Sejam Bem-Vindos!

"É uma grandiosíssima calúnia dizer que tenho revoltas contra a Igreja. Eu nunca tive dúvidas sobre a Fé Católica, nunca disse nem escrevi, nem em cartas particulares, nem em jornais, nem em quaisquer outros escritos nenhuma proposição falsa, nem herética, nem duvidosa, nem coisa alguma contra o ensino da Igreja. Eu condeno tudo o que a Santa Igreja condena. Sigo tudo o que ela manda como Deus mesmo. Quem não ouvir e obedecer a Igreja deve ser tido como pagão e publicano. Fora da Igreja não há salvação."
Padre Cícero Romão Batista

Liturgia

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Nota: A palavra "festa", no gráfico, não indica o grau litúrgico da celebração, mas apenas seu sentido genérico.
CONSIDERAÇÕES INICIAIS
01 - Chama-se Ano Litúrgico o tempo em que a Igreja celebra todos os feitos salvíficos operados por Deus em Jesus Cristo. "Através do ciclo anual, a Igreja comemora o mistério de Cristo, desde a Encarnação ao dia de Pentecostes e à espera da vinda do Senhor" (NUALC nº 43 e SC nº 102).
02 - Ano Litúrgico é, pois, um tempo repleto de sentido e de simbolismo religioso, de essência pascal, marcando, de maneira solene, o ingresso definitivo de Deus na história humana. É o momento de Deus no tempo, o "kairós" divino na realidade do mundo criado. Tempo, pois, aqui entendido como tempo favorável, "tempo de graça e de salvação", como nos revela o pensamento bíblico (Cf. 2Cor 6,2; Is 49,8a).
03 - As celebrações do Ano Litúrgico não olham apenas para o passado, comemorando-o. Olham também para o futuro, na perspectiva do eterno, e fazem do passado e do futuro um eterno presente, o "hoje" de Deus, pela sacramentabilidade da liturgia (Cf. Sl 2,7; 94(95)7; Lc 4,21; 23,43). Aqui, enfatiza-se então a dimensão escatológica do Ano Litúrgico.
04 - O Ano Litúrgico tem como coração o Mistério Pascal de Cristo, centro vital de todo o seu organismo. Nele palpitam as pulsações do coração de Cristo, enchendo da vitalidade de Deus o corpo da Igreja e a vida dos cristãos.

TEMPO CÓSMICO E VIDA HUMANA
05 - Como sabemos, a comunidade humana vive no tempo, sempre em harmonia com o ano natural ou cósmico, com as mudanças básicas e salutares das quatro estações climáticas. Estas como que dinamizam a vida humana, quebrando-lhe toda possível rotina existencial. A pessoa é, pois, chamada a viver toda a riqueza natural da própria estação cósmica. Na organização da sociedade humana, o ano cósmico é chamado ano calendário ou ano civil. Nele, as pessoas, em consenso universal, desenvolvem as tarefas da atividade humana.

ANO LITÚRGICO E PROJETO DE DEUS
06 - Como a vida humana, no seu aspecto natural, se desenvolve no clima salutar do ano cósmico, assim também a vida cristã, na plena comunhão com Deus, vai viver o projeto do Senhor numa dinâmica litúrgica própria de um ano específico, chamado, como vimos, Ano Litúrgico.
07 - O Ano Litúrgico não deve, porém, ser visto como um concorrente do ano civil, porque, mesmo este, é um dom do Criador. Deus, inserindo-se no tempo, através de Cristo, pela Encarnação, santificou ainda mais o tempo. Por isso, todo o tempo se torna também tempo de salvação.

SIMBOLISMO DO ANO LITÚRGICO
08 - O Ano Litúrgico tem no círculo a sua simbologia mais expressiva, pois o círculo é imagem do eterno, do infinito. Notamos isso, olhando uma circunferência. Ela não tem começo nem fim, pois, nela, o fim é um retorno ao começo. Não, porém, um retorno exaustivo, rotineiro, mas verdadeiramente um começo sempre novo, de vitalidade essencial.
09 - O círculo é, pois, imagem da vida eterna, e a vida eterna, como sabemos, não clama por progresso, visto não existir na eternidade carência, de forma alguma. A vida eterna - podemos afirmar - permanece em constante plenitude.
10 - Cada ano litúrgico, que celebramos e vivemos, deve ser um degrau que subimos rumo à eternidade do Pai. Em outras palavras, deve ser um crescendo cada vez mais vivo rumo à pátria celeste. Celebrar o Ano Litúrgico é como subir a montanha de Deus, não de maneira esportiva, como alpinista, mas como peregrino do Reino, onde, a cada subida, sente-se mais perto de Deus.

RITMO CÓSMICO DO ANO LITÚRGICO
11 - Como se sabe, o ano civil está inteiramente identificado com o ciclo solar, regendo-se pelos ditames das quatro estações, mas marcado também pelo movimento lunar, onde se contam as semanas. Ano, mês e dia, como frações do tempo, aqui se harmonizam, no desenvolvimento da vida humana.
12 - Na datação cósmica do Ano Litúrgico, seguindo a tradição judaica, os cristãos, no Hemisfério Norte, vão escolher, para a celebração anual da Páscoa, o equinócio da primavera, por este ser ponto de equilíbrio, de harmonia, de duração igual da noite e do dia, de equiparação, pois, entre horas de luz e horas de escuridão, momento de surgimento de vida nova na natureza e de renascimento da vida. Além da estação das flores, no Hemisfério Norte há ainda o simbolismo suplementar da lua cheia, dando a entender que, na ressurreição de Cristo, o dia tem vinte e quatro horas de luz.
13 - No Hemisfério Sul, onde vivemos, não estaremos contudo celebrando a Páscoa na primavera, mas no outono, dada a inversão do equinócio nos dois hemisférios. Daí, a polêmica entre estudiosos da liturgia, os quais reclamam uma data universal, fixa, para a Páscoa, não levando em conta a situação lunar, mas a solar. A Igreja está estudando essa problemática que, ao que tudo indica, virá no futuro.
14 - Nota explicativa: A Igreja, hoje, celebra a Páscoa não no dia quatorze do mês de Nisã, isto é, na data da páscoa judaica, como celebravam os cristãos da Ásia Menor e da Síria, mas no domingo seguinte, acabando assim com a controvérsia pascal do século segundo, por determinação do Concílio de Nicéia.
15 - Para a celebração do Natal, a evolução litúrgica vai escolher outro núcleo do ano. Este outro momento é o solstício de inverno, o "dies natalis solis invictus", ou seja, o "dia de nascimento do sol invicto". Isto também no Hemisfério Norte, pois, no Hemisfério Sul, nós nos encontramos em pleno verão. Neste tempo, os dias começam a crescer, e o sol, parecendo exausto e exangue, depois de uma longa marcha anual, renasce vivo e surpreendente. É neste contexto, do "Sol Invicto", solsticial, que vai aparecer na face da Terra "o verdadeiro Sol Nascente" (Cf. Lc 1,78), isto é, Cristo Jesus Nosso Senhor. Também a antífona da Liturgia das Horas, do dia 24 de dezembro, inspirando-se no Sl 19,5-6, na sua realidade cósmico-histórico-salvífica, vai cantar belamente: "Quando o sol sair, vereis o Rei dos reis que vem do Pai, como o esposo sai da sua câmara nupcial".

