Sejam Bem-Vindos!

"É uma grandiosíssima calúnia dizer que tenho revoltas contra a Igreja. Eu nunca tive dúvidas sobre a Fé Católica, nunca disse nem escrevi, nem em cartas particulares, nem em jornais, nem em quaisquer outros escritos nenhuma proposição falsa, nem herética, nem duvidosa, nem coisa alguma contra o ensino da Igreja. Eu condeno tudo o que a Santa Igreja condena. Sigo tudo o que ela manda como Deus mesmo. Quem não ouvir e obedecer a Igreja deve ser tido como pagão e publicano. Fora da Igreja não há salvação."
Padre Cícero Romão Batista

quarta-feira, 27 de fevereiro de 2013

Confissão: alguns obstáculos


Por Rafael Stanziona de Moraes



Uma pessoa afastada da prática religiosa, que chegue a convencer-se da conveniência de fazer uma boa confissão, pode tropeçar em alguns obstáculos. Por um lado, é possível que não se sinta com o mínimo de fé necessário. Por outro, talvez ache que o seu desejo de mudar não é suficiente para solicitar o perdão divino com sinceridade. E, finalmente, pode desanimar por não saber fazer o exame de consciência ou por já não se lembrar bem dos ritos do sacramento. Deve superar esses obstáculos.


CONFISSÃO E FÉ

Objetava certo penitente às instâncias do sacerdote: “Eu estaria disposto a confessar-me, mas não tenho fé. Tenho muitas dúvidas de fé. Precisaria primeiro resolvê-las. Depois, sim, poderia confessar-me”. E o sacerdote, sabendo que essa pessoa tinha apenas uma fé enferma, insistia no contrário: devia confessar-se primeiro para depois resolver as suas dúvidas. Prevaleceu o sacerdote. O penitente confessou-se, e Depois... já não tinha nenhuma dúvida.

Ninguém vacile em confessar-se por pensar que perdeu o sentido vivo da fé. Experimente fazê-lo, mesmo que lhe pareça estar representando uma comédia, pois nessa “comédia” não há nenhuma hipocrisia. Verá que, na realidade, nunca tinha deixado de ter fé.

Com efeito, mesmo que nos tenhamos afastado muito de Deus, muitas vezes não perdemos a fé, porque a fé é um dom dEle e não um triunfo nosso. Só é possível perdê-la por um pecado grave cometido diretamente contra ela. A não ser em caso de incredulidade formal, de apostasia ou de heresia, a maior parte das vezes conservamos a fé. Se ela não influi na nossa vida, se não a “sentimos”, é simplesmente porque está enterrada sob o monte de lixo que lhe jogamos em cima. Está lá, mas abafada pelos nossos pecados. Quando os removemos..., ela aparece.

Também não tem nenhuma importância que ainda não compreendamos inteiramente a razão pela qual determinada conduta é pecaminosa. Basta que confiemos na palavra de Deus, tal como a transmite o ensinamento oficial da Igreja, e que estejamos dispostos a agir como Deus manda. Depois entenderemos de modo pleno. De momento, isso não é possível pela falta de retidão da nossa vida, pois a falta de retidão obscurece a luz da fé. Quem vive desordenadamente, não compreende a regra. Compreendê-la-á quando se tiver corrigido. A Confissão, ao devolver-nos a retidão de vida, devolve-nos também a clareza da fé e o sentido sobrenatural.

Assim, quem se confessa, além de experimentar um grande alívio na consciência, sente-se como se tivesse saído de um túnel escuro para abrir-se a um dia de sol radiante. Abandona o ambiente sombrio e rarefeito do subjetivismo, da solidão, dos ressentimentos, das perplexidades, da contradição, da falta de sentido e da tristeza. E compreende “o esplendor e a segurança e o calor do sol da fé”1 . Percebe que, ao contrário do que lhe sugeria o orgulho pessoal, não passa de uma pobre criatura, mas de uma criatura protegida por Deus. Sente que o próprio Deus o ama, e abrasa-se nesse amor.
Além do mais, quem chega a adquirir o hábito de confessar-se periodicamente, valendo-se das sucessivas avaliações feitas sobre o seu comportamento nas diferentes confissões, e valendo-se sobretudo da graça, vai adquirindo a capacidade de julgar, certeiramente, à luz da fé, as situações concretas da vida. Adquire a virtude sobrenatural da prudência. Aprende a não se deixar influenciar sem discernimento pelas oscilações da sua emotividade, pela pressão da opinião da maioria, pelo bombardeio de slogans dos meios de comunicação ou pelos costumes do ambiente.

CONFISSÃO E MUDANÇA DE VIDA

Para podermos confessar-nos validamente e receber o perdão de Deus, é evidentemente necessário que estejamos dispostos a retificar o nosso comportamento. Ou seja, é preciso que repudiemos o erro cometido, chegando a uma disposição da vontade tal que, se voltássemos a encontrar-nos nas circunstâncias em que o cometemos, não tornaríamos a cometê-lo. Também é preciso que estejamos decididos a evitar todas as ocasiões de pecado: Se o teu olho direito te escandaliza, arranca-o e lança-o longe de ti, manda Jesus explicitamente (Mt 5, 29). E no caso de termos praticado uma injustiça contra alguém, há a obrigação de restituir ou reparar. Além disso, muitas vezes, será necessário romper com situações de vida irregulares, que podem chegar a ser bem complexas, quando não nos confessamos há muito tempo.

Se não fosse assim, não haveria sinceridade no nosso arrependimento, pois o propósito de não voltar a pecar é parte essencial da contrição. Não se trata de sentimentos, mas de efetivas disposições da vontade. Ora, isso pode não ser nada fácil. Talvez não nos sintamos com coragem para uma mudança que afetará a fundo o nosso estilo de vida. É possível que ainda não nos sintamos preparados para quebrar os laços do comodismo, da sensualidade, da avareza, etc. E, por mais que desejemos fazê-lo, provavelmente não nos parecerá que sejamos capazes de evitar, para o futuro, todo e qualquer tipo de reincidência no erro. Sentimo-nos fracos e prevemos que, ainda que nos esforçássemos ao máximo, voltaríamos a cair.

A esta dificuldade deve-se responder afirmando, em primeiro lugar, que não é preciso esperar ter uma decisão de emenda absolutamente perfeita e segura para procurar a confissão. Basta o desejo sincero de voltarmos a aproximar-nos de Deus e de começarmos a retificar e a lutar de verdade. Ele nos ajudará a alcançar as disposições indispensáveis.

