz da fé, uma Paixão que, quanto ao seu conteúdo de mistério, perdura para além do rolar dos tempos num presente meta-histórico: precisamente a Paixão que o homem provoca em Cristo, todas as vezes que peca; aquela pela qual ele, fazendo-a sua, se reconcilia com Deus.

         A realidade dos fatos resume-se no pecado do homem e no Sacrifício de Cristo
         Sacrifício que o crente conhece pelo relato evangélico, em que está descrito tudo o que se refere aos seus elementos empíricos, conhecidos pelas testemunhas oculares da Paixão e, sobretudo, pela fé que o faz intuir ou compreender o seu sentido profundo, a sua finalidade altíssima, a sua eficácia infinita.

         Justamente aquilo que interessa à humanidade inteira, que pode elevar-se a contemplar o Mistério, apenas partindo do sensível; e daí, a necessidade de um rito externo que o revele. E eis então o SACRIFÍCIO EUCARÍSTICO. O qual, enquanto ou na medida em que renova a Última Ceia, celebra o idêntico Sacrifício da Cruz que, perfeito em si e por si irrepetível, é oferecido aos sentidos do crente pela distinta consagração do pão e do vinho,transubstanciados no Corpo e no Sangue de Cristo.

         Deste modo, a idêntica Imolação da Cruz oferece duas vertentes: uma constituída pela humanidade do Salvador, que sofre sob as aparências da natureza passível assumida pelo Verbo, tal como os Seus contemporâneos puderam observar, recordar e descrever, a nível do fenômeno ou da crônica (sub epecie própria – sob as Suas próprias espécies). A outra, sobrenatural, objeto de fé, consiste no mistério do Verbo Incarnado, Vítima de satisfação e redenção, velada sob as espécies sacramentais, ou seja, sob as naturais propriedades do pão e do vinho, distintamente consagrados (sub specie alienta – sob espécies alheias).

         E delas resulta portanto a única, intemporal, REALIDADE do Mistério sob dois diferentessinais sensíveis e temporais:
         - as carnes a jorrar Sangue de Cristo moribundo na Cruz;
         - as distintas espécies consagradas do pão e do vinho, símbolo da violenta separação do Sangue, do Corpo do Salvador.

         Trata-se, portanto, de dois sinais: o primeiro é NATURAL, perceptível pelos sentidos; o segundo é SACRAMENTAL, inteligível pela fé, que abre o crente à transcendente verdade de Cristo, Sacerdote-Vítima. Só para ele a Missa é SACRAMENTO DO SACRIFÍCIO.

         Ora, se a Imolação de Cristo apareceu uma só vez sob as espécies da Sua natureza humana dolorosa, tendo depois ressuscitado e passando a ser impassível...; verdade é que são infinitas as vezes que ela pode apresentar-se sob as espécies sacramentais, isto é, tantas quantas são as celebrações eucarísticas, permanecendo sempre:

- idêntico o sacerdote,
- idêntica a Vítima,
- idêntica a oferta que Ele faz de Si.

         Por conseguinte, se é certo que podem celebrar-se inúmeras Missas único ficará sendo sempre o Sacrifício por elas significado. Ou seja: a Muitas Missas corresponde um só Sacrifício. Portanto, a Missa, Sacramento do Sacrifício, foi instituída para que os crentes pudessem participar no Sacrifício, mediante o Sacramento, e isto em virtude datransubstanciação, pela qual o próprio Jesus, corporalmente presente (como na Cruz) Se oferece, tanto ao Pai como Vítima de expiação, como a nós, como Alimento de vida eterna, significado pelas espécies sacramentais.

         Segue-se que, faltando a transubstanciação, a Oferta cruenta do Calvário acabaria por ser uma simples recordação e um artigo de fé na qualidade de Mistério: o qual não revelado aos sentidos se não prestaria a culto externo nem à Comunhão Eucarística sinal de unidade entre os membros do Corpo Místico, necessitados do sensível para se reconhecerem, se amarem e viverem juntos.


MESA CELESTE


         “A Eucaristia, sentencia João Paulo II, é, sobretudo, um sacrifício (...) O mistério eucarístico, separado e sacramental, deixa simplesmente de existir como tal” (Domin. Cenae 9.8).

         O Papa sintetiza um cúmulo de definições do Magistério, de catequeses dos Padres da Igreja e dos comentários bíblicos da mais autorizada teologia católica. Quando se repete que a Missa é o mesmo sacrifício da Cruz, diferindo dele apenas porque o apresenta sob as espécies do pão e do vinho distintamente consagrados, não se faz mais do que afirmar que nela se não dá uma imolação nova e tão pouco uma nova imolação e da Oblação da Cruz: a liturgia eucarística não faz senão pôr o Calvário no nosso altar.

         Isto quer dizer mesmo que a Igreja não oferece um “seu” Sacrifício distinto do de Cristo, limitando-se a participar na Imolação do Calvário, a única que na realidade expia e redime. De si própria ela oferece apenas tudo quanto é necessário para a sua participação, que é depois a liturgia eucarística instituída pelo próprio Jesus naquilo que se refere ao essencial do rito.