QUANDO SE INICIA O ANO LITÚRGICO?
16 - Diferente do ano civil, mas, como foi dito, não contrário a ele, o Ano Litúrgico não tem data fixa de início e de término. Sempre se inicia no primeiro Domingo do Advento, encerrando-se no sábado da 34ª semana do Tempo Comum, antes das vésperas do domingo, após a Solenidade de Cristo Rei do Universo. Esta última solenidade do Ano Litúrgico marca e simboliza a realeza absoluta de Cristo no fim dos tempos. Daí, sua celebração no fim do Ano Litúrgico, lembrando, porém, que a principal celebração litúrgica da realeza de Cristo se dá sobretudo no Domingo da Paixão e de Ramos.
17 - Mesmo sem uma data fixa de início, qualquer pessoa pode saber quando vai ter início o Ano Litúrgico, pois ele se inicia sempre no domingo mais próximo de 30 de novembro. Na prática, o domingo que cai entre os dias 27 de novembro e 3 de dezembro. A data de 30 de novembro é colocada também como referencial, porque nela a Igreja celebra a festa de Santo André, apóstolo, irmão de São Pedro, e Santo André foi, ao que tudo indica, um dos primeiros discípulos a seguir Cristo (Cf. Jo 1,40).

ANO LITÚRGICO E DINÂMICA DA SALVAÇÃO
18 - Tendo como centro o Mistério Pascal de Cristo, todo o Ano Litúrgico é dinamismo de salvação, onde a redenção operada por Deus, através de Jesus Cristo, no Espírito Santo, deve ser viva realidade em nossas vidas, pois o Ano Litúrgico nos propicia uma experiência mais viva do amor de Deus, enquanto nos mergulha no mistério de Cristo e de seu amor sem limites.

O DOMINGO, FUNDAMENTO DO ANO LITÚRGICO
19 - O Concílio Vaticano II (SC nº 6), fiel à tradição cristã e apostólica, afirma que o domingo, "Dia do Senhor", é o fundamento do Ano Litúrgico, pois nele a Igreja celebra o mistério central de nossa fé, na páscoa semanal que, devido à tradição apostólica, se celebra a cada oitavo dia.
20 - O domingo é justamente o primeiro dia da semana, dia da ressurreição do Senhor, que nos lembra o primeiro dia da criação, no qual Deus criou a luz (Cf. Gn 1,3-5). Aqui, o Cristo ressuscitado aparece então como a verdadeira luz, dos homens e das nações. Todo o Novo Testamento está impregnado dessa verdade substancial, quando enfatiza a ressurreição no primeiro dia da semana (Cf. Mt 28,1; Mc 16,2; Lc 24,1; Jo 20,1; como também At 20,7 e Ap 1,10).
21 - Como o Tríduo Pascal da Morte e Ressurreição do Senhor derrama para todo o Ano Litúrgico a eficácia redentora de Cristo, assim também, igualmente, o domingo derrama para toda a semana a mesma vitalidade do Cristo Ressuscitado. O domingo é, na tradição da Igreja, na prática cristã e na liturgia, o "dia que o Senhor fez para nós" (Cf. Sl 117(118),24), dia, pois, da jubilosa alegria pascal.

AS DIVISÕES DO ANO LITÚRGICO
22 - Os mistérios sublimes de nossa fé, como vimos, são celebrados no Ano Litúrgico, e este se divide em dois grandes ciclos: o ciclo do Natal, em que se celebra o mistério da Encarnação do Filho de Deus, e o ciclo da Páscoa, em que celebramos o mistério da Paixão, Morte e Ressurreição do Senhor, como também sua ascensão ao céu e a vinda do Espírito Santo sobre a Igreja, na solenidade de Pentecostes.
23 - O ciclo do Natal se inicia no primeiro domingo do Advento e se encerra na Festa do Batismo do Senhor, tendo seu centro, isto é, sua culminância, na solenidade do Natal. Já o ciclo da Páscoa tem início na Quarta-Feira de Cinzas, início também da Quaresma, tendo o seu centro no Tríduo Pascal, encerrando-se no Domingo de Pentecostes. A solenidade de Pentecostes é o coroamento de todo o ciclo da Páscoa.
24 - Entremeando os dois ciclos do Ano Litúrgico, encontra-se um longo período, chamado "Tempo Comum". É o tempo verde da vida litúrgica. Após o Natal, exprime a floração das alegrias natalinas, aí aparecendo o início da vida pública de Jesus, com suas primeiras pregações. Após o ciclo da Páscoa, este tempo verde anuncia vivamente a floração das alegrias pascais. Os dois ciclos litúrgicos, com suas duas irradiações vivas do Tempo Comum, são como que as quatro estações do Ano Litúrgico.
25 - Mais adiante estudaremos cada parte do Ano Litúrgico, com sua expressividade própria, suas celebrações, sua dinâmica e seu mistério.

O "SANTORAL" OU "PRÓPRIO DOS SANTOS"
26 - Em todo o Ano Litúrgico, exceto nos chamados tempos privilegiados (segunda parte do Advento, Oitava do Natal, Quaresma, Semana Santa e Oitava da Páscoa), a Igreja celebra a memória dos santos. Se no Natal e na Páscoa, Deus apresenta à Igreja o seu projeto de amor em Cristo Jesus, para a salvação de toda a humanidade, no Santoral a Igreja apresenta a Deus os copiosos frutos da redenção, colhidos na plantação de esperança do próprio Filho de Deus. São os filhos da Igreja, que seguiram fielmente o Cristo Senhor na estrada salvífica do Evangelho. Em outras palavras, o Santoral é a resposta solene da Igreja ao convite de Deus para a santidade.