Por outro lado, convém não esquecer que a perfeita contrição é efeito da graça. A firmeza nos nossos propósitos é, em certo sentido, mais dom de Deus do que conquista nossa. Se chegamos a comprometer-nos com Deus a não mais pecar, fazemo-lo contando humildemente com o auxílio das suas graças. Sozinhos, valendo-nos apenas das nossas forças, evidentemente não o conseguiríamos, mas, com Ele, e mais concretamente com as graças que nos confere através do sacramento, tudo podemos.

E, finalmente, é preciso lembrarmo-nos de que, no caso de fraquejarmos e voltarmos a cair, apesar da sinceridade do propósito e do esforço por evitar a queda, podemos contar com a reiteração da confissão. Aliás, não é de estranhar que um doente crônico precise de várias aplicações do remédio para curar-se por completo.

Em resumo, quem vai confessar-se pela primeira vez, ou depois de muito tempo, sente-se confuso, inseguro. Normalmente, embora tenha começado a arrepender-se, ainda está vacilante, pouco convencido de que valha a pena mudar e sem coragem para enfrentar as dificuldades que a conversão traz consigo. Não importa. Pouco a pouco, com as sucessivas confissões, a sua boa vontade irá firmando-se. E passado algum tempo, depois de ter conseguido retificar a fundo o seu comportamento, chegará a odiar o pecado e a experimentar por ele uma repulsa que pode chegar a ser quase física.

NÃO É COMPLICADO

Se alguém não se confessa há muito tempo e já esqueceu os ritos da Confissão, ou se sente dificuldade para fazer o oportuno exame de consciência, não se preocupe.

A cerimônia da Confissão é breve e simples. Não é preciso saber nenhuma fórmula ou oração de cor. O próprio sacerdote nos vai indicando a sequência das coisas a fazer. E o exame de consciência também não é problema. Basta que, depois de termos procurado fazê-lo bem, peçamos a ajuda do padre e ele nos irá orientando, ou perguntando na hora a respeito dos diferentes tipos de pecado que possamos ter cometido, explicando-nos, além disso, quaisquer dúvidas que possamos ter.

Podemos estar tranquilos. Ir confessar-se é como ir a um médico amigo e muito experiente. Com um simples bater de olhos ele já intui as nossas queixas e faz as perguntas necessárias. Nenhum sintoma o assusta. Faz os exames pertinentes, acerta o diagnóstico e nos receita o remédio exato. Assim sendo, para nos confessarmos, basta abordarmos um bom sacerdote, da nossa confiança, e dizer-lhe: “Quero confessar-me”. Ele nos ajudará a firmar as nossas disposições, a ser sinceros, a fazer uma confissão íntegra, e a ficar preparados para receber a absolvição.

Será fácil. Em breve tempo estará resolvido. Restará uma penitência por cumprir, que sempre estará dentro das nossas possibilidades, e que ficará muito aquém daquilo que, por justiça, deveríamos pagar pelos nossos pecados. A diferença já foi saldada pelo sangue de Cristo na Cruz.


(1) São Josemaria Escrivá, Caminho, n. 575

sábado, 23 de fevereiro de 2013

Os últimos compromissos de Bento XVI


papa.14.02.2013Nesta quinta-feira, 14 de fevereiro, a agenda do Papa inclui mais um encontro significativo: trata-se de uma reunião com o clero de Roma, na “Sala Paulo VI”. Depois, nos próximos dias, haverá encontros e audiências marcadas com alguns grupos de bispos italianos, com o Presidente da Romênia e com o Presidente da Guatemala, respectivamente sexta-feira e sábado de manhã, encontros que já tinham sido marcados há algum tempo.
No final da semana ainda há espaço para receber dois políticos italianos, Mário Monti e o Presidente Giorgio Napolitano, audiências que terão lugar, praticamente, a uma semana das eleições italianas.
No próximo domingo, teremos ainda o Angelus ao meio-dia e depois, o Papa entra em retiro durante toda a semana, não havendo, por isso, audiência geral na quarta-feira. O retiro já estava previsto e tem o Cardeal Ravasi como pregador. Quando terminar o retiro, Bento XVI volta, pela última vez, à janela do seu apartamento para o seu último Angelus de domingo dia 24 de fevereiro.
Na segunda-feira seguinte, o Papa recebe os cardeais da Cúria Romana em audiência privada. Terça-feira, dia 26, é dia livre e a grande despedida está prevista para a audiência geral de quarta-feira, dia 27. Excepcionalmente, esta audiência realiza-se na Praça de São Pedro para poder acolher todos os fiéis que se quiserem despedir do Papa.
E chegamos ao seu último dia de Papa. No dia 28 de Fevereiro às 11h00 (hora de Roma) saúda todos os Cardeais que se encontrarem em Roma e pelas 17h locais parte de helicóptero para Castel Gandolfo, onde provavelmente ficará até o novo Papa ser eleito. (SP)

quinta-feira, 21 de fevereiro de 2013

Normas para um verdadeiro jejum

Isaías 58, 1-9; Mateus 9, 14-15Não podemos, absolutamente, imaginar que o jejum quaresmal consista apenas em nos privar de alguns alimentos. O jejum fundamental consiste em libertar-se do egoísmo e prestar auxílio aos necessitados. Este é o grande e fundamental exercício da Quaresma.

Isaías, na primeira leitura, apresenta reflexões oportuníssimas sobre o tema do jejum. O povo reclama: “Por que no tempo em que jejuávamos, tu, Senhor, não nos ouviste?”. O Senhor não deseja apenas uma privação do comer. Há uma postura interior que a tudo deve preceder. Se o Senhor não acolhe a oração de uns e de outros “é porque, no dia do vosso jejum, tratais de negócios e oprimis os vossos empregados. É porque ao mesmo tempo que jejuais, fazeis litígios e brigas e agressões impiedosas. Não façais jejum com este espírito, se quereis que o vosso pedido seja ouvido no céu”.

Nada de fachada, de ritos chamativos. Não é apenas curvar a cabeça, deitar-se em saco, sobre cinza. O jejum que agrada ao Senhor é a saída de si, o êxodo. E temos, então, diante dos olhos um elenco de obras de caridade: quebrar as cadeias injustas, desligar as amarras do jugo, libertar os detidos, repartir o pão com o faminto, acolher em casa dos pobres e peregrinos, vestir os nus. Fica, pois, bem claro: o jejum consiste numa renúncia de si mesmo.