         Ora, confundir-se-ia a verdade do dogma eucarístico, supondo que a Missa fosse apenas SACRIFÍCIO: a Igreja, seguindo a Tradição Apostólica, ensina que é também e necessariamente, BANQUETE. Trata-se, porém, de um banquete apenas comparado aosbanquetes humanos por analogia: no banquete eucarístico é oferecida ao crente uma MESA CELESTE, porque “o pão” de que se alimenta é o pão “VIVO DESCIDO DO CÉU”; “Pão” que passou a ser o próprio Corpo de Cristo, sacrificado pela salvação do mundo.

         Por isso, “o sacrifício e o sagrado banquete pertencem ao mesmo mistério, a ponto de estarem ligados um ao outro por um estreitíssimo vínculo” (Paulo VI, Euchar, Myser, 3/b).

         Uma vez admitido isto, a unidade do mistério “Sacrifício-Mesa” consente o precisar-se que a Mesa brota do Sacrifício porque imagem da comunhão de graça entre a alma e Deus, restabelecida pela Oferta da Cruz celebrada por Cristo como supremo ato de amor ao Pai e à humanidade pecadora. Por outras palavras: a consumação das espécies eucarísticas é o SINAL (símbolo) da sobrenatural assimilação dos fiéis a Cristo Crucificado, sua Cabeça, e é neste misterioso processo vital eu eles tornam a gozar (ou confirmar) a sua própria intimidade com o Pai.

         Por isso, apenas pela participação no Sacrifício de Cristo (celebrado sob as espécies do pão e do vinho) e pela conseqüente transformação mística n’Ele, é possível realizar a comunhão com Deus, prelúdio de vida eterna.

         “Mesa celeste”, por conseguinte, essencialmente diversa da mesa “terrena”. Nela, o“alimento” é o Corpo e o Sangue de Cristo, ambos realíssimos, mesmo num simples fragmento de pão e numa gota de vinho consagrados. “Alimento” insuficiente para alimentar o corpo, mas mais que abundante para saciar a alma, realizando a inefável comunhão de amor com Deus, em Cristo.
         Comunhão de amor iluminada pela fé, por sua vez sustentada pelos sentidos, pelos quais o fiel percebe as naturais propriedades do pão transubstanciado no Corpo de Cristo.

         É pela transubstanciação, de fato, que a Comunhão Eucarística é Comunhão com Cristo, Comunhão com Deus, Comunhão com o mistério da Sua Vida. O crente, pois, não se fica ou firma nas espécies sacramentais, objeto dos sentidos porque, na realidade, o impulso do seu pensamento atinge a Pessoa de Jesus. Se, comendo o pão comum, me alimento da sua substância, assimilada pelo organismo, através da percepção das suas qualidades sensíveis, não vejo por que razão não possa alimentar a minha alma, consumindo um “pão” que, apesar das aparências, já não é pão,mas o Corpo de Cristo...

         É evidente que o discurso apenas tem este sentido segundo a lógica da fé. Por conseguinte, negada a transubstanciação, a Comunhão Eucarística, que é comunhão com oVerbo-feito-carne, seria impossível; pelo que, falar de Mesa Celeste, não teria sentido algum. É intoleravelmente reduzido que alguém se firme apenas em alimentar-se espiritualmente de um pão-símbolo-de Cristo, e não de um pão-tornado-Corpo de Cristo...

         Este pressuposto pão-símbolo poderia ser alimento apenas para um homem que, em virtude da fé, prescinde do sensível; precisamente para aquele que não seria verdadeiro homem, que não viveria segundo as necessidades da sua natureza composta, essencialmente, também de um corpo, com as exigências e hábitos da vida humana e as suas insubstituíveis relações sociais...

         Jesus, segundo o dogma católico, preferiu ficar conosco segundo a Sua própria natureza humana integral que, pela transubstanciação, se oferece a todos, através do sublime simbolismo do “pão”. Que quer, pois, dizer receber a Comunhão? Como pode verificar-se o encontro dos fiéis com Cristo-Eucarístico?

a) – Recebe-a só materialmente¸ aquele que é espiritualmente indigno dela, porque vive em pecado mortal. Ele, se realmente recebe Cristo, é também certo que O ofende, porque a Eucaristia foi por Ele instituída como sinal de amizade dos crentes com Ele e entre si...;

b) – A Comunhão é recebida apenas espiritualmente, quando o encontro é realizado apenas pela fé e pelo desejo dos fiéis, que acreditam na presença real de Cristo e não podem recebê-Lo também materialmente, apenas porque impedidos por circunstâncias involuntárias;

c) – Comunhão verdadeira e completa é apenas a sacramental, que corresponde atodo o homem, alma e corpo, entendimento e sentidos, estado de graça e efetiva participação na Mesa Eucarística, precisamente como a ele mesmo Se oferece todo-o-Cristo, na totalidade ou integridade da Sua constituição ontológica, ou seja, como VEBRO INCARNADO.