AS CORES DO ANO LITÚRGICO
27 - Como a liturgia é ação simbólica, também as cores nela exercem um papel de vital importância, respeitada a cultura de nosso povo, os costumes e a tradição. Assim, é conveniente que se dê aqui a cor dos tempos litúrgicos e das festas. A cor diz respeito aos paramentos do celebrante, à toalha do altar e do ambão e a outros símbolos litúrgicos da celebração. Pode-se, pois, assim descrevê-la:
 Cor roxa
Usa-se: No Advento, na Quaresma, na Semana Santa (até Quinta-Feira Santa de manhã), e na celebração de Finados, como também nas exéquias.
 Cor branca
Usa-se: Na solenidade do Natal, no Tempo do Natal, na Quinta-Feira Santa, na Vigília Pascal do Sábado Santo, nas festas do Senhor e na celebração dos santos. Também no Tempo Pascal é predominante a cor branca.
 Cor vermelha
Usa-se: No Domingo da Paixão e de Ramos, na Sexta-Feira da Paixão, no Domingo de Pentecostes e na celebração dos mártires, apóstolos e evangelistas.
 Cor rosa
Pode-se usar: No terceiro Domingo do Advento (chamado "Gaudete") e no quarto Domingo da Quaresma chamado "Laetare"). Esses dois domingos são classificados, na liturgia, de "domingos da alegria", por causa do tom jubiloso de seus textos.
 Cor preta
Pode-se usar na celebração de Finados
 Cor verde
Usa-se: Em todo o Tempo Comum, exceto nas festas do Senhor nele celebradas, quando a cor litúrgica é o branco.
Nota explicativa: Se uma festa ou solenidade tomar o lugar da celebração do tempo litúrgico, usa-se então a cor litúrgica da festa ou solenidade. Exemplo: em 8 de dezembro, celebra-se a Solenidade da Imaculada Conceição. Neste caso, a cor litúrgica é então o branco, e não o roxo do Advento. Este mesmo critério é aplicável para a celebração dos dias de semana.

ESTRUTURA CELEBRATIVA E PEDAGÓGICA DO ANO LITÚRGICO
28 - Como se vê pelo gráfico, e como já foi referido neste trabalho, o Ano Litúrgico se divide em dois grandes ciclos: Natal e Páscoa. Entre eles situa-se o Tempo Comum, não os separando, mas os unindo, na unidade pascal e litúrgica.
29 - Em cada ciclo há três momentos, de grande importância para a compreensão mais exata da liturgia. São eles: um, de preparação para a festa principal; outro, de celebração solene, constituindo assim o seu centro; e outro ainda, de prolongamento da festa celebrada.
30 - No centro do Ano Litúrgico encontra-se Cristo, no seu Mistério Pascal (Paixão, Morte e Ressurreição). É o memorial do Senhor, que celebramos na Eucaristia. O Mistério Pascal é, portanto, o coração do Ano Litúrgico, isto é, o seu centro vital.
31 - O círculo é um símbolo expressivo da eternidade, e o Mistério Pascal de Cristo, no seu centro, constitui o eixo fundamental sobre o qual gira toda a liturgia.

ESTUDO PORMENORIZADO DE CADA CICLO COM SUAS CELEBRAÇÕES
CICLO DO NATAL
32 - Vejamos agora um pouco de cada momento do ciclo natalino, afim de se ter uma noção mais exata.
Preparação: Advento
Celebração: Natal
Prolongamento: Tempo do Natal
 Advento
33 - O Advento é um tempo forte na Igreja, onde nos preparamos para a celebração do Natal. Tem duas características, marcadas por dois momentos. O primeiro vai do primeiro domingo do Advento até o dia 16 de dezembro. Neste primeiro momento, a liturgia nos fala da segunda vinda do Senhor no fim dos tempos, a chamada escatologia cristã. Já o segundo momento vai do dia 17 ao dia 24 de dezembro. É como que a "semana santa" do Natal. Neste período, a liturgia vai nos falar mais diretamente da primeira vinda do Senhor, no Natal.
34 - No Advento temos quatro domingos, o terceiro chamado "Gaudete", isto é, domingo da alegria.
Podemos dizer que os quatro domingos do Advento simbolizam os quatro grandes períodos em que Deus preparou a humanidade, de maneira progressiva, para a grande obra da redenção em Cristo. Esses quatro períodos são: 1º) O tempo que vai de Adão a Noé - 2º) O tempo de Noé a Abraão - 3º) O tempo de Abraão a Moisés - e 4º) O tempo que vai de Moisés a Cristo. Com Abraão começa, historicamente, a caminhada da salvação (Cf. Gn 12).
35 - Os quatro domingos simbolizam também as quatro estações do ano solar e as quatro semanas do mês lunar. Aqui se pode ver a harmonia entre tempo histórico e tempo cósmico. Também a coroa do Advento, em sua forma circular, com suas quatro velas, quer chamar nossa atenção, já no início do Ano Litúrgico, para o mistério de Deus que nele vamos celebrar. A cor verde dos ramos da coroa (pinheiro, principalmente), fala do mistério cristão, que nunca perde o seu verdor, e simboliza então a esperança e a vida eterna.
36 - Três personagens bíblicos marcam o tempo do Advento. São eles: o profeta Isaías, São João Batista e a Virgem Mãe de Deus. Não é tempo penitencial, no sentido próprio e litúrgico, mas tempo de expectativa, de moderação e de esperança. Por isso, a cor roxa não é muito apropriada para o Advento, mas, oficialmente, ela é a que se deve usar, como foi esclarecido no número 27 deste trabalho.
 Natal
37 - O Natal é a celebração principal de todo o ciclo natalino. Constitui portanto o seu centro. Cristo nasce em Belém da Judéia, em noite fria (inverno), mas traz do céu o calor vitalizante da santidade de Deus, em mensagem de paz dirigida sobretudo aos pobres, com quem se identifica mais plenamente, cumulando-os das riquezas do Reino. Sua "noite feliz" sinaliza para a "noite fulgurante" da Sagrada Vigília Pascal do Sábado Santo, onde as trevas são dissipadas, definitivamente, pela luz do Cristo Ressuscitado.
38 - No Natal se dá a união hipostática, ou seja, a natureza divina se une à natureza humana, numa só pessoa, a pessoa do Verbo Encarnado (Cf. Jo 1,14), mistério que transcende a compreensão humana. É pura humildade de Deus e pura gratuidade do amor divino.
 Tempo do Natal
39 - Como o Advento, tem também o Tempo do Natal dois momentos. Um, imediato: é a Oitava do Natal, que prolonga a solenidade natalina por oito dias, encerrando-se no dia primeiro de janeiro. O segundo momento vai de 2 de janeiro até a Festa do Batismo do Senhor, quando então se encerra o ciclo natalino.
40 - Vejamos agora as festas e solenidades do ciclo do Natal, nomeando-as, mas sem referência a aspectos celebrativos.
No Advento (além dos quatro domingos)
 Solenidade da Imaculada Conceição - em 8 de dezembro
 Festa de Nossa Senhora de Guadalupe - em 12 de dezembro
No Natal
 Solenidade principal do ciclo natalino, com vigília e três missas
No Tempo do Natal
São duas as solenidades e duas também as festas celebradas no Tempo do Natal, além, é claro, da solenidade principal de 25 de dezembro. São elas:
 Solenidade da Santa Mãe de Deus
Esta solenidade é celebrada em 1º de janeiro, com a qual se encerra, como vimos, a Oitava do Natal.
 Solenidade da Epifania
Epifania significa manifestação. É, pois, a manifestação de Jesus ao mundo, como salvador universal. Os magos simbolizam o conjunto das nações e dos povos. A Epifania marca, assim, a universalidade da redenção de maneira viva e simbólica. No Brasil, celebra-se a Epifania no domingo que cai entre os dias 2 a 8 de janeiro.
 Festa da Sagrada Família
Esta festa é celebrada no domingo que cai entre os dias 26 e 31 de dezembro. Se não houver domingo neste período, então a Festa da Sagrada família é celebrada no dia 30 de dezembro, em qualquer dia da semana.
 Festa do Batismo do Senhor
Com a Festa do Batismo do Senhor encerra-se o ciclo do Natal. A data de sua celebração depende da Solenidade da Epifania. Se a Epifania for celebrada até o dia 6 de janeiro, então o Batismo do Senhor se celebra no domingo seguinte. Se, porém, a Epifania for celebrada no dia 7 ou 8 de janeiro, então a Festa do Batismo do Senhor será celebrada no dia seguinte, isto é, na segunda-feira. A Festa do Batismo do Senhor marca o início da vida pública e missionária de Cristo.
41 - Três celebrações natalinas ainda existem, mas são comemoradas fora do ciclo do Natal: a festa da Apresentação do Senhor, em 2 de fevereiro, no Tempo Comum portanto; a solenidade de São José, esposo da Santíssima Virgem, em 19 de março, e a solenidade da Anunciação do Senhor, em 25 de março, estas duas últimas na Quaresma, sendo que, com referência à Anunciação, esta também pode cair, eventualmente, na Semana Santa. Nesta última hipótese, tal solenidade é transferida para depois da Oitava da Páscoa, uma vez que na Semana Santa não se pode fazer nenhuma comemoração que não seja a da sua própria liturgia.
42 - Dentro ainda da Oitava do Natal, três festas do "Santoral" são celebradas, mas com Vésperas da Oitava. São elas: Santo Estêvão, diácono e protomártir, em 26 de dezembro; São João, Apóstolo e Evangelista, em 27 de dezembro; e Santos Inocentes, em 28 de dezembro.

