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Sejam Bem-Vindos!
Padre Cícero Romão Batista
domingo, 25 de outubro de 2015
quarta-feira, 21 de outubro de 2015
Cardeal de Bombaim aos LGBTs: “A Igreja abraça vocês, quer vocês, precisa de vocês”
O senhor percebe algum dom que as pessoas lésbicas ou gays trazem à Igreja?
Posso ver que há uma grande hesitação por parte dos padres sinodais a tocarem, de fato, neste tópico. Dessa forma, posso ver que o Sínodo irá provavelmente dizer que nós devemos acolhê-los em nossos trabalhos pastorais. Algo muito gentil e limitado, ao mesmo tempo. Não espero que nós possamos dizer muito além disso.
domingo, 2 de agosto de 2015
O perdão de Assis
Segundo o testemunho de Bartolomeu de Pisa, a origem da Indulgência da Porciúncula se deu assim:
Uma noite, do ano do Senhor de 1216, Francisco estava compenetrado na oração e na contemplação na igrejinha da Porciúncula, perto de Assis, quando, repentinamente, a igrejinha ficou repleta de uma vivíssima luz e Francisco viu sobre o altar o Cristo e à sua direita a sua Mãe Santíssima, circundados de uma multidão de anjos. Francisco, em silêncio e com a face por terra, adorou a seu Senhor.
Perguntaram-lhe, então, o que ele desejava para a salvação das almas. A resposta de Francisco foi imediata: “Santíssimo Pai, mesmo que eu seja um mísero pecador, te peço, que, a todos quantos arrependidos e confessados, virão a visitar esta igreja, lhes conceda amplo e generoso perdão, com uma completa remissão de todas as culpas”.
O Senhor lhe disse: “Ó Irmão Francisco, aquilo que pedes é grande, de coisas maiores és digno e coisas maiores tereis: acolho portanto o teu pedido, mas com a condição de que tu peças esta indulgência, da parte minha, ao meu Vigário na terra (Papa)”.
E imediatamente, Francisco se apresentou ao Pontífice Honório III que, naqueles dias encontrava-se em Perusia e com candura lhe narrou a visão que teve. O Papa o escutou com atenção e, depois de alguns esclarecimentos, deu a sua aprovação e disse: “Por quanto anos queres esta indulgência”? Francisco, destacadamente respondeu-lhe: “Pai santo, não peço por anos, mas por almas”.
E feliz, se dirigiu à porta, mas o Pontífice o reconvocou: “Como, não queres nenhum documento”? E Francisco respondeu-lhe: “Santo Pai, de Deus, Ele cuidará de manifestar a obra sua; eu não tenho necessidade de algum documento. Esta carta deve ser a Santíssima Virgem Maria, Cristo o Escrivão e os Anjos as testemunhas”.
E poucos dias mais tarde, junto aos Bispos da Úmbria, ao povo reunido na Porciúncula, Francisco anunciou a indulgência plenária e disse entre lágrimas:”Irmãos meus, quero mandar-vos todos ao paraíso!”
sábado, 1 de agosto de 2015
A vida religiosa consagrada
Por ocasião do cinquentenário da promulgação do decreto conciliar Perfectae Caritatis, sobre a renovação da vida religiosa, o Papa Francisco convocou um ano dedicado à vida consagrada. Mas o que é a vida religiosa? Qual a sua natureza? Ela é parte essencial da Igreja, ou é uma invenção humana? O que ela tem para oferecer à Igreja nos seus tempos de crise?
Em primeiro lugar, a vida religiosa é um caminho privilegiado para alcançar a santidade. O Papa João Paulo II observa que, "na manifestação da santidade da Igreja,há que reconhecer uma objetiva primazia à vida consagrada" [1]. E ainda:
"Os santos e as santas sempre foram fonte e origem de renovação nas circunstâncias mais difíceis, ao longo de toda a história da Igreja. Hoje, temos muita necessidade de santos, graça esta que devemos implorar continuamente a Deus. Os Institutos de vida consagrada, mediante a profissão dos conselhos evangélicos, devem estar conscientes da sua especial missão na Igreja de hoje, e nós devemos encorajá-los nessa sua missão." [2]
Ou seja, a vida consagrada, para ser fiel à sua essência, precisa ser uma "fábrica de santos". Mas, o que significa "ser santo"? O próprio nome do decreto conciliar sobre a vida religiosa indica o caminho: trata-se da "perfectae caritatis prosecutionem – consecução da caridade perfeita". A santidade não é um moralismo – um cuidado escrupuloso com o que é ou não pecado –, mas um progresso no amor. A Igreja ensina que o amor verdadeiro deve ser caridade (αγάπη), tendo Deus como objeto formal. Isso significa amar a Deus, ao próximo e a si mesmo, por causa de Deus. Em sua condição, o homem experimenta uma espécie de "poder de destruição". Mesmo quando se dispõe a fazer as coisas certas, ele pode destruir aquilo que ama, colocando seu casamento, suas amizades e relacionamentos em perigo. Só amando as pessoasem Deus é que ele pode amar de verdade. A santidade, então, resume-se a isto: amar e crescer no amor.