         Precisando um pouco melhor: receber a Eucaristia não significa fazer a comunhão, mas sim entrar em Comunhão com Cristo-Sacramentado; o que exige o concurso de TODO O CRISTO, acolhido por TODO O HOMEM:
         - de todo-o-Cristo sacramentado, ou seja, da realidade da Sua substância corpórea, com tudo quanto ela comporta por natural concomitância;

         - por todo-o-homem, ou seja, principalmente pela sua alma, pela sua inteligência, pelo seu amor e, consequentemente, pelo seu corpo, que inclui o conteúdo externo, como cordial adesão a uma liturgia que exige palavra e canto, auscultação e atenção, gesto de súplica e de adoração...; a psicologia humana obriga a uma tal interdependência entre a alma e o corpo, entendimento e sentidos... Ilude-se quem presume elevar-se apenas com a alma; reduz-se a uma marionete quem limita o culto ao comportamento do corpo... Evidentemente que a reciprocidade destas relações é inteiramente em benefício da alma, porque a Comunhão sacramental é encontro do espírito, contemplação do pensamento, abandono do amor.

         O culto externo deve servir, ou seja, subordinar-se ao interior, virado para a Pessoa do Verbo: e é por isto que o banquete eucarístico é mesa celeste, antecipação da Bem–Aventurança Eterna.
         Se esta “mesa” abre para a comunhão com Deus em cristo, e se a comunhão é diálogo da alma com Ele, que poderá então dizer a alma a Deus e Deus à alma? A Deus, não lhe resta dizer mais nada, uma vez que chegou ao ponto de fazer-se possuir por Cristo, segundo a Verdade do Seu Verbo e a física realidade da Sua Carne.

         Carne que envolve todo o mistério cristão, sendo Carne do Verbo gerado pelo Pai, e com Ele, a soprar ou exalar o Amor: a Eucaristia contém a Trindade. Com Jesus, está também Maria, que Lhe concebeu a natureza humana; está o coro imenso dos Anjos, a indeterminada multidão dos bem-aventurados, o inteiro universo dos corpos semeados pelo espaço infinito, com a sua história, com o seu mistério. Porventura não é Ele a Síntese pessoal de todo o criado e o criável?

         Mas o crente que O recebe pode e deve lançar-se para além do invólucro das espécies sacramentais até atingir e perder-se no “seio do Pai” e participar na Sua Bem-Aventurança.
         Por conseguinte, é com todo o Seu próprio Ser que Deus fala á alma, cuja correspondência ou resposta é formulada segundo todos os graus da vida interior.
         É o “Creio, Senhor!”, possível à criança e ao adulto, ao convertido e ao místico... Todos, no silêncio, podem recolher as capacidades da alma e ficar absorvidos num comportamento de feliz admiração, de adoração, de gratidão, de oferta.

         A Hóstia consagrada é a prova tangível e mais extasiante do Amor de Deus que, no Verbo, para além de Se fazer “carne”, se oferece como Vítima no Sacrifício que, sob as espécies sacramentais, atingiu os extremos confins da matéria bruta: a Eucaristia realiza a mediação contemplativa mais poderosa que todas as outras, porque as reassume a todas. Na Hóstia consagrada, o Tudo fez-Se nada...

         E é por este misterioso aniquilamento que mesmo o último dos fiéis pode sentir-se animado ou estimulado a abrir-se com Ele: conversar sobre a Sua vivencia terrena, relembrar triunfos e rejeições, bênçãos e ultrajes, alegrias inefáveis e tristezas morais...
         Qualquer poderá reconhecer e meditar no Seu agradável e misterioso olhar, no timbre da Sua voz, na amável ou amorosa majestade dos Seus gestos, nos sublimes momentos de intimidades vividos com Sua Mãe, com os discípulos, com os amigos...

         E poderemos também espiá-Lo, enquanto, de noite, mergulha na adoração ao Pai, no mais absorvido e solene silêncio da natureza.
         Penso que Ele Mesmo Se compraz em ouvir-Se relembrar, por quem Lhe recorda os Seus discursos, os prodígios, as controvérsias com os Fariseus, as horas de angústia, a suprema desolação da Cruz, como também a Sua vitória sobre o pecado e a morte...

         Comungar com Ele significa também contar-Lhe, com inteira liberdade, as nossas desventuras, os problemas, os erros, as esperanças... como teríamos feito, se tivéssemos tido o privilégio de O encontrar e viver com Ele na Terra, acolhê-Lo em casa...

         Porém, talvez com a nossa fé de hoje, teríamos mudos, com o coração cheio de comoções, absorvidos no contemplar simplesmente o Seu Rosto, fixar-Lhe o olhar, para depois desatar a chorar e confessar-Lhe a nossa imensa ternura de pobres criaturas, apenas necessitadas da Sua Infinita Misericórdia.