No texto evangélico, hoje proclamado, Jesus se apresenta como o noivo que se casa com seu povo e convida seus amigos a viverem esta festa sublime: o noivo com o povo. Jesus ressuscitado está, na verdade, entre nós porque ele mesmo o prometeu: “Estarei convosco até a consumação de todos os séculos”. Por isso, nossa Igreja dá pouco espaço para o jejum em suas práticas oficiais reduzindo-o à quarta feira de cinzas e sexta-feira santa.

O Missal Cotidiano da Paulus assim se exprime: “A Igreja quase que abolindo o preceito do jejum exterior, entendeu empenhar-se com maior força em favor dos pobres e humildes. Durante a quaresma, o premente convite à prática da caridade está em estreita relação com o convite ao jejum. A Quaresma ajuda-nos a descobrir as necessidades do próximo e lembra-nos que podemos encontrar a maneira de ir-lhe ao encontro renunciando a algo pessoal. O jejum cumprido por amor de Deus e dos homens é sinal do desejo de conversão; neste sentido conserva ainda hoje o seu valor” (p. 174).

Frei Almir Ribeiro Guimarães

franciscanos.org.br

quarta-feira, 20 de fevereiro de 2013

Operação Beatificação de D.Eugenio Sales


UM HOMEM DE DEUS


As palavras de Dom Orani Tempesta sobre Dom Eugênio de Araújo Sales

RIO DE JANEIRO, sexta-feira, 13 de julho de 2012(ZENIT.org) - Dom Orani Tempesta, arcebispo do Rio de Janeiro, reflete sobre a vida de Dom Eugênio de Araújo Sales, o mais antigo Cardeal do Colégio Cardinalício, falecido nesta segunda-feira (09).
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Um homem de Deus
Voltou para a casa do Pai o homem que lutou para conseguir construir um mundo mais justo e humano e que amou a Igreja até fim de seus dias, Dom Eugenio de Araujo Cardeal Sales. Como bem indica a etimologia grega: Eugenios, “bem nascido, nobre”. Sim, em toda a sua vida foi nobre entre os pequenos; sempre tratou a todos com leveza espiritual. Sua nobreza e pobreza estavam contidas em sua leveza espiritual. Nasceu na Fazenda Catuana (Acari, RN), em 8 de novembro de 1920. Era bisneto de Cândida Mercês da Conceição, uma das fundadoras do Apostolado da Oração na cidade de Acari. Esse contato com a natureza o iluminou em seus trabalhos sociais iniciais, como a criação de sindicatos rurais, a fundação do movimento de educação de base e alfabetização pelo rádio, início das Comunidades Eclesiais de Base, início da Campanha da Fraternidade.
Realizou seus primeiros estudos em Natal, Rio Grande do Norte, inicialmente em uma escola particular, depois no Colégio Marista e, finalmente, ingressou, em 1936, no Seminário Menor de Natal. Realizou seus estudos de Filosofia e Teologia no Seminário da Prainha, em Fortaleza, Ceará, no período de1937 a1943. Essa experiência o marcou profundamente. Quando se tratou de acolher seminaristas de outras dioceses no Rio de Janeiro, ele o fez com muita alegria, visto a sua experiência em sua formação. A abertura para o outro, não vendo no outro nenhum forasteiro, mas membro do povo de Deus, irmão nosso, faz muita diferença em nossa missão de Igreja e em nossa caminhada pastoral.