CICLO DA PÁSCOA
43 - Após pequenas considerações sobre o ciclo do Natal, vejamos agora alguns pontos do ciclo pascal, na riqueza também de sua estrutura celebrativa.
Preparação: Quaresma
Celebração: Tríduo Pascal da Paixão, Morte e Ressurreição do Senhor
Prolongamento: Tempo Pascal
44 - A exemplo do que se fez no Ciclo do Natal, aqui se explicita também um pouco cada momento do Ciclo da Páscoa.
 Quaresma
45 - Chamado, liturgicamente, de tempo de preparação penitencial para a Páscoa, a Quaresma, a exemplo também do Advento, tem dois momentos distintos: o primeiro vai da Quarta-Feira de Cinzas até o Domingo da Paixão e de Ramos, e o segundo, como preparação imediata, vai do Domingo de Ramos até a tarde de Quinta-Feira Santa, quando se encerra então o tempo quaresmal.
46 - O tempo da Quaresma é tempo privilegiado na vida da Igreja. É o chamado tempo forte, de conversão e de mudança de vida. Sua palavra-chave é: "metanóia", ou seja, conversão. Nesse tempo se registram os grandes exercícios quaresmais: a prática da caridade e as obras de misericórdia. O jejum, a esmola e a oração são exercícios bíblicos até hoje recomendáveis, na imitação da espiritualidade judaica. No Brasil, realiza-se a Campanha da Fraternidade, com sua proposta concreta de ajuda aos irmãos, focalizando sempre um tema da vida social.
47 - Seis são os domingos da Quaresma, sendo o sexto já o Domingo de Ramos. Como se viu no Advento, tem também a Quaresma o seu domingo da alegria, o 4º domingo, chamado "Laetare".
48 - A palavra "Quaresma" vem do latim "quadragésima", isto é, "quarenta", e está ligada a acontecimentos bíblicos, que dizem respeito à história da salvação: jejum de Moisés no Monte Sinai, caminhada de Elias para o Monte Horeb, caminhada do povo de Israel pelo deserto, jejum de Cristo no deserto etc..
 Tríduo Pascal da Paixão, Morte e Ressurreição do Senhor
49 - O Tríduo Pascal é o centro não só da Páscoa, mas também de toda a vida da Igreja. Na liturgia ocupa o primeiro lugar em ordem de grandeza, não havendo, pois, nenhuma outra celebração que se possa colocar em seu nível. É portanto o cume da liturgia e de todo o acontecimento da redenção. Por isso, deveria estar mais presente, como tema, em toda catequese e ser objeto de interiorização nos encontros eclesiais.
50 - Começa o Tríduo Pascal na Quinta-Feira Santa, na missa vespertina, chamada "Ceia do Senhor", tem seu centro na Vigília Pascal do Sábado Santo e encerra-se com a missa vespertina do Domingo da Páscoa.
51 - O Tríduo Pascal não é - diga-se - um tríduo que nos prepara para o Domingo da Páscoa, mas um tríduo celebrativo do Mistério Pascal de Cristo, que culmina no domingo, "Dia do Senhor". Trata-se, pois, de uma única celebração, em três momentos distintos.
52 - É tão fundamental o Tríduo Pascal que, sem ele, não existiria a liturgia, e o que teríamos era então uma Igreja sem sacramentos e sem a missionaridade redentora. Por que se diz isto? Porque, sem a ressurreição de Cristo - ensina-nos São Paulo (Cf. 1Cor 15,14) - vazia seria toda a pregação apostólica, como vã, vazia e sem sentido seria também a nossa fé. Estaríamos ainda acorrentados nos "Egitos" do mundo e presos aos grilhões do pecado e da morte.
53 - Aplica-se sobretudo ao Domingo da Páscoa tudo o que se disse sobre o domingo, como fundamento do Ano Litúrgico. E mais: o Domingo da Páscoa deve ser visto, celebrado e vivido como o "domingo dos domingos", dia, pois, sagrado por excelência. Se todos os domingos do ano já têm primazia fundamental sobre todos os outros dias, o Domingo da Páscoa destaca-se ainda mais pela sua notoriedade cristã, dada a sua relação teológica com o Cristo Kyrios (Senhor).
 Tempo Pascal
54 - Com a reforma litúrgica do Concílio Vaticano II, somente duas celebrações hoje na Igreja têm "oitava", isto é, um prolongamento festivo por oito dias, durante o qual a liturgia se volta para a solenidade principal. Estas duas celebrações são Natal e Páscoa. A Oitava da Páscoa vai, assim, do Domingo da Páscoa ao domingo seguinte.
55 - Os domingos do Tempo Pascal são chamados de "Domingos da Páscoa", com a identificação de 1º, 2º etc.. São sete tais domingos, e, no sétimo, no Brasil se celebra a Solenidade da Ascensão do Senhor. Como se vê, o prolongamento mais extenso da Páscoa se dá então até a Solenidade de Pentecostes. Segundo Santo Atanásio, o Tempo Pascal deve ser celebrado como um "grande domingo", ou seja, um domingo com duração de 50 dias.
Solenidades do Tempo Pascal
56 - Como já ficou evidenciado acima, além do Tríduo Pascal, que é a celebração principal da Páscoa, duas outras solenidades marcam também o Tempo Pascal. São elas:
 Ascensão do Senhor
57 - No Brasil, é o domingo que celebra a subida do Senhor ao céu, quarenta dias após a ressurreição (Cf. At 1,1-3). A data certa da solenidade seria na quinta-feira precedente, mas, como no Brasil não é feriado, transferiu-se então tal comemoração para o domingo seguinte, ocupando, pois, tal solenidade o lugar do 7º Domingo da Páscoa.
 Pentecostes
58 - Como sabemos, Pentecostes é o coroamento de todo o ciclo da Páscoa. É a solenidade que celebramos após 50 dias da ressurreição. Marca o início solene da vida da Igreja (Cf. At 2,1-41), não o seu nascimento, pois este se dá, misteriosamente, na Sexta-Feira Santa, do lado do Cristo Crucificado, como sua esposa imaculada.
59 - Pentecostes, como já foi dito, coroa a obra da redenção, pois nela Cristo cumpre a promessa feita aos apóstolos, segundo a qual enviaria o Espírito Santo Consolador, para os confirmar e os fortalecer na missão apostólica. A vinda do Espírito Santo, no episódio bíblico de At 2,1-4, deve ser entendida em dimensão também eclesiológica, ou seja, como ação estendida a toda a Igreja, no desejo do Pai e do Filho. Com Pentecostes encerra-se, pois, o ciclo da Páscoa.