         Mas, com mais razão ainda, esquecendo-nos de nós mesmos, com tudo quanto nos diz respeito e tudo quanto por Ele Mesmo foi criado, admirados ou maravilhosos com o possuir o Imenso e o Eterno, abstraindo ou esquecendo-nos de todas as sombras e imagens, preferimos perder-nos no “Seio do Pai”. Contemplar o mistério da Sua Vida, mergulhar no abismo das razões pelas quais criou o mundo e lhe dirige ou governa a história. Na inefável intimidade com Ele, no Verbo feito carne e pão, preferimos adorar, calar, gozar.

         E tudo isto, antes que nos levantemos da Sua “mesa”, para retomar o caminho, neste desolado deserto da vida.



“Ficai conosco Senhor!”

Vítima sacrificada pelos pecados do mundo e oferecida como alimento de vida eterna, Jesus fica conosco, Hóspede, Amigo, Confidente, Fonte de Graça, fiel à promessa de nos não deixar órfãos. Contra a heresia protestante, a Comunhão Eucarística não exclui que Ele prolongue a Sua presença real no Sacrário.

Os termos do dogma são inequívocos: essa presença dura, até que as espécies sacramentais se mantenham inalteradas e, por conseguinte, elas mesmas são seu “sinais” mais certo para os crentes. Comprova-o a própria impiedade dos profanadores que, embora não podendo prejudicar fisicamente a pessoa de Cristo, ofendem, no entanto, a Sua Pessoa, que está justamente presente, onde quer que as propriedades de pão indiquem presença do Seu Corpo.

Corpo ressuscitado, glorioso, impassível, mas permanecido numa condição de morte,porque sacramentalmente separado do Seu Sangue: a Vítima, morta, prolonga virtualmente o Sacrifício celebrado. No sacrário, de fato, em virtude do sinal, não temos o Ressuscitado, mas o Crucificado. Se Ele nos redimiu, morrendo (e não já ressuscitado), convinha que ficasse como nós, sob as aparências dessa Sua Morte que continua a gerar-nos para a Vida, aplicando-nos os méritos da Sua Oferta cruenta; e não cessa de ensinar-nos a levar a nossa Cruz, a morrer para nós próprios.

Atualmente, na Sua condição de “ressuscitado” o Seu Corpo (por natural concomitância), vive e sente. Corpo informado pela alma racional que pensa e ama, como o exige a eminente perfeição da natureza humana feita Sua própria pelo Verbo. Por isso, oHomem – Cristo - Jesus, no Sacrário, está inteiro ou completo como quando vivia na Palestina, e está presente para nós, como já o estava para Seus familiares e amigos.Não importa se não Se vê: os sentidos não são critério absoluto de verdade: infinitas coisas são realíssimas, muito embora não sendo por eles percebidas.

Como quer que seja, nenhum entendimento criado poderia alguma vez dar - se conta da presença eucarística: os acidentes do pão, naturalmente, autorizam-nos a supor apenas asubstância do mesmo, como único sujeito capaz de o fazer existir, comunicando-lhes o próprioato de ser ou existir. Pela transubstanciação, de fato, não falta toda a relação ontológica entre propriedades do pão e substância do Corpo de Cristo, permanecendo apenas a Palavra de Deus a assegurar-me de que esta é real, mesmo sob acidentes que Lhe não são próprios. Não vejo, aliás, porque razão Deus, Causa Primeira, com a Sua Onipotência, não possa suprir a virtude da substância do pão (causa segunda), fazendo-o de maneira que existissem as propriedades deste sem o seu natural sujeito. É este um dos aspectos essenciais do mistério eucarístico.

Por isso, onde está uma hóstia incorrupta, aí mesmo descubro e adoro todo o Cristo, com Seu Corpo, a Sua Alma, a Sua Divindade. Divindade do Verbo a quem pertence o mesmo poder realizador do Pai, e que opera mediante o instrumento da Sua humanidade.
Trata-se de uma presença, não simbólica, mas real e substancial, condicionada, quanto à Sua localização sensível, às dimensões do pão, feitas subsistir prodigiosamente para tornar possível o culto eucarístico.

Culto de adoração, se devo acreditar que a hóstia consagrada é adorável, não pelas espécies sacramentais, mas pela sustância do Corpo de Cristo, que veio substituir a do pão. Adoro-O a Ele, Pessoa divina subsistente na natureza humana, e não os acidentes do pão e do vinho, que permanecem realmente distintos de Cristo como entidades criadas, pelo que pecaria por idolatria quem as adorasse por si mesmas.

Mostraria ignorar os próprios termos do dogma, quem supusesse que a teologia católica identifica a Pessoa com o sinal. O mais humilde dos catequistas sabe que a identificação daPessoa de Cristo com o sinal sacramental, autorizaria a atribuir-Lhe a Ele Mesmo as qualidades do pão, contra tudo quanto de há séculos tem sido demonstrado sobre a impossibilidade que os acidentes do pão se tornem acidentes do Corpo de Cristo, por eucarístico ou glorioso que seja.