Dom Eugenio foi ordenado sacerdorte pela imposição das mãos de Dom Marcolino Esmeraldo de Sousa Dantas, Bispo de Natal, no dia 21 de novembro de 1943, na mesma igreja onde recebera o batismo, na Paróquia Nossa Senhora da Guia,em Acari. Foiordenado bispo no dia 15 de agosto de 1954, para a Arquidiocese de Natal. E no dia 29 de outubro de 1968, se deu sua nomeação como Arcebispo de Salvador e Primaz do Brasil, pelo Papa Paulo VI. Seus trabalhos pastorais e sociais no Nordeste foram inúmeros. O filho do Rio Grande do Norte, Primaz do Brasil, Cardeal da Santa Igreja, depois se tornou o Arcebispo da Capital da República do Brasil.
No consistório do dia 28 de abril de 1969, presidido pelo Papa Paulo VI, Dom Eugenio de Araujo Sales foi criado Cardeal da Santa Igreja Romana, do título de São Gregório VII, do qual tomou posse solenemente no dia 30 de abril do mesmo ano. Era, até sua morte, o Cardeal mais antigo do Colégio Cardinalício.
Trazia como lema de ordenação: “Impendam et Superimpendar”, alusão à frase de São Paulo (2Cor. 12, 15): “Ego autem libentissime impendam et superimpendar ipse pro animabus vestris”, ou “De mui boa vontade darei o que é meu, e me darei a mim mesmo pelas vossas almas”.
No dia 13 de março de 1971, o Papa Paulo VI o transferiu da Sé Primacial e o nomeou Arcebispo do Rio de Janeiro, função exercida até 25 de julho de 2001, pois aos 75 anos já tinha pedido a renúncia, conforme o grau de idade, em conformidade com as normas do Direito Canônico, mas permaneceu até aos 80 anos no cargo de Arcebispo, até que o seu pedido foi aceito pelo Papa João Paulo II, depois de mais de 30 anos que marcaram profundamente a Igreja de São Sebastião do Rio de Janeiro.
Muitos se lembram de quando fora Arcebispo de Salvador, Bahia, e, unido a uma equipe, deu início às CEBs (Comunidades Eclesiais de Base), bem como deu continuidade à Campanha da Fraternidade (a CF foi criada por ele em Natal, RN). O que não dizer então sobre o Diaconato Permanente: Dom Eugenio foi um dos primeiros bispos do Brasil a implantar este ministério. Ordenou mais de 200 sacerdotes e foi o sagrante principal de mais de 20 bispos. Ao mesmo tempo que dedicava sua vida à Arquidiocese, ainda acumulava o acompanhamentoem onze Congregaçõesna Santa Sé, entre Conselhos e Comissões. Um grande representante brasileiro junto ao governo central da Igreja.
Foi um grande defensor da doutrina católica e demonstrou que, seguindo a verdadeira doutrina, poderia ser muito bem um grande evangelizador, missionário, catequista e também um grande combatente pelo social e pela dignidade humana. Este seu trabalho não foi reconhecido na época devido à tendência que havia na comunicação; foi redescoberto mais tarde através de tantos testemunhos que pouco a pouco foram aparecendo. Chegou a ser chamado de “bispo vermelho” por ter ajudado a criar sindicatos rurais no Rio Grande do Norte e também quando, durante o totalitarismo militar, entre1976 a1982, ele mesmo escondeu, guardou e cuidou de 4 mil homens, naquele período da revolução, na maioria argentinos. Ele mesmo assumiu discretamente a causa daqueles refugiados políticos latino-americanos. Articulou uma ação com a Cáritas e o Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados e, de início, abrigou-os no Palácio São Joaquim (Palácio Episcopal), porém, mais tarde, usou de apartamentos para esconder todas aquelas pessoas. Para a maioria conseguiu asilo político em países europeus. Enquanto lutava pelo asilo político, era ele quem corria atrás da sustentação e manutenção de todos. Para conseguir o asilo político, enfrentou muitas dificuldades e embates com as autoridades da época, nem sempre visíveis ou noticiados pela comunicação. Mas sua autoridade dobrava a encruzilhada da história naquele momento. Sua leveza fazia com que portas se abrissem, mesmo que as dobradiças se mostrassem “enferrujadas”. O Marechal Castelo Branco chegou a defini-lo como o bispo mais perigoso do Brasil.
Ele não temia os poderes da época, a ponto de um dia telefonar para o General Silvio Frota e lhe dizer: “Frota, se você receber comunicação de que comunistas estão abrigados no Palácio São Joaquim, de que eu estou protegendo comunistas, saiba que é verdade, eu sou o responsável. Ponto final, ponto final”.Sem contar quanta repercussão houve e perseguição sofreu quando se negou a celebrar uma missa pelo aniversário do AI-5.
Muito se destacou na vida pastoral da Igreja Católica, incluindo a criação de centros de atendimento a portadores do HIV. Teve forte empenho na formação de líderes que atuaram na Pastoral Carcerária, Pastoral das Favelas, Pastoral do Menor.
Dom Eugenio marcou a história da Igreja no Brasil com seus gestos e ações, mas principalmente com sua exposição sempre corajosa, catequética e profética escrevendo para muitos jornais de grande circulação. Com sua inteligência sabia criar e formar consciências.
Teve sempre boa e profissional aproximação com os meios de comunicação social, apresentando suas reflexões tanto nas TVs como nas rádios de inspiração católica. Um dia, numa entrevista a um jornal assim se manifestou: “Eu já estou cansado, às vezes minha memória falha. Mas faço questão de receber os jornalistas. Nada no mundo funciona sem a comunicação. Ela é fundamental para difusão do Evangelho. Eu levei isso muito a sério na minha vida religiosa, instalei rádios, escrevi em jornais, dei muitas entrevistas para TV. Quando eu não podia ir ao local, chegava às pessoas pelos meios de comunicação”.
A notícia de sua morte, ocorrida às 22h30 do dia 9 de julho teve repercussão internacional. O Papa Bento XVI assim se manifestou ao povo brasileiro enviando um comunicado ao Arcebispo do Rio de Janeiro: “Recebida a triste notícia do falecimento do venerado cardeal Eugenio de Araujo Sales, depois de uma longa vida de dedicação à Igreja no Brasil, venho exprimir meus pêsames a si e aos bispos auxiliares, ao clero e comunidades religiosas, e aos fiéis da Arquidiocese de São Sebastião do Rio de Janeiro, que por três décadas teve nele um intrépido pastor, revelando-se autêntica testemunha do Evangelho no meio do seu povo. Dou graças ao Senhor por ter dado à Igreja tão generoso pastor que, nos seus quase 70 anos de sacerdócio e 58 de episcopado, procurou apontar a todos a senda da verdade na caridade e do serviço à comunidade, em permanente atenção pelos mais desfavorecidos, na fidelidade ao seu lema episcopal: “Impendam et Superimpendar” (“Darei o que é meu, e me darei a mim mesmo pelas vossas almas.”). Enquanto elevo fervorosas preces para que Deus acolha na sua felicidade eterna este seu servo bom e fiel, envio a essa comunidade arquidiocesana, que lamenta a perda dessa admirada figura; à Igreja no Brasil, que nele sempre teve um seguro ponto de referência e de fidelidade à Sé Apostólica; e a quantos tomam parte nos sufrágios, animados pela esperança da ressurreição, uma confortadora bênção apostólica”.
Todos sabem que a missão dos cardeais é de serem conselheiros dos Papas. Dom Eugenio além dessa missão nutria amizade com os Sumos Pontífices João Paulo II e Bento XVI. Acolheu o Papa João Paulo II por duas vezes em sua visita ao Brasil. E uma terceira quando de sua escala técnica ao viajar à Argentina para uma visita àquela nação.
Um cardeal deve sempre colaborar com o Papa na construção de um diálogo com a humanidade. O cardeal é consultor de um Papa. Por isso a Igreja Católica, com leveza institucional, continua sempre crescendo e mostrando sua força, pois é feita de homens e mulheres em sua riqueza e fraqueza, reconhece suas crises e encruzilhadas, e realiza a vontade de Deus sempre, com sabedoria, ultrapassando fronteiras.
Dom Eugenio teve sempre estreita amizade e confiabilidade com os Papas que passaram por sua vida, desde Paulo VI até Bento XVI. Muito bem, lembrei-me, ao comunicar sua morte, primeiramente por torpedos aos colaboradores mais próximos por volta das 23h30, e depois através do Twitter às 0h40 da madrugada do dia seguinte, quando afirmei que Dom Eugenio foi um homem marcante na história da Igreja Católica no Brasil junto aos refugiados e sofredores. Foi também desta forma que ele serviu a Jesus Cristo.
Dom Eugenio foi, é e sempre será a referência da Igreja no Rio de Janeiro. Coube a ele, numa carta fraternal, pedir ao Soberano Pontífice Bento XVI, que a sua amada cidade do Rio de Janeiro fosse escolhida para a JMJ Rio2013. E a sua carta ecoou em Madrid, quando o Papa Bento XVI, anunciou e confirmou a cidade do Rio, como sede da JMJ 2013. Pequenos gestos como estes demonstram que Dom Eugenio é o nosso patriarca: aquele que nos conduziu para os caminhos de Deus, sempre fiel à Igreja e ao Papa.
Antes de surgir a vocação ao sacerdócio, dom Eugenio pensava em ser engenheiro agrônomo. Coincidência ou não, acabou sendo um grande engenheiro nas obras do Reino de Deus. A pomba que acompanhou o seu féretro recorda de um lado a sua preocupação com a vida rural, com a natureza, inclusive onde ele residiu, no Sumaré,em plena Florestada Tijuca, e depois a sua procura pela verdadeira paz. Ele edificou consciências e pessoas que continuaram o exercício de apresentar os sinais do Reino de Deus. Homem destacado, amado e nem sempre compreendido, mas preferido por Deus, porque Deus o preferiu. Grande empreendedor na Arquidiocese do Rio de Janeiro e hoje um intercessor de todos os católicos do Brasil lá no céu. Como ele mesmo disse em seu testamento: “No céu, onde espero ser acolhido por meu Pai, o Senhor Jesus e Maria, procurarei retribuir tudo o que recebi”.
† Orani João Tempesta, O.Cist.
Arcebispo Metropolitano de São Sebastião do Rio de Janeiro