Para chegar à meta, todavia, existem métodos, dos quais a profissão dos conselhos evangélicos se sobressai. Os religiosos, como se sabe, fazem esta profissão, com o fim de entregar-se totalmente a Deus, em holocausto (do grego "ὁλός", que quer dizer "todo"), como chama de amor. É verdade que todos os cristãos, independentemente do estado de vida, podem e devem entregar-se a Deus. Os religiosos, porém, fazem um ato ainda mais generoso, ofertando até o que não precisavam dispor: os seus bens externos – pelo voto de pobreza –, o seu corpo – pelo voto de castidade – e a sua alma – pelo voto de obediência. Pela vivência cotidiana destes votos, eles são chamados a progredir até a "perfeição da caridade" – que é o fim para que tende toda a vida consagrada.
Este testemunho, de fato, oferece à Igreja uma missão profética. Chamados de modo especial e agraciados com "um dom específico do Espírito Santo" [3], os religiosos lembram a todos os cristãos que eles devem estar dispostos a viver os conselhos evangélicos, caso se lhes apresente a necessidade. Para ser cristão, nenhuma pessoa é obrigada a fazer voto expresso de pobreza, mas, se a necessidade a visitar – caso venha a perder seus bens e propriedades, por exemplo –, ela deve resignar-se e encarar com amor a sua condição. Quantas vezes, também, casais em santo matrimônio não são chamados a viver o celibato, quando, por exemplo, um cônjuge fica doente ou se ausenta por um tempo? Por isso, mesmo quem não fez o voto específico de pobreza, obediência ou castidade, deve viver o seu espírito.
Após o Concílio Vaticano II, começou-se um debate sobre a vida consagrada, com duas visões bem opostas sobre o tema. Uma primeira corrente tendia a enxergar os religiosos como simples leigos, os quais, portanto, não teriam nenhuma consagração especial, a não ser o seu Batismo. Essa visão fez muitas congregações se perderem no caminho. Irmãos e irmãs em crise de identidade – afinal, se não tinham nenhuma vocação especial, o que faziam reclusos? – tiraram o seu hábito, saíram dos conventos e voltaram para suas casas.
A isto opôs-se energicamente o Papa João Paulo II, apresentando o ensinamento tradicional da Igreja: o de que o religioso tem sim uma consagração especial e não pode, portanto, levar uma vida meramente laical. É certo que os cristãos de vida religiosa não foram consagrados como um sacerdote. Este recebeu uma consagraçãosacramental (ou ontológica) – o mesmo que acontece no Batismo, por exemplo. Ao entregar à Igreja os seus votos, porém, os religiosos também se consagram: fazem uma consagração moral, ou seja, um ato de vontade seu os separa para Deus.
"Na tradição da Igreja, a profissão religiosa é considerada como um singular e fecundo aprofundamento da consagração batismal (...). Todavia esta nova consagração reveste uma sua peculiaridade relativamente à primeira, da qual não é uma consequência necessária. Na verdade, todo aquele que foi regenerado em Cristo é chamado a viver, pela força que lhe vem do dom do Espírito, a castidade própria do seu estado de vida, a obediência a Deus e à Igreja, e um razoável desapego dos bens materiais, porque todos são chamados à santidade, que consiste na perfeição da caridade. Mas o Batismo, por si mesmo, não comporta o chamamento ao celibato ou à virgindade, a renúncia à posse dos bens, e a obediência a um superior, na forma exigida pelos conselhos evangélicos. Portanto, a profissão destes últimos supõe um dom particular de Deus não concedido a todos, como Jesus mesmo sublinha no caso do celibato voluntário (cf. Mt 19, 10-12)." [4]
Por isso, a vida religiosa sempre foi uma "fábrica de santos". Desde o início, com Santo Agostinho, São Bento e São Gregório Magno, passando pela crise da Reforma, com os dominicanos, jesuítas e carmelitas, até os dias de hoje, é da vida consagrada que Cristo tira o fôlego para revigorar constantemente a Sua Esposa. A fim de resistir e lutar contra o demônio, que quer destruir esta realidade tão importante, é urgente que todos os cristãos vivam a sua vocação universal à santidade e que os religiosos não desanimem e se entreguem cada vez mais a Deus, que alimenta e fortalece a sua consagração.
domingo, 5 de julho de 2015
sexta-feira, 12 de junho de 2015
Gays amorizados: Uma reflexão da parada gay
A Parada Gay de São Paulo fez um enorme barulho. Muito barulho é sinal de que existe um grande vazio. Existe vazio nos causadores do barulho, nos que o ouvem, o acolhem, ou reclamam. Existem muitos vazios nos tempos atuais, como podemos constatar em nós mesmos. Esses vazios são como que buracos existenciais que somente serão preenchidos se houver o acolhimento de um amor maior.