É por isso que, como acima se notou o Corpo de Cristo não pode ser alcançado ou atingido por agentes externos: enquanto é certo que, tal como os atos de amor Lhe são agradáveis, assim também os comportamentos hostis O ofendem.

E daqui o dever da adoração e da reparação, praticada sobretudo depois das aparições do Sagrado Coração a Santa Margarida Maria Alacoque: foi enorme o seu contributo para a vida da Igreja destes últimos séculos.
Precisamente a reparação lembrou ao mundo o significado mais sublime da Oferta cruenta da Cruz, tornada bem evidente pela liturgia eucarística. Ela mesma constitui a finalidade fundamental da mediação redentora de Cristo, em que Maria Santíssima participou num grau eminente; única de fato, foi a Sua compreensão da gravidade do pecado, como ofensa a Deus, que exige a reparação como via exclusiva da salvação...

Especialmente a partir do ano 600, a espiritualidade reparadora afirmou-se deveras, estimulando a procura ou investigação teológica, iluminando a vida pastoral, promovendo a fundação de Institutos religiosos, inspirando o próprio Magistério... A história documenta um especial florescimento de iniciativas reveladoras de uma surpreendente tomada de consciência do ministério Eucarístico, que abre as almas mais vigilantes a essa compaixão – expiadora, o aspecto mais profundo da vitalidade do Corpo Místico...

Refere-se ao Ministério Eucarístico a habitual linguagem dos Santos, absortos até a loucura, pela Sua realidade, indicada (não constituída) pelas espécies consagradas... É justamente a linguagem da Igreja docente que, elabora pela mais prudente e ajuizada ou penetrante teologia de todos os tempos, foi feita justamente pelo atual Pontífice, o mais autorizado intérprete da Tradição eclesial (Estamos nesse momento em 1994)

“ A visita ao Santíssimo Sacramento (havia declarado João Paulo II, no dia 29 de setembro de 1979) é um grande tesouro da Igreja Católica. Ela mesma alimenta o amor social e oferece-nos a possibilidade de adorar, de agradecer, de reparar e de suplicar. A benção com o Santíssimo Sacramento, as Horas Santas e as Procissões Eucarísticas são outros tantos e bem preciosos elementos da (nossa) herança, em pleno acordo com os ensinamentos do Concílio Vaticano II (...).

Cada ato de reverência, cada genuflexão que fazemos diante do Santíssimo Sacramento é importante, porque é um ato de fé em Cristo, um ato de amor a Cristo. “E cada sinal da cruz, todo gesto de respeito feito cada vez que passamos diante de uma igreja, é também um ato de fé...”.

E como poderia justificar-se um tal culto, se a presença eucarística não fosse real e adorável? Só atuando com uma tal presença Jesus nos pôde ter prometido que nos não iria deixar órfãos. Presença pela qual Se fez “alimento” e “bebida” das almas, realizando entre Si e nós essa inefável simbiose de graça, desejada e cobiçada por todos quantos O amam...

De resto, só uma presença devida à transubstanciação do pão e do vinho sob as distintas espécies dos dois elementos pôde tornar-nos participantes do Seu Sacrifício... Só a instituição do Sacramento, culme da super-Realidade de Cristo nos consentiu conviver com Ele, contempla-Lo nos nossos Sacrários, e devolver-Lhe amor pelo AMOR.

Primeira Conclusão:

A EUCARISTIA É TUDO

            A afirmação corresponde rigorosamente à verdade objetiva do dogma. Se a Eucaristia é o próprio Jesus na condição sacramental que atinge ou resume o seu mistério, é fácil intuir que o Cristianismo tira dela a consistência ontológica e histórica que o faz evidenciar ou sobrepor a todas as religiões do mundo.

         Na realidade, a Eucaristia compendia ou reassume todas as verdades reveladas, é a única fonte da graça, é a antecipação da bem-aventurança, recapitulação ou sumário de todos os prodígios da Onipotência.

         Como na encarnação, o Verbo Se não separou do Pai, nem do Espírito Santo; assim também, sob as espécies sacramentais, a vida trinitária arde em toda a sua misteriosa riqueza.Na hóstia Consagrada está todo o Paraíso. A solidão e o abandono de inúmeros Sacrários da Terra é compensada desmesuradamente pela adoração dos Anjos, pelo amor dos bem-aventurados. No gelado silêncio das nossas igrejas, com Jesus, permanecem inseparavelmente a Virgem Maria e São José, exultam os Patriarcas e os Profetas, rejubilam os Apóstolos e os Mártires, cantam em coro os Santos e a multidão incontável dos justos.

         Seria verdadeiramente absurdo supor que o Rei não fosse acompanhado e louvado pela Sua corte...; que no Mediador não convergissem os seres do Universo inteiro... Ele embora sob as dimensões de um fragmento de matéria é o Arquétipo, o Fim de toda a Criação.