segunda-feira, 18 de fevereiro de 2013

As arbitrariedades contra a Sagrada Liturgia


Por John Lennon J. da Silva.

Uma das maiores feridas deixadas pela crise que enfrenta a Igreja nestas últimas décadas, sem dúvida alguma se trata das “chagas visíveis” que podem ser verificadas na má aplicação da Sagrada Liturgia. Nas últimas décadas as noções de sacrifício que deveriam permear as celebrações de muitas paróquias principalmente no Brasil, parecem ter desaparecido e dado lugar a arbitrarias compreensões de culto.

Que na maioria das vezes não sublinham a presença de Cristo crucificado e sua redenção, deram lugar a picadeiros onde os expectadores aguardam ansiosos por apresentações recheadas de movimentos e emoções; onde não mais o sacerdote faz às vezes de Jesus, mas é o signo do humano. Fato que fazer “Missas” mais atraentes e recheadas de novidades para alguns soam como o melhor atalho para encher os templos de gente.

Há vale salientar que alguns destes preferem fugir de uma boa catequese que converta a alma e coração dos fieis que andam distantes da Igreja, para que sejam estes introduzidos verdadeiramente na fé e prática católica, limitam-se a badalação e a numero expressivo de corações que se animam com os “frutos da terra” (cf. Gn 4,3) que oferece Caim, mas batem em retirada e deparam-se no mundo com seus corações vazios da Palavra de Deus e das orientações eficazes da Igreja.

Do outro lado também se encontra bispos e padres que apoiam e dão aparato para celebrações que na verdade são shows, ao melhor, torna-se o “sacrifício de Caim”. Existe também o modernismo teológico que vigora na ideologia eclesial destes sujeitos, que usam de forma grossa o Concílio Vaticano II para apoiar suas copiosas aberrações; tentam esconder eles que o concílio freia seus erros e proíbe as suas arbitrariedades. Alguns podem alegar que estou sendo duro nas palavras. Mas no momento em que vivemos quando predominam os covardes devem aparecer os duros e zelosos junto à verdade, como profetas que não têm medo de perder sua cabeça por amor ao reino de Deus.

Desde o início a Igreja procurou prestar a Deus um “oficio” puro e perfeito aos moldes dos louvores que prestam continuadamente na eternidade os anjos que ministram na Igreja triunfante composta pelos querubins, serafins, arcanjos, anjos e santos na alegria celeste. Dentre os séculos homens prudentes e iluminados se levantaram a fim de aperfeiçoar e corrigir os erros na liturgia. Para fazer dela um sacrifício perfeito como o de Abel que fora abençoada por Deus. A liturgia sempre foi um misto composto pelas suas raízes hebraicas e legislação dada por Javé á Moisés, que encontra ápice no aprimoramento cristão trazido na encarnação de Cristo e seu sacrifício em expiação de nossos pecados.

As Mentes frívolas de nossos tempos esquecem suas origens e perderam sua identidade. Já não mais fazem para glória de Deus, o sagrado oficio. Mais se gloriam no homem. Em nossos dias os inimigos da religião infiltrados na Igreja vêm a “profanar o santuário, a fortaleza” e como profetiza Daniel, tentam “cessar o holocausto perpétuo” e lutam para instaurar “a abominação do devastador” (cf. Daniel 11,31).

Por isto tomam lugar às arbitrariedades nos movimentos, [exemplo, dança, pulos e gritos]. Sem contar na composição das músicas e nos etilos musicais. Na falta dos paramentos e objetos de uso litúrgico. Mesmo quando os Papas continuam a exortam que cessem os abusos e desregramentos litúrgicos. O Inimigo, a antiga serpente (cf. Ap 20,2) continua e querer ludibriar e atrapalhar o verdadeiro culto a Deus trazendo confusão a Noiva de Cristo. Onde deveria existir o maior de todos os zelos, pois que da Sagrada Liturgia depende a nossa vida de adoração, os livros litúrgicos que deveriam ser luzes; são nestas ocasiões figurantes, as rubricas litúrgicas que deveriam ser sinais nas mãos dos sacerdotes, são negligenciadas. Estes são alguns dos reflexos da “crise na liturgia” que são vistos em muitas celebrações artífices que contribuem para tornar a “Santa Missa” mais humana e menos divina. Quando busco as celebrações ordinárias em minha cidade busco ortodoxia litúrgica, mas o que enxergo e presencio são as palmas de quem não entende nada do que se passa no altar!

Sempre me vêm à memória a Santíssima Virgem, e o apostolo amado e me interpelo como se sentiram vocês “aos pés da Cruz” (cf. Jo 19,25-26). Tinham seus corações repletos de sofrimento, modéstia, espera e silêncio. Estes são os sentimentos que deveriam ser nutridos pelos fieis hoje, são modelos de comportamento ante a realidade da Cruz que na Santa Missa realiza-se o mistério pascal para nossa salvação.

Rezemos para que Deus suscite nos corações dos clérigos e fieis a nuvem de sentimentos e comportamento que detinham os que estavam no Calvário. Que possamos pelejar para que os não católicos ou os que ainda se mantenham longe da sã doutrina vejam com seus olhos que prestamos a Deus um verdadeiro culto e nutrimos e cremos que a Santa Missa é a renovação incruenta do Sacrifício Redentor de Cristo.