Quando se perde o sentido da vida ela fica vazia, sem alegria e a pessoa fica sem motivações para viver. Vida vazia é vida aberta para o mundo da droga, da violência, do desrespeito, da exploração que se torna visível em toda atitude de desamor. É preciso novamente amorizar a vida. A melhor sugestão para se entrar no processo de amorização é viver a partir de Jesus que amou até aqueles que o desrespeitaram e lhe tiraram a vida.
A Igreja ama com o coração de Cristo. O que aconteceu em São Paulo, embora com uma linguagem não comum, pode ser um pedido de abertura para deixar Deus entrar na vida e, seguir na mesma, com a leveza de quem ama a Cruz do Cristo e ama aquela cruz que Ele pediu que todo discípulo a carregasse todos os dias. Os sofrimentos dos homessexuais são cruzes que somente eles conhecem o seu peso e suas dores. Em Cristo e na comunidade de seus discípulos eles encontram o alívio para suas angústias e proteção para as ameaças. As ações da Igreja tem provado isso.
Certamente lá no meio de tantos barulhentos que estavam na Parada Gay, existiam algumas pessoas gays que eram o Sal da terra e a Luz do mundo como pediu Jesus. No peito de algumas pessoas que ali estavam certamente ardia o amor de Jesus e não concordavam com os absurdos cometidos. Existem muitos homessexuais que vivem de forma digna, cristã e prestam um grande serviço nas famílias e na comunidade.
Uma presença Cristã no meio dos mais variados setores da sociedade faz as sementes do Reino germinar e crescer. Deus escolhe algumas pessoas, as capacita e as coloca no meio do mundo para ajudar o mundo a ser melhor.
A forma exagerada, desrespeitosa e maldosa de manifestar o sofrimento causou muita estranheza e revelou uma fraqueza de fé, mas Deus ama e se aproxima daqueles que lhes faltam esse valor fundamental e especialmente quando alguém hospeda a dor, em si. A falta de fé é curável. Muitas vezes uma fé pura salva a vida, como Jesus gostava de dizer “ A tua fé te salvou” (Cf. Mc 5,34; Lc 7,50).
Onde existe uma pessoa que sofre podemos ter certeza que Cristo está sofrendo naquela pessoa. Por este motivo o caminho da Igreja será sempre um caminho de cura, de libertação, de construção da paz e valorização do ser humano. A Igreja jamais vai expor a imagem de um Gay desrespeitando-o porque o ama com o amor de Jesus. Ela só conseguiria ultrajar a imagem de um de seus filhos, mesmo que ingrato, se estive muito vazia do amor de Cristo, mas nunca está. Todas as pessoas querem ser amadas. Jesus merece ser amado por todos nós, apesar da nossa fragilidade humana. É preciso que todos se deem as mãos e vivam em favor do bem, amando, convivendo com as diferenças e se respeitando mutuamente. O caminho do amor é o melhor caminho.
Dom Messias dos Reis Silveira
Bispo de Uruaçu GO
terça-feira, 12 de maio de 2015
O amor como transformação
É através do nosso coração, do nosso amor que podemos mudar a nossa realidade. Sem amor nada se constrói porque sem este dom tão precioso vamos ficando egoístas. Por isso o Papa Francisco nos alerta para que sempre devemos cuidar do nosso coração pois é de lá somente de lá que saí tudo, tanto bom quando as coisas ruins.
Uma das coisas que nos ajuda a superar tantas magoas e feridas que temos são as nossas relações sadias de grandes amizades, as mesmas nos dão ao mesmo tempo iluminações e força para sempre ir mais além do que podemos pensar, pois uma verdadeira amizade nos aponta o céu, nos aponta o Cristo, a vida e a ressurreição. Uma amizade que nos aponta o inferno, a destruição, o ódio, o egoísmo é simplesmente falsa. Não nos faz crescer e amadurecer na fé e na caminhada como cristãos e seguidores do mestre.
Que cada dia de nossa vida possamos sempre buscar estes relacionamentos que nos apontem o céu, a santidade para estarmos felizes e libertos diante de Deus e dos irmãos.