TEMPO COMUM
60 - Após pequenas considerações sobre os dois ciclos do Ano Litúrgico, vamos agora a um pequeno comentário sobre o Tempo Comum. Por "Tempo Comum", devemos entender - repetimos - aquele longo período, que se encontra entre os ciclos do Natal e da Páscoa. Na prática são 33 ou 34 semanas.
61 - Começa esse tempo litúrgico na segunda-feira após a Festa do Batismo do Senhor, ou na terça-feira, quando a Epifania é celebrada no dia 7 ou 8 de janeiro, hipótese em que o Batismo do Senhor é celebrado então na segunda-feira. Na terça-feira de Carnaval, o Tempo Comum se interrompe, reiniciando-se na segunda-feira depois do Domingo de Pentecostes e prolongando-se até o sábado que precede o primeiro Domingo do Advento.
62 - No Tempo Comum não se celebra um aspecto de nossa fé, como é o caso do Natal (Encarnação), e Páscoa (Redenção), mas celebra-se todo o mistério de Deus, em sua plenitude. Uma temática pode, porém, nele aparecer, quando nele se celebram algumas solenidades, como "Santíssima Trindade", "Corpus Christi" etc., chamadas na liturgia de "Solenidades do Senhor no Tempo Comum".
63 - Não existe uma liturgia para o 1º Domingo do Tempo Comum, porque, neste, a Igreja celebra, nas hipóteses já referidas, a Festa do Batismo do Senhor. Diz-se então, iniciando esse período, "primeira semana do Tempo Comum", que começa na segunda-feira ou na terça-feira, como já vimos. A partir do segundo domingo é que começa, oficialmente, a enumeração dos domingos do Tempo Comum, como conhecemos.
64 - Dadas como foram as festas e solenidades dos dois ciclos litúrgicos, aqui são dadas também, agora, as festas e solenidades do "Santoral", celebradas, em sua maioria, no Tempo Comum, salvo aquelas já referidas nos ciclos comentados. Vejamos então:

Solenidades do Senhor no Tempo Comum
65 - São quatro as celebrações assim denominadas. São também móveis, isto é, sua data de celebração depende da Páscoa. Ei-las:
 Santíssima Trindade
Celebra-se no domingo seguinte ao de Pentecostes
 Sagrado Corpo e Sangue do Senhor
Celebra-se na quinta-feira após a solenidade da Santíssima Trindade
 Sagrado Coração de Jesus
Sua celebração se dá na 2ª sexta-feira após "Corpus Christi"
 Nosso Senhor Jesus Cristo, Rei do Universo
É celebrada no último domingo do Tempo Comum, ocupando o lugar do 34º domingo.
66 - Também no Tempo Comum são celebradas algumas festas do Senhor. Estas, quando caem no domingo, ocupam o seu lugar. São elas:
 Apresentação do Senhor
Celebra-se no dia 2 de fevereiro
 Transfiguração do Senhor
Sua celebração é em 6 de agosto
 Exaltação da Santa Cruz
Celebra-se em 14 de setembro
67 - Além das "festas do Senhor" acima referidas, outras festas e solenidades são celebradas no Tempo Comum, pertencentes então ao "Santoral". Ei-las:

Solenidades
 Natividade de São João Batista - em 24 de junho
 São Pedro e São Paulo - em 29 de junho (ou no domingo seguinte)
 Assunção de Nossa Senhora - em 15 de agosto (no Brasil, no domingo seguinte)
 Nossa Senhora Aparecida - em 12 de outubro
 Todos os Santos - no 1º domingo de novembro. Se, porém, o dia de "Finados" for domingo, a solenidade de "Todos os Santos" é celebrada então no dia primeiro, sábado. Isto porque "Finados" tem precedência litúrgica e é celebração fixa de 2 de novembro.
Nota: As solenidades do "Santoral", quando caem no Domingo Comum, ocupam também o seu lugar. É o caso aqui da "Natividade de São João Batista" e "Nossa Senhora da Conceição Aparecida".
Festas do "Santoral" celebradas no Tempo Comum
 Conversão de São Paulo, Apóstolo - em 25 de janeiro
 Cátedra de São Pedro - em 22 de fevereiro
 São Marcos, Evangelista - em 25 de abril
 São Filipe e São Tiago - em 3 de maio
 São Matias, Apóstolo - em 14 de maio
 Visitação de Nossa Senhora - em 31 de maio
 São Tomé, Apóstolo - em 3 de julho
 São Tiago Maior, Apóstolo - em 25 de julho
 São Lourenço, Diácono e mártir - em 10 de agosto
 Santa Rosa de Lima - em 23 de agosto
 São Bartolomeu, Apóstolo - em 24 de agosto
 Natividade de Nossa Senhora - em 8 de setembro
 São Mateus, apóstolo e evangelista - em 21 de setembro
 São Miguel, São Gabriel e São Rafael, arcanjos - em 29 de setembro
 São Lucas, evangelista - em 18 de outubro
 São Simão e São Judas Tadeu - em 28 de outubro (apóstolos)
 Dedicação da Basílica de Latrão - em 9 de novembro
 Santo André, Apóstolo - em 30 de novembro
68 - Neste trabalho não houve referência às memórias (obrigatórias ou facultativas), que a Igreja celebra também durante todo o ano litúrgico. As memórias são omitidas quando caem no domingo e nos tempos privilegiados, podendo contudo ser celebradas como facultativas, nas normas litúrgicas. Quanto às festas dos santos, são também omitidas quando caem nos domingos, mas são celebradas nos dias de semana dos tempos privilegiados.
69 - Chamam-se "Próprio do Tempo" as celebrações dos ciclos festivos (Natal e Páscoa), como também as do Tempo Comum, ligadas ao mistério da redenção. As celebrações dos santos são chamadas "Próprio dos Santos", ou "Santoral".

GRAUS DAS CELEBRAÇÕES E PRECEDÊNCIA DOS DIAS LITÚRGICOS
70 - Um dado importante vamos ver agora: é que o aspecto hierárquico da Igreja estende-se também à liturgia. Assim, entende-se que, na liturgia, não só os ritos têm grau de importância diferente, como também as próprias celebrações divergem quanto à sua importância litúrgica.
71 - Podemos afirmar então que existem graus e precedência nas celebrações, e se dizemos genericamente "festas", três na verdade são os graus da celebração: "solenidade", "festa" e "memória", podendo esta última ser ainda obrigatória ou facultativa. Neste subsídio, a palavra "festa" sempre é usada no conceito aqui ora exposto, a fim de evitar mal-entendidos. Vejamos então:

 Solenidade
72 - É o grau máximo da celebração litúrgica, isto é, aquele que admite, como o próprio nome sugere, todos os aspectos solenes e próprios da liturgia. Na "solenidade", então, três são as leituras bíblicas, canta-se o "Glória" e faz-se a profissão de fé. Para a maioria das solenidades existe também prefácio próprio. Embora no mesmo grau, as "solenidades" distinguem-se ainda, entre si, quanto à precedência. Somente o Tríduo Pascal da Paixão, Morte e ressurreição do Senhor está na liturgia em posição única. As demais solenidades portanto se acham na tabela oficial distinguindo-se apenas quanto ao lugar que ocupam no mesmo nível. Assim, depois do Tríduo Pascal, temos: Natal, Epifania, Ascensão e Pentecostes, o que equivale a dizer que estas quatro solenidades são as mais importantes depois do Tríduo Pascal, mas Natal vem em primeiro lugar, na ordem descrita.

 Festa
73 - "Festa" é a celebração um pouco inferior à "solenidade". Identifica-se, inicialmente, com as do dia comum, mas nela canta-se o "Glória" e pode ter prefácio próprio, dependendo de sua importância. Com referência a "festa" e "solenidade", na Liturgia das Horas (Ofício das Leituras), canta-se ainda o "Te Deum", fora, porém, da Quaresma. Como já se falou , as "festas" do Santoral são omitidas quando caem em domingo.

 Memória
74 - "Memória" é, sempre, celebração de santos, um pouco ainda inferior ao grau de "festa". Na celebração da "memória", não se canta o "Glória". A "memória" é obrigatória quando o santo goza de veneração universal. Isto quer dizer que em toda a Igreja se celebra a sua memória. É, porém, facultativa quando se dá o contrário, ou seja, quando somente em alguns países ou regiões ele é cultuado.
75 - As "memórias" não são celebradas nos chamados tempos privilegiados, a não ser como facultativas, e dentro das normas litúrgicas para a missa e Liturgia das Horas, conforme já se falou neste trabalho. Quando caem em domingo, são também omitidas, repetindo-se aqui o que já foi explanado.
76 - A "memória" pode tornar-se "festa", ou mesmo "solenidade", quando celebração própria, ou seja, quando o santo festejado for padroeiro principal de um lugar ou cidade, titular de uma catedral, como também quando for titular, fundador ou padroeiro principal de uma Ordem ou Congregação. Também a "festa" pode tornar-se "solenidade" nas circunstâncias litúrgicas aqui descritas, estendendo-se esse entendimento às celebrações de aniversário de dedicação ou consagração de igrejas.

BIBLIOGRAFIA
1 - Missal Romano
2 - Normas Universais do Ano Litúrgico e do Calendário
3 - Documento da CNBB - nº 43
4 - Ano Litúrgico (Adolf Adam)
5 - Documentos Pontifícios nº 144 (SC) - Concílio Vaticano II







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A Santa Liturgia
A Doutrina Católica, revelada por Deus através dos Profetas (Antigo Testamento), através do próprio Jesus Cristo (Novo Testamento), e transmitida de geração a geração pela autoridade divina da Igreja Católica é composta de uma série de elementos, uns ligados aos outros, que formam uma unidade, um conjunto homogêneo. Já estudamos dois destes elementos:
A parte doutrinária, ou seja, as verdades da Fé, resumidas no Credo.
A parte moral, que nos ensina como devemos agir para não ferir esta verdade de Fé.
Precisamos agora estudar um terceiro elemento deste belo conjunto que é uma espécie de volta para Deus. Seria algo como aparece no esquema abaixo:















Vem de Deus a Revelação da doutrina (ou dogma) e da moral. Os homens recebem esta Revelação e vivem aqui na terra a vida de Fé, decorrente da doutrina e a vida de Caridade, decorrente da moral. Esta Fé, unida à Esperança (não pus no esquema para não complicar) e à Caridade, levam o homem a rezar e a participar do culto oficial da Igreja. Estas duas formas de oração são como uma volta a Deus, um retorno dos filhos ao Pai, ao Criador, antes mesmo de chegarmos na vida eterna.
A vida de oração é a vida íntima da alma no seu relacionamento com Deus. O amor que a alma tem para com Deus, em reconhecimento por todos os bens Dele recebidos, manifesta-se na perseverança com que a alma reza, na atenção que emprega durante a Santa Missa, no interesse que manifesta pelas leituras santas, pelo estudo da doutrina e, principalmente, pelo vigor com que evita ofender a tão bom Pai. Nossas orações particulares, oração da manhã, oração da noite, o santo Terço de Nossa Senhora, o escapulário etc. brotam do fundo da alma e elevam-se para Deus.
Porém, a Igreja Católica, fundada por Jesus Cristo com sua morte na Cruz é uma organização viva, um Corpo Místico de Cristo, composto pelo seu Chefe, sua Cabeça, o próprio Cristo, pela alma incriada que é o Espírito Santo (logo a Igreja é Divina) e pelos membros que somos nós, os batizados que vivem na terra (Igreja militante), as almas do purgatório (Igreja padecente) e pelos santos e anjos do céu (Igreja triunfante).
Este Corpo Místico de Cristo, que é a Igreja Católica, tem também sua oração própria. Toda ela presta um culto a Deus, cada membro participa deste culto ao seu modo, no céu, o mais perfeito, a adoração contínua e total da Santíssima Trindade; no purgatório as almas que sofrem a purificação final antes de ingressar no céu, oferecem esta pena e cantam a esperança do alívio. Aqui na terra, a Igreja oferece continuamente o Santo Sacrifício da Missa, os Sacramentos e as orações oficiais contidas no Breviário e nos demais livros litúrgicos.
Este culto oficial e público, oferecido pela Igreja na terra, é o que chamamos a Liturgia.
Vamos ser mais precisos: o que é a Liturgia?
- É o conjunto de objetos, fórmulas e atos
- oferecidos num culto público, em nome da Igreja, por pessoas consagradas
- segundo a instituição de Jesus Cristo e a ordenação da Igreja
- para a glória de Deus e salvação das almas.
Para compreendermos bem o que é a Liturgia, é necessário conhecer melhor algumas destas noções:
Culto: é tudo aquilo que é oferecido a Deus numa cerimônia, num rito. Assim, no Batismo, por exemplo, encontramos um culto onde a alma da criança é oferecida pelo ministro do Sacramento a Deus, para que lhe seja apagado o pecado original e ela se torne filha de Deus; na Santa Missa, é oferecido o pão e o vinho, mais ainda, é o próprio Jesus Cristo que se oferece sobre o Altar, ao Pai, como se ofereceu um dia sobre a Cruz. Também as orações, os salmos, os cânticos, os gestos, tudo é oferecido a Deus num culto de louvor. E isso para qualquer Sacramento, bênção, realizadas na Igreja.
Culto público: a Liturgia é assim chamada porque difere de um culto privado. O Terço que rezamos em nossas casas, por exemplo, é um culto privado, particular, daquela alma  que reza naquele momento. Muitas graças nos são dadas pelos nossos cultos particulares e devemos sempre oferecer a Deus estas orações, mas não é a Liturgia, pois esta é um culto público, realizado em nome da Igreja.
Por pessoas consagradas: a Liturgia exige a presença de sacerdotes. São eles que receberam o caráter sacerdotal, no Sacramento da Ordem, que lhes confere o poder de realizar oficialmente o culto público da Igreja. Os fiéis que assistem às cerimônias litúrgicas não realizam o culto do mesmo modo que o sacerdote, pela simples razão que não possuem o caráter sacerdotal conferido pelo Sacramento da Ordem. Mas eles possuem os caracteres sacramentais do Batismo e da Crisma, que os tornam Filhos de Deus e Soldados de Cristo. Por isso, os fiéis fazem parte do culto, oferecem o culto, o Sacrifício do Altar, por exemplo, na Missa, mas não como sacerdotes e sim como fiéis, como cristãos, participantes ativos do tesouro que a Igreja nos descobre todos os dias. Por esta razão, na Santa Missa, em diversas passagens, os fiéis são associados ao padre, no oferecimento do Sacrifício do Altar: na gota d’água que é derramada dentro do cálice, no Ofertório, onde estão representados todos os fiéis; noOrate Fratres, onde está dito: «que o meu e vosso sacrifício»; no Nobis quoque peccatoribus (no plural) etc. Essa participação dos fiéis no oferecimento do culto, dá a cada um a obrigação de conhecer o rito dos Sacramentos, principalmente o da Santa Missa. Responder, levantar-se, ajoelhar-se, fazer a genuflexão, confessar-se com regularidade e rezar com devoção as orações do missal.
Segundo a instituição de Jesus Cristo e a ordenação da Igreja: Na Cruz, Jesus se oferece ao Pai, num sacrifício cruento, pagando assim os nossos pecados. Este ato, que é a própria; essência da missão que Jesus recebeu do Pai, faz Dele o Sumo Sacerdote. O termo “sacerdócio de Cristo” passa a designar a fonte, a origem, a causa de todo sacerdócio. Na Cruz, Jesus é padre e vítima: Ele oferece e Ele é oferecido; Ele sacrifica e Ele morre. Toda a Liturgia da Igreja nasce do Sacerdócio de Cristo. Os padres são apenas participantes, pelo caráter sacerdotal, deste sacerdócio de Cristo. É por esta razão que, ao realizar um Sacramento, não é o padre quem dá a sua eficácia: quem realiza o Sacramento é o próprio Cristo. Daí vem a graça sacramental (que estudamos nos Sacramentos), da vida de Nosso Senhor que reina do céu sobre todos nós.
A Igreja, recebendo a autoridade divina de Jesus, tem como missão ordenar o culto, ou seja, estabelecer suas regras, autorizar seus costumes, defender sua Tradição. Por isso é um erro querer repelir tudo aquilo que os antigos fizeram e que foi perpetuado pela Tradição divina da Igreja. A Tradição é a garantia que temos de que aquele rito é conforme à doutrina de Cristo e à vontade de Deus.
Quando os progressistas modificaram todos os ritos da Liturgia, abandonaram tudo o que a Santa Tradição nos havia legado; no lugar dos ritos santos, inventaram novos, e foram pedir aos protestantes que os ajudassem a compor novos ritos, como o da Missa nova. Por isso devemos recusar esta missa, e todos os ritos novos que eles inventaram. Este culto não é o culto tradicional da Igreja, porisso só pode estar cheio de erros e de falsas idéias.
Para a glória de Deus e salvação das almas: Esta é a finalidade primeira da Liturgia. Devemos a Deus este culto, por ser Ele nosso Deus, nosso Senhor, nosso Criador e porque Ele nos livrou do fogo do inferno morrendo na Cruz por nós, merecendo por nós, já que não tínhamos como merecer sozinhos, o nosso perdão. Por isso louvaremos eternamente a Deus, cantaremos a sua glória, elevaremos nossas almas cheias de amor e de gratidão ao Pai, ao Filho e ao Espírito Santo, a esta Trindade Santa que é um único e soberano Deus. Não há nada que agrade mais a Deus e que lhe dê maior glória do que o culto que Ele mesmo instituiu para seus filhos, principalmente a Santa Missa, que é o sacrifício de seu Filho Unigênito.
Ao mesmo tempo, toda a vida litúrgica abre para os homens de boa vontade um tesouro insondável,um reino misterioso e luminoso, cheio de luzes e de consolações, que nos invade com uma paz duradoura no meio dos maiores tormentos que a vida nos traz. Pela liturgia as almas descobrem o espírito de oração, a sacralidade de cada gesto, de cada objeto, o respeito cheio de graça, de beleza e de bondade que nos dá a proximidade de Deus e de sua Igreja, nossa Mãe. Na liturgia encontramos todos os instrumentos necessários para a nossa salvação, através dos sacramentos e das orações que a Igreja perpetua a Deus. Nela vivemos a vida de virtudes e de dons que aprendemos na moral, pelo exemplo de Jesus Cristo, pelas graças que recebemos de Nossa Senhora e pelo exemplo dos santos a quem tributamos um culto especial, por estarem eles muito perto de Deus, capazes de interceder e pedir por nós.
Antes mesmo de considerar que a Liturgia nos faz viver dentro destes instrumentos de salvação, podemos também verificar que todo o catecismo, estudado ao longo de todos esses anos, estará presente diante de nós, cada vez que estivermos na igreja, elevando nossas almas a Deus, num culto de ação de graças a Deus.
A Liturgia, adoração da Santíssima Trindade
Aprendemos que Deus é uno em três Pessoas, que o Mistério da Santíssima Trindade é o principal mistério de nossa Fé. É pois, justamente a Deus Trino que será dirigida toda a oração litúrgica. E do mesmo modo que o Pai não é gerado por ninguém, Ele é, de certo modo, primeiro entre as três Pessoas divinas. Por isso, todo o culto litúrgico eleva-se, em primeiro lugar, ao Pai, chamado muitas vezes de “Deus onipotente”. Em seguida, o Filho é glorificado, devido à sua missão de se encarnar e de morrer na Cruz por nós. Igualmente, o Espírito Santo é homenageado em Pentecostes, Ele que procede do Pai e do Filho. Mas a Santa Igreja nunca separa completamente as três Pessoas, para que não se pense que existem três deuses. Ao louvar o Pai, ela louva também o Filho e o Espírito Santo; ao louvar o Filho, ela glorifica as duas outras Pessoas, etc.
Isso aparece de modo especial nas orações da missa, que se dirigem quase sempre ao Pai, pedem pelos méritos do Filho na unidade do Espírito Santo. Vamos dar alguns exemplos: peguem o missal e procurem qualquer coleta, por exemplo, a da festa do Sagrado Coração de Jesus (pag. 601); a do XIIIº domingo depois de Pentecostes (649) ou outra qualquer.
Toda a missa é um canto de louvor à Santíssima Trindade. Começando pelo sinal da Cruz, no início da missa, passando pelo Kyrie, repetido três vezes em honra das três Pessoas, pelo próprio Credo, nas orações do Ofertório ou do Cânon, enfim, em toda a missa, em todo rito sacramental, a presença da Santíssima Trindade é marcante.
A Liturgia, sacerdócio de Cristo