Tomemos como palavras para nos guiar em uma melhor postura que devemos alimentar internamente e externamente na Santa Missa, lugar onde Cristo oferece-se de um modo sacramental, debaixo das aparências do Pão e do Vinho. As palavras de São Leonardo de Porto-Maurício.

“Eis o meio mais adequado para assistir com fruto a Santa Missa: consiste em irdes à igreja como se fôsseis ao Calvário, e de vos comportardes diante do altar como o faríeis diante do Trono de Deus, em companhia dos santos anjos. Vede, por conseguinte, que modéstia, que respeito, que recolhimento são necessários para receber o fruto e as graças que Deus costuma conceder àqueles que honram, com sua piedosa atitude, mistérios tão santos.” (São Leonardo de Porto Maurício. Tesouro Oculto).

Que possamos ir à missa e estarmos nela, semelhante aos que assistiram no calvário Jesus Cristo oferece-se de um modo sangrento pelos pecados do homem.

domingo, 17 de fevereiro de 2013

Postulantado Capuchinho - 2013


Hoje,17 de Fevereiro se inicia o postulantado Capuchinho


Casa do Postulantado - Natal/RN
Rua Santo Antonio, 698
Cidade Alta - 59.025-520 
Natal/RN


































































































































































































sábado, 16 de fevereiro de 2013

Os papas que renunciaram


São passados quase 600 anos da última renúncia de um papa, Gregório XII, em 1416. Por isso, a inusitada e impensada renúncia do papa Bento XVII soa estranha, até aqui em Roma. 0s papas que renunciaram o fizeram em situação de forte crise, ou até de caos.

O papa São Clemente I em 97, em meio a uma crise na Igreja de Corinto, onde jovens se rebelaram contra os presbíteros (velhos). Ele escreveu a essa Igreja uma belíssima carta, que rivaliza com a de São Paulo. O cristianismo incipiente intimidava o poder. O imperador Nerva, literalmente mandou o Papa ir arrancar pedras, nas minas do Quersoneso. Parece que ele não renunciou, foi cassado. Sua festa é no dia 23 de novembro.

O papa São Ponciano renunciou formalmente em 235, antes de ser exilado por Maximino, nas minas da Sardenha. No conclave foi eleito o papa Ponciano, mas um grupo elegeu santo Hipólito, também papa. O imperador mandou os dois para o exílio. Ambos são mártires celebrados no dia 13 de agosto. Santo Hipólito - talvez sem querer - é o primeiro antipapa. Por ser mártir e santo, em geral ele não aparece como antipapa.

O papa Silvério, em 537. Em plena Idade Média, era grande a ingerência do poder civil na Igreja. Os ostrogodos invadiram o norte da Itália e chegaram a assediar Roma com 150 mil soldados. Houve falsificação de uma carta do papa Silvério. E em meio a esse caos, o papa teria renunciado. Alguns autores dizem que ele foi formalmente destituído.

O papa João XVIII em 1009. Na época toda a península itálica estava envolta em grande confusão política. Ela foi invadida por Henrique da Baviera, com grandes transtornos. O papa que só cuidava das coisas espirituais, renunciou e retirou-se para a Abadia de São Paulo fora dos Muros, nos arredores de Roma, onde morreu poucos meses depois.

O papa São Celestino V, em 1294. Por lutas internas na Igreja, a sede Pontifícia ficou vacante mais de dois anos. Em julho foi eleito o velho monge Celestino, aos 79 anos. Ele se viu em meio a tanta confusão, que renunciou já em dezembro. Ele é citado por Dante Alighieri na Divina Comédia (Inf. III, 59-60). Ele é o S. Pedro Celestino, festejado em 19 de maio.

O papa Gregório XII, em 1416. Era o tempo difícil dos papas em Avinhão e da volta para Roma. Ele foi eleito apenas por 15 cardeais. Enfrentou grande oposição do outro grupo. Ele tentou por algum tempo, conciliar a situação mas sem resultado, renunciou pelo bem da Igreja. Isso permitiu a eleição de um novo papa de consenso.

O papa atual, Bento XVI, anunciou a sua renúncia para o dia 28 de fevereiro de 2013. Ele enfrentou desde o início uma crise: muitos cardeais não aceitavam o secretário de Estado do Vaticano, D. Tarcísio Bertone, por ele não ser da carreira da Diplomacia do Vaticano. Isso incomodava aos carreiristas. Para mim, a renúncia do papa pode ser interpretada como: “Se ele deve sair, eu saio também!”

A crise cresceu com o anuncio, em janeiro de 2012, de que o papa “morreria” até dezembro e seu sucessor, já estaria designado: o cardeal de Milão Angelo Scola. O aviso escrito foi entregue a D. Bertone e divulgado na imprensa. Os citados nele, negaram o fato, “comme toujours!”

O ápice veio em fevereiro de 2012 quando o livro Sua Santidade publicou documentos particulares do Vaticano. Identificado o culpado, o mordomo (como em Aghata Christie), ele foi preso, julgado, condenado e anistiado em 22 de dezembro de 2012. Ele disse: “Eu fiz isso para salvar a vida do papa”. Sua advogada foi mais enfática:“Quando a verdade dos fatos vier a lume, Paolo Gabriele será homenageado”. A pergunta é: Por ter salvado a vida do papa?

Hermínio Bezerra
freiherkol@yahoo.com.br
Frade

Ritus Romanus et Ritus Modernus: Existiu alguma reforma litúrgica antes de Paulo VI?


No artigo “Quatrocentos anos de Missa Tridentina”, publicado em diversas revistas religiosas, o professor Rennings se aplicou a apresentar o novo missal, ou seja, o Ritus Modernus, como derivação natural e legítima da liturgia romana. Segundo o dito professor, não teria existido uma Missa de São Pio V se não unicamente por cento e trinta e quatro anos, ou seja, de 1570 a 1704, ano no qual apareceu sob as modificações desejadas pelo Romano Pontífice de então. Continuando com tal modo de proceder, Paulo VI, segundo Rennings, teria por sua vez reformado o Missale romanum para permitir aos fiéis entrever algo mais da inconcebível grandeza do dom que o Senhor fez à sua Igreja na Eucaristia.