Frei Vinicius Caíque da S. Bezerra, OFMCap.
quarta-feira, 29 de abril de 2015
quinta-feira, 2 de abril de 2015
Homilia do Papa Francisco na Missa Crismal
«A minha mão estará sempre com ele / e o meu braço há-de torná-lo forte» (Sl 89/88, 22). Assim pensa o Senhor, quando diz para consigo: «Encontrei David, meu servo, / e ungi-o com óleo santo» (v. 21). Assim pensa o nosso Pai cada vez que «encontra» um padre. E acrescenta: «A minha fidelidade e o meu amor estarão com ele / (...) Ele me invocará, dizendo: “Tu és meu pai, / és o meu Deus e o rochedo da minha salvação”» (vv. 25.27). É muito bom entrar, com o Salmista, neste solilóquio do nosso Deus. Ele fala de nós, os seus sacerdotes, os seus padres; na realidade, porém, não é um solilóquio, não fala sozinho. É o Pai que diz a Jesus: «Os teus amigos, aqueles que Te amam, poderão dizer-Me de uma maneira especial: “Tu és o meu Pai”» (cf. Jo 14, 21). E, se o Senhor pensa e Se preocupa tanto com o modo como poderá ajudar-nos, é porque sabe que a tarefa de ungir o povo fiel é dura; causa fadiga e leva-nos ao cansaço. E nós experimentamo-lo em todas as suas formas: desde o cansaço habitual do trabalho apostólico diário até ao da doença e da morte, incluindo o consumar-se no martírio. O cansaço dos sacerdotes! Sabeis quantas vezes penso nisto, no cansaço de todos vós? Penso muito e rezo com frequência, especialmente quando sou eu que estou cansado. Rezo por vós que trabalhais no meio do povo fiel de Deus, que vos foi confiado; e muitos fazem-no em lugares demasiado isolados e perigosos. E o nosso cansaço, queridos sacerdotes, é como o incenso que sobe silenciosamente ao Céu (cf. Sl 141/140, 2; Ap 8, 3-4). O nosso cansaço eleva-se directamente ao coração do Pai. Estai certos de que também Nossa Senhora Se dá conta deste cansaço e, imediatamente, fá-lo notar ao Senhor. Como Mãe, sabe compreender quando os seus filhos estão cansados, e só disso se preocupa. «Bem-vindo! Descansa, meu filho. Depois falamos... Não estou aqui eu, que sou tua Mãe?»: dir-nos-á ao abeirarmo-nos d’Ela (cf. Evangelii gaudium, 286). E dirá, ao seu Filho, como em Caná: «Não têm vinho!» (Jo 2, 3). Pode acontecer também que, ao sentir o peso do trabalho pastoral, nos venha a tentação de descansarmos de um modo qualquer, como se o repouso não fosse uma coisa de Deus. Não caiamos nesta tentação! A nossa fadiga é preciosa aos olhos de Jesus, que nos acolhe e faz levantar o ânimo: «Vinde a Mim, todos os que estais cansados e oprimidos, que Eu hei-de aliviar-vos» (Mt 11, 28). Se uma pessoa sabe que, morta de cansaço, pode prostrar-se em adoração e dizer: «Senhor, por hoje basta!», rendendo-se ao Pai, sabe também que não tomba mas renova-se, pois o Senhor que ungiu com o óleo da alegria o povo fiel de Deus, também a unge a ela: «Muda a sua cinza em coroa, o seu semblante triste em perfume de festa e o seu abatimento em cantos de festa» (cf. Is 61, 3). Tenhamos bem em mente que uma chave da fecundidade sacerdotal reside na forma como repousamos e como sentimos que o Senhor cuida do nosso cansaço. Como é difícil aprender a repousar! Nisto transparece a nossa confiança e a consciência de que também nós somos ovelhas. A propósito, podem ajudar-nos algumas perguntas. Sei repousar recebendo o amor, a gratidão e todo o carinho que me dá o povo fiel de Deus? Ou, depois do trabalho pastoral, procuro repousos mais refinados: não os repousos dos pobres, mas os que oferece a sociedade de consumo? O Espírito Santo é verdadeiramente, para mim, «repouso na fadiga», ou apenas Aquele que me faz trabalhar? Sei pedir ajuda a qualquer sacerdote experiente? Sei repousar de mim mesmo, da minha auto-exigência, da minha auto-complacência, da minha auto-referencialidade? Sei conversar com Jesus, com o Pai, com a Virgem Maria e São José, com os meus Santos padroeiros e amigos, para repousar nas suas exigências – que são suaves e leves – nas suas complacências – eles gostam de estar na minha companhia – nos seus interesses e referências – só lhes interessa a maior glória de Deus? Sei repousar dos meus inimigos, sob a protecção do Senhor? Vou argumentando, tecendo e ruminando repetidamente cá para comigo a minha defesa, ou confio-me ao Espírito que me ensina o que devo dizer em cada ocasião? Preocupo-me e afano-me excessivamente