Outro grande mistério da nossa fé que aparece claramente na Sagrada Liturgia é o Mistério da Encarnação: O Verbo Eterno de Deus, segunda Pessoa da Santíssima Trindade, assume uma natureza humana para nascer da Virgem Maria, sofrer e morrer na Cruz, nos redimindo dos nossos pecados.
Ora, o ato de sacrifício realizado por Cristo no madeiro da Cruz e no altar da primeira Missa, que Ele próprio instituiu na última ceia (quinta-feira santa), é o primeiro ato litúrgico da Nova Aliança, da Igreja Católica. Esta liturgia realizada por Nosso Senhor, tem algo de muito particular: o sacerdote é a própria vítima - o que realiza o sacrifício é o mesmo que morre nele. Este ato de sublime oração que o Filho Encarnado oferece ao Pai aplaca a ira de Deus contra os pecados dos homens.
Mais tarde, Jesus deixará ao encargo dos seus Apóstolos a missão de manter sempre vivo este sacrifício da Cruz, na Liturgia da Igreja Católica, não somente na Santa Missa, mas também em todos os outros Sacramentos e orações oficiais da Igreja.

A Liturgia, ofício da hierarquia católica

Cabe aos representantes de Jesus Cristo sobre a terra, realizar o culto de adoração que Jesus oferece ao Pai por toda a eternidade. Cabe ao Papa, sucessor de São Pedro, presidir a esta hierarquia sagrada, como nos ensina o Evangelho de S. João, cap.21,15: “Apascenta as minhas ovelhas...” Como sucessores dos Apóstolos, os bispos, em suas dioceses, possuem autoridade divina para governar, santificar e ensinar suas ovelhas, sempre na obediência a tudo o que a Igreja ensinou e ensina, ou seja à Tradição católica.
A Liturgia não pode mudar
Como a Liturgia é a expressão viva do dogma da Fé, os sucessores de Pedro ou dos Apóstolos, não podem modifica-la, pois correm o sério risco de modificar também a doutrina correspondente, como aconteceu quando o Papa Paulo VI, quis inventar um novo rito da missa e, junto com ele, introduziu muitos erros de doutrina que contrariam a Fé, os quais um católico não pode aceitar.
A Igreja estabeleceu um princípio que esclarece muito bem esta relação entre a Fé e a Liturgia: diz este princípio: Lex orandi, lex credendi.
O que quer dizer isto?
A tradução é a seguinte: tal a lei da oração tal a lei da crença
Ou seja: a regra litúrgica (oração) é expressão viva da regra da fé (as coisas em que acreditamos). Isto quer dizer que uma liturgia que é modificada passa a exprimir uma fé diferente. Mas nós sabemos que a Fé é imutável, nunca pode mudar, pois é uma virtude divina que nos faz conhecer tudo o que Deus revela de si mesmo, o que, evidentemente não pode mudar.
Assim, tenhamos a firme convicção, baseada em nossa Fé íntegra e imutável, que a Santa Liturgia, expressão desta Fé Sagrada, deve permanecer sempre a mesma, na sua beleza doutrinária, no seu canto sagrado, na sua língua própria, que é o latim, justamente para evitar que as verdades da Fé sofram com as variações que ocorrem nas línguas nacionais. Em suma, a Liturgia é Divina e o homem não pode ousar tocá-la, sem que o castigo de Deus caia sobre ele.

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