Em seu artigo, Rennings habilmente se aferrou a um ponto fraco dos tradicionalistas: a expressão Missa Tridentina ou Missa de São Pio V. Propriamente falando uma Missa Tridentina ou de São Pio V nunca existiu, já que, seguindo as instâncias do Concílio de Trento, não foi formado um Novus Ordo Missae, dado que o Missale sancti Pii V não é mais que o Missal da Cúria Romana, que foi se formando em Roma muitos séculos antes, e difundido especialmente pelos franciscanos em numerosas regiões do Ocidente. As modificações efetuadas em sua época por São Pio V são tão pequenas, que são perceptíveis tão somente pelos olhos dos especialistas.

Agora, um dos expedientes a que recorre Rennings, consiste em confundir o Ordo Missae com o Proprium das missas dos diferentes dias e das diferentes festas. Os Papas, até Paulo VI, não modificaram o Ordo Missae, mesmo introduzindo novos próprios para novas festas, o que não destrói a chamada Missa Tridentina mais do que os acréscimos ao Código Civil destroem o mesmo. Portanto, deixando de lado a expressão imprópria de Missa Tridentina, falamos melhor de um Ritus Romanus.

O rito romano remonta em suas partes mais importantes pelo menos ao século V, e mais precisamente ao Papa São Dâmaso (366-384). O Canon Missae, com exceção de alguns retoques efetuados por São Gregório I (590-604), alcançou com São Gelásio I (492-496) a forma que conservou até há pouco. A única coisa sobre a qual os Romanos Pontífices não cessaram de insistir do século V em diante, foi a importância para todos de adotar o Canon Missae Romanae, dado que dito cânon remonta nada menos que ao próprio Apóstolo Pedro.

Respeitaram o uso das Igrejas locais mais para o que diz respeito às outras partes do Ordo, como para o Proprium das várias Missas. Até São Gregório Magno (590-604) não existiu um missal oficial com o Proprium das várias Missas do ano. O Liber Sacramentorum foi redigido por encargo de São Gregório no princípio de seu pontificado, para serviço e uso das Stationes que tinham lugar em Roma, ou seja, para a liturgia pontifical. São Gregório não teve nenhuma intenção de impor o Proprium do dito missal a todas as Igrejas do Ocidente. Se posteriormente o dito missal se converteu no próprio esboço do Missale Romanum de São Pio V, deve-se a uma série de fatores dos quais não podemos tratar agora.

É interessante notar que, quando se interrogou a São Bonifácio (672-754), que se encontrava em Roma, a respeito de algum detalhe litúrgico, como o uso dos sinais da cruz a serem feitos durante o cânon, este não se referiu ao sacramentário de São Gregório, mas àquele que estava em uso entre os Anglo-saxões, cujo cânon estava totalmente de acordo com aquele da Igreja de Roma…

Na Idade Média, as dioceses e as igrejas que não tinham adotado espontaneamente o Missal em uso em Roma, usavam um próprio e por isto nenhum Papa manifestou surpresa ou desgosto… Mas quando a defesa contra o protestantismo tornou necessário um Concílio, o Concílio de Trento encarregou o Papa de publicar um missal corrigido e uniforme para todos. Agora, pois, com a melhor vontade do mundo, eu não chego a encontrar em tal deliberação do Concílio o ecumenismo que Rennings vê. O que fez São Pio V? Como já dissemos, tomou o missal em uso em Roma e em tantos outros lugares, deu-lhe retoques, especialmente reduzindo o número das festas dos Santos que continha. Ele o tornou obrigatório para toda a Igreja? De modo algum! Respeitou até as tradições locais que pudessem se gloriar de ter, pelo menos, duzentos anos de idade. Assim, propriamente: era suficiente que o missal estivesse em uso, pelo menos, há duzentos anos, para que pudesse permanecer em uso ao lado e no lugar daquele publicado por São Pio V. O fato de que o Missale Romanum tenha se difundido tão rapidamente e

tenha sido espontaneamente adotado também em dioceses que tinham o próprio mais que bicentenário, deve-se a outras causas; não, por certo, a pressão exercida sobre elas por Roma. Roma não exerceu sobre elas nenhuma pressão, e isto numa época em que, bem diferente do que acontece hoje, não se falava de pluralismo, nem de tolerância.

O primeiro Papa que ousou inovar o Missal tradicional foi Pio XII, quando modificou a liturgia da Semana Santa. Seja-nos permitido observar, a respeito, que nada impedia de restabelecer a Missa do Sábado Santo no curso da noite de Páscoa, ainda que sem modificar o rito. João XXIII o seguiu por este caminho, retocando as rubricas. Mas nem um nem o outro, ousaram inovar sobre o Ordo Missae, que continuou invariável. Porém a porta tinha sido aberta, e por ela cruzaram aqueles que queriam uma substituição radical da liturgia tradicional e que a obtiveram. Nós, que tínhamos assistido com espanto a esta resolução, contemplamos agora aos nossos pés as ruínas, não da Missa Tridentina, mas da antiga e tradicional Missa Romana, que foi se aperfeiçoando através do curso dos séculos até alcançar sua maturidade. Não era perfeita a ponto de não ser ulteriormente mais aperfeiçoada, mas para adaptá-la ao homem de hoje não havia necessidade de substituí-la: bastavam alguns pequeníssimos retoques, deixando a salvo e imutável todo o resto.

Mas ao contrário, quiseram suprimi-la e substituí-la com uma liturgia nova, preparada com precipitação e, diremos, artificialmente: com o Ritus Modernus. Ó, como se vê aparecer de modo sempre mais claro e alarmante o oculto fundo teológico desta reforma! Sim, era fácil obter uma mais ativa participação dos fiéis nos santos mistérios, segundo as disposições conciliares, sem necessidade de transformar o rito tradicional.

Porém a meta dos reformadores não era obter a mencionada maior participação ativa dos fiéis, mas fabricar um rito que interpretasse sua nova teologia, aquela mesma que está na base dos novos catecismos escolares. Já se vêem agora as conseqüências desastrosas que não se revelarão plenamente até que passem uns cinqüenta anos.

Para chegar aos seus objetivos, os progressistas souberam explorar mui habilmente a obediência às prescrições romanas dos sacerdotes e dos féis mais dóceis… A fidelidade e o respeito devido ao Pai da Cristandade não chegam ao ponto de exigir uma aceitação despojada do devido sentido crítico de todas as novidades introduzidas em nome do Papa.

A fidelidade à Fé, antes de tudo! Agora, a Fé, parece-me que se encontra em perigo com a nova liturgia, ainda que não me atreva a declarar inválida a Missa celebrada segundo o Ritus Modernus.