         E é justamente a Sua condição sacramental que, velando o poder e a Glória de Cristo Ressuscitado, que evidencia a Sua Imolação, qual milagre dos milagres do Amor de Deus: na Eucaristia, está encerrado todo o bem espiritual da Igreja” ( Presbit. Ordinis, 5). Ela é “o culme e fonte de todo o culto e da vida cristã” ( Código do Directo Canônico, Cân. 897); “é como que a soma e o Centro da Sagrada Liturgia” (Pio XII, Méd. Dei, 57).

         Por isto, “entre todos os Sacramentos, é a Santíssima Eucaristia que leva a plenitude, a iniciação do cristão” (João Paulo II. Dominicae Cenae, 7); é por ela que este se insere plenamente no Corpo Místico (Presbit. Ordinis, 5). Por isso, fim e perfeição de todos os Sacramentos”, é a Eucaristia: eles conferem a graça que torna os fiéis dignos de a receber” (São Tomás de Aquino, Summa Theológica, q.73, art. 3, c).

         Por outro lado, Fonte de Graça distribuída pelos Sacramentos, é a vítima sacrificada na Cruz e tomada evidente pelas espécies eucarísticas do Sacramento dos Sacramentos. Por conseguinte, “a Eucaristia constrói a Igreja” (João Paulo II, Dominicae Cenae, 4), é o Centro da comunidade dos cristãos” (Presbit. Ordinis, 5); representa e produz “a unidade dos fiéis que constituem um só Corpo em Cristo” (Lumen Gentium, 3)

         Segue-se que “não é possível que se forme uma comunidade cristã, a não ser tendo como raiz e como fundamento ou base, a celebração da Sagrada Eucaristia, da qual deve pois tomar as ações ou iniciativas qualquer educação tendentes a formar o espírito de comunidade (Presbit. Ordinis, 6).

         Se para a Igreja, é isto mesmo a Eucaristia, a eficácia da atividade missionária está necessariamente condicionada à sua influência, sendo Fonte e Cume de toda a evangelização” (iv. 5). Por isso, a fé no mistério eucarístico, considerado em toda a sua riqueza que faz dele a síntese da Revelação Cristã, inclui uma tal ortodoxia que, ao católico, a seu respeito, não lhe resta nada mais que acreditar em nada a esperar senão dela.

         Em suma, “A Eucaristia tem força ou virtude de síntese na nossa religião; síntese doutrinal porque, sendo ela quase um prolongamento da Incarnação do Verbo de Deus no meio de nós, e sendo uma renovação sacramental do Sacrifício Redentor de Cristo, TODA A REVELAÇÃO SE CONCENTRA NESTE PONTO FOCAL, o mais misterioso e o mais luminoso da nossa fé, e síntese existencial, porque neste Sacramento do Pão do Céu, toda a realidade, toda a virtude, toda a derivação da vida cristã encontra a sua referência e o seu alimento...” (Paulo VI, Catechesi, 21.8.1968, para o XXXIX Congresso Eucarístico Internacional de Bogotá, em 18 a 25 de Agosto de 1968).
         “Encontrareis tudo na Eucaristia: a palavra de fogo, a ciência e os milagres!”, respondia São P. G Eymard, a quem se lhe dirija, para obter graças.

         “NÃO TENHO MAIS NADA A DAR-VOS. TENDES A EUCARISTIA: QUE MAIS QUEREIS?”. “DEPOIS DELA, NÃO HÁ MAIS QUE O CÉU!”
          
Segunda conclusão:

EUCARISTIA OU NADA

Uma afirmação destas só tem sentido para os crentes, que não são, nem os ateus que não crêem em Deus, nem os Hebreus e os Muçulmanos, que não crêem em Cristo, nem osProtestantes, que não crêem na Igreja Católica, Apostólica, Romana.

         Dirijo-me, pois, aos membros desta, eclesiásticos e leigos, para concluir, com uma série de considerações radicais, próprias para fazer pensar a sério, para decidir de uma vez para sempre, qual deve ser o comportamento de cada um nos seus confrontos com o Cristianismo, de adesão ou de rejeição.

         O dogma eucarístico, tal como é proposto, explicado, definido e vivido na Igreja, desde a sua origem, implica a fé na verdadeira, real e substancial PRESENÇA DE CRISTO.

         É este o ponto de que parto. Trata-se do dogma mais conhecido e discutido, tendo empenhado a reflexão teológica há mais de um milênio... Para o mesmo convergem todos os atos de culto. Verdade é que ele é o fundamento insuprimível da vida espiritual dos fiéis, o Centro de que irradiam todas as iniciativas e formas do dinamismo eclesial.

         E então: se a presença de Cristo nos nossos sacrifícios não é real, no sentido defendido pelo Magistério contra o Protestantismo, A Igreja Católica não tem nenhuma razão de existir. Nas hipóteses, esta seria o produto da mais colossal impostura.

            - Aludindo à presença real, derivada unicamente da transubstanciação, o pãoconsagrado reduzir-se-ia a um símbolo de Cristo e o pão ficaria apenas pão, mesmo que as palavras da consagração lhe tivessem conferido um significado e uma virtude que ele antes não tinha.

         - Negada a transubstanciação, não se daria a real presença de Cristo, COMO PRINCIPAL SACERDOTE OFERENTE A PRINCIPAL VÍTIMA OFERCIDA. A Missa, por isso, não seria a celebração sacramental do único, perfeito e irrepetível Sacrifício da Cruz. Através do simbolismo do pão consagrado, a Missa não seria senão a memória daquilo que aconteceu no Calvário. O rito, nessa hipótese, não seria celebrado por Cristo-Cabeça; mas pela Igreja-Corpo, que se limita a recordar aquilo que fez Cristo-Cabeça.

         - A Missa, se não é idêntico Sacrifício da Cruz, sacramentalmente oferecido, não exige nenhum sacerdote que a celebre na Pessoa de Cristo... concluir-se-ia que todos os fiéis seriam ou estariam autorizados a reevocá-lo, mesmo que sob a direção de alguém, digno e capaz de fazer as funções de presidente da assembléia.

         - Na Igreja Católica, a Hierarquia é fundada no Sacerdócio Ministerial. Todos os seus poderes, de fato brotam daquilo que, em virtude do Sacramento da Ordem, torna o presbítero capaz de realizar ou atualizar a obra expiadora e redentora realizada por Cristo com o Sacrifício da Cruz, suprema fonte de todo o bem, ou seja, de toda a luz da verdade e de toda a graça necessária para viver santamente e salvar-se: a faculdade de ensinar e degovernar não tende para outra coisa.

         - Por conseguinte, se não se desse O SACERDÓCIO MINISTERIAL, não se daria sequer Hierarquia: aquela que, na Igreja, para além de dirigir, resolve infalivelmente, em nome de Cristo, todos os fundamentais problemas da fé e da moral.

         - Em tal hipótese, à supressão do sacerdócio e da hierarquia, seguir-se-ia o toldar ou apagar-se a luz da Revelação positiva, desde sempre interpretada e proposta pelo magistério infalível da Igreja, assistida pelo Espírito de Sua Cabeça invisível, Cristo, Sacerdote e Vítima, Pastor e Mestre da Verdade.

         - Faltando o magistério da Igreja, termos o verdadeiro ocaso da civilização cristã, pelo que o mundo voltaria à condição espiritual em que vivia antes de Cristo, e na qual, depois, se veio a encontrar, sempre que tem rejeitado a Sua mediação redentora, contando apenas consigo, ou seja, esbracejando na escuridão, na ignorância e na angústia da dúvida, que têm gerado interpretações, as mais contraditórias e absurdas, dos máximos problemas da existência... Ficando inteiramente subjugado ou esmagado sob a tempestade de paixões que o aviltam, até ao próximo embrutecimento, o exaltam até a loucura e à violência, que tudo desagrega e aniquila.

         Estas reflexões são destinadas a todos os fiéis, mas, sobretudo ao Clero: aquilo que costuma fazer boa figura na teologia protestante, que invade os centros católicos de estudo, propaga-se através de revistas e jornais, incarna-se numa prática litúrgica que insensivelmente, por culpa de pastores desprevenidos, vai cada vez mais escurecendo a consciência do povo, ao redor do mais sublime de todos os mistérios cristãos. Escrevi, não tanto como crente e teólogo, mas como historiador devidamente informado de dados absolutamente certos e definidos pela lógica que os coordena de um modo irrefutável.

         Dirijo-me, repito, sobretudo aos sacerdotes:

            - Que tratam Cristo-Eucarístico como um objeto, reduzindo-lhe a realidade substancial e pessoal a um vazio “símbolo”;
               - Que rejeitam o caráter sacrificial da Missa, para celebrar triunfalisticamente uma Ressurreição de Cristo que é apenas efeito da Sua morte;
- Que jamais compreenderam nem apreciaram o seu próprio sacerdócio, cuja dignidade os faz salientar-se ou elevar-se acima de todos os fiéis, com os quais, pelo contrário, demagogicamente, se comprazem em apresentar-se como sendo do mesmo nível; não aceitam a Hierarquia Eclesiástica, fundada na Ordem sagrada, pela qual os seus membros são autorizados a representar, como Seus ministros, Cristo-Cabeça do Corpo Místico e continuar assim a Sua obra redentora, ensinado, santificando e governando.

         A todos estes, digo:

“Vós, não acreditando no vosso sacerdócio, não tendes autoridade alguma sobre os fiéis, pelo que deveis renunciar ao vosso ministério e deixar assim de enganar o povo que vos segue, apenas porque vos considera ministros de Cristo, membros da Hierarquia. Se, não acreditando no vosso sacerdócio, vos pondes ao nível de todos os comuns crentes e por isso mesmo não podeis constituir uma categoria de pessoas de respeito, com privilégios e isenções perante o Estado, sem que vos distingas dos outros cidadãos, ou de seguidores ou sequazes de outras confissões religiosas...”.

         Se não estais conscientes, nem ciosos do vosso sacerdócio ministerial, o estudo dateologia como ciência de Deus que é, não é um dever para vós; pelo que podeis e deveis procurar uma outra via de cultura, pelo menos para salvar o vosso decoro pessoal e assim encontrardes com que descortinardes um outro meio de subsistência, como todos os honestos e honrados cidadãos.

         “Vós, se presumis ensinar em nome da Igreja Católica, ficai sabendo que as vossas convicções podem apenas arruína-la ou destruí-la, fazendo-a atacar como a mais iníqua sociedade humana, que há milênios, abusando da ignorância e da boa fé de milhões de criaturas, teria humilhado a todos, a ponto de impor que se preste um culto de latria a humildes alimentos da mesa humana.

         Foi por isso que a Igreja, por culpa vossa, sofreu, no decurso dos séculos, a repressão dos Governos, decididos a atingir-vos principalmente a vós, como os mais ignóbeis charlatães e parasitas da sociedade civil. Se vós disserdes, ou fizerdes compreender, ao público, que no Sacramento do altar, não está ninguém, todos ficarão autorizados a condenar-vos como os mais ímpios mistificadores da história.


DESPEDIDA


Termino um livro de estudo, não de caráter devocional, mesmo que o assunto me tenha obrigado às vezes a deter-me para refletir e adorar.
         Mas isso foi deveras provocado pela persistente ação agressiva atirada contra o Ministério Eucarístico, por alguns pretensos teólogos e liturgistas católicos, seguidos por uma corrente do Clero que contagia fiéis menos avisados ou informados e feverosos, defendendo a pior interpretação e aplicação da reforma litúrgica.

         O tom francamente decidido do escrito, corresponde à sua obra subversiva, o mais possível insidiosa ou astuta, insinuante e gradual, aparentemente respeitadora e delicada.
         Para torná-la mais eficaz junto da opinião pública, costumam ou escolheram eles mesmos classificar de tendências direitistas, tradicionalistas e lefebristas, todos quantos os contestam, presumindo ser apenas eles os únicos sábios, moderados, abertos ao espírito do Vaticano II, informados do seu ecumenismo.

         Mesmo que o Concílio, de índole prevalentemente pastoral, se tenha limitado a confirmar a anterior magistério solene e ordinário da Igreja, os novos profetas mostram não saber que, na área da única verdade autêntica, não se dá, nem direita nem esquerda... Mas sim que a Tradição por nós invocada é fonte da Palavra de Deus... Que verdadeiro ecumenismo é apenas abertura aos não crentes orientada no sentido de propagar a fé sempre propagada pela Igreja Católica..., e que a pessoa e obra de Mons. Lefebre não tem nada senão a ver com uma exposição doutrinal empenhada unicamente a defender a Verdade e a sintonizar com a Tradição.

          De todos aceito e agradeço apenas a indicação de algum involuntário desvio da via indicada pelo Magistério, à luz de uma documentação de tal modo conhecida, que me pareceu até supérfluo citar uma vez ou outra.
         E não menos agradecerei algum revelo crítico a respeito da elaboração especulativa do dogma. Não me bastou acreditar, tendo também querido compreender, pelo menos quanto basta para não embater ou chocar contra evidentes princípios da razão.

         É precisamente a “fides quaerenes intelectun”, em que Santo Agostinho me precedeu(Sermão 43,c.7,n.9 PL38,258). O seu mesmo ardor na procura da verdade me estimulou a enfrentar problemas particularmente árduos: “Rapinur amoe indagandar veritatis” (De Trinit. I c.5, n.8, PL42, 825).

         E na fadiga, ás vezes duríssima, ajudaram-me as grandes asas da autoridade e darazão: “Nulli autem dubium est gemino pondere nos impelli ad discendum, AUCTORITATIS ATQUERATIONIS”. (Contra Academ. III c. 20, PL 32 957).

         Finalmente, não hesito em declarar que, para conduzir a investigação com a devida seriedade no sulco da tradição patrística, preferi manter-me fiel ao mais genuíno tomismo, segundo a recomendação do Vaticano II.
         A falta de citações de São Tomás, em preciosos textos que lhe são bem próprios, mas que teriam alongado e sobrecarregado a exposição, é substituída pelas notas acrescentadas a este texto, que seguidamente publico a jeito de apêndice, oferecendo aos mais motivados e empenhados a possibilidade de ampliar e aprofundar a investigação.

         O sóbrio e límpido estilo de São Tomás consentirá a todos a surpresa de descer ao próprio CORAÇÃO do Corpo Místico, e perder-se na dimensão infinita do seu amor:

         “Ó pastor e pastagem,
            Sacerdote e Sacrifício,
            Alimento e Bebida dos eleitos,
            Pão e Vinho, alimento do espírito,
            Remédio na Enfermidade quotidiana,
            Mesa suavíssima!...”. (Sermão da festa do Corpo de Cristo)

         Não surpreende que os adversários do dogma eucarístico sejam ainda, na pista de Lutero, sobretudo os teólogos mais irredutivelmente hostis a São Tomás.

Planeta Brasileiro