É possível que vejamos a Cúria Romana e certos bispos – aqueles mesmos que nos querem obrigar, com suas ameaças, a adotar o Ritus Modernus –, descuidar de seu próprio dever específico de defensores da Fé, permitindo certos professores de teologia a enterrar os dogmas mais fundamentais de nossa Fé e aos discípulos dos mesmos propagar ditas opiniões heréticas em periódicos, livros e catecismos?

O Ritus Romanus permanece como o último rochedo no meio da tempestade. Os inovadores sabem muito bem disso. Daqui parte seu ódio furioso contra o Ritus Romanus, que combatem sob o pretexto de combater uma nunca existida Missa Tridentina. Conservar o Ritus Romanus não é uma questão de estética: é, para nossa Santa Fé, questão de vida ou morte. Logo tornaremos ao assunto.

Monsenhor Klaus Gamber – A reforma da liturgia Romana (tradução de Luis Augusto Rodrigues Domingues)

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sexta-feira, 15 de fevereiro de 2013

“Nós queremos os jovens protagonistas integrados na comunidade", diz presidente da CNBB sobre Campanha da Fraternidade


domdamascnoroxo

“Nós queremos os jovens protagonistas integrados na comunidade que os acolhe, demonstrando a confiança que a Igreja deposita em cada um deles”: esta é a finalidade da Campanha da Fraternidade (CF) deste ano segundo o Presidente da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, Card. Raymundo Damasceno Assis.


A CF deste ano tem como tema “Fraternidade e Juventude” e o lema “Envia-me”. Eis o que disse o Card. Raymundo entrevistado pela Rádio Vaticano:

Primeiramente, nós estamos celebrando os 50 anos da Campanha da Fraternidade. Ela começou em Natal em 1962. A CF deste ano se insere dentro da preparação da visita do Papa para a próxima Jornada Mundial da Juventude. Sabemos que o Papa Bento XVI havia prometido estar no Rio de Janeiro para presidir a JMJ, mas com a sua renúncia nós esperamos e cremos que seu sucessor estará presente no Rio no mês de julho próximo.
 
A CF com este tema, Fraternidade e Juventude, tem seus antecedentes. Em 2011, a Assembleia dos Bispos do Brasil criou a Comissão Episcopal Pastoral para a Juventude – uma Comissão que tem como objetivo acompanhar as pastorais da juventude aqui no Brasil: as pastorais da juventude, os movimentos apostólicos, novas comunidades e acompanhar também aquelas congregações que têm como carisma a dedicação, a formação dos nossos jovens, para que o trabalho da juventude aqui em nosso país seja feito na unidade dentro da diversidade dos carismas e de cada um dos movimentos e das novas comunidades. Visando criar em cada uma das dioceses o chamado “setor da juventude” – um setor que compreende todos aqueles que trabalham com a juventude.
 
A CF visa também preparar de uma forma “mais próxima” a JMJ e nós queremos com esta CF, e queremos fazê-la com os jovens e para os jovens, procurar despertar na nossa sociedade, nas nossas comunidades essa importância dos jovens. Nós devemos, como diz o Papa na sua mensagem para CF, ajudar os jovens a tornarem-se protagonistas de uma sociedade mais justa, mais fraterna, inspirada no Evangelho. E o Papa afirma que se os jovens forem o presente, eles serão também o futuro. Nós queremos os jovens protagonistas integrados na comunidade que os acolhe, demonstrando a confiança que a Igreja deposita em cada um deles.

Em Roma, Dom Orani agradecerá ao Papa por JMJ ser no Rio



Da Redação, com Assessoria da JMJ


No próximo dia 27, um dia antes da oficialização da renúncia do Papa Bento XVI, o arcebispo do Rio e presidente do Comitê Organizador Local (COL), Dom Orani João Tempesta, viajará para Roma, onde agradecerá ao Sumo Pontífice pelo seu trabalho à frente da Igreja, e pela escolha da cidade do Rio de Janeiro como sede da próxima JMJ.

Em entrevista, realizada na tarde desta quinta-feira, 14, para o programa Conexão Rio do site Aleteia, o arcebispo falou que o sentimento é de gratidão a Bento XVI, por ter conduzido a Igreja com fé e racionalidade em momentos difíceis.

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Dom Orani comentou também sobre sua reação ao receber a notícia da renúncia do Papa Bento XVI. Segundo ele, assim como em todos os brasileiros, a notícia causou grande surpresa.

Ele se encontrava na Basílica de Nossa Senhora de Lourdes (zona norte do Rio) para celebrar a festa da padroeira, quando recebeu várias mensagens em seu celular. No início, não acreditou, achava que eram boatos, até que recebeu uma mensagem de Roma, confirmando o fato. Segundo ele, depois do grande susto, o arcebispo do Rio refletiu a situação e compreendeu a atitude de Bento XVI, que apenas agia de acordo a vontade de Deus.

Quanto às comparações entre Bento XVI e o Beato João Paulo II, Dom Orani destacou que não cabe nem julgar, nem comparar, mas perceber e valorizar a obediência e resposta de cada um ao serviço pela Igreja Católica e o trabalho de evangelização realizado mundialmente.

Esclarecendo dúvidas sobre a Jornada Mundial da Juventude, Dom Orani assegurou que todos os trabalhos em preparação para o encontro mundial de jovens continuam normalmente, tendo em vista que Bento XVI já havia dito que, caso ele não pudesse participar da Jornada, seu sucessor iria em seu lugar.  As únicas possíveis mudanças serão efetuadas na agenda do novo Pontífice, como os lugares por onde ele passará. “Esta será uma jornada de dois papas, um que estará em oração pelo encontro e outro que presidirá as celebrações”, disse o arcebispo.

Sobre a possibilidade de ser o primeiro anfitrião do novo Papa, o arcebispo do Rio diz que a apresentação do pontífice ao mundo durante a JMJ será um belo sinal de novos tempos para a juventude católica, com muita alegria de todos, e as orações de Bento XVI.

Quanto ao fato de um novo pontífice durante a JMJ e a curiosidade que pode atrair mais fiéis que o esperado, Dom Orani foi taxativo ao dizer que este é um evento que, por si só, atrai a atenção e a participação de todos os católicos e que este novo momento para a Igreja apenas aumenta o interesse dos peregrinos. Ainda destacou que a maior preocupação dos organizadores é de acolher, da melhor maneira possível, a todos os que virão para o viver esta experiência no Rio de Janeiro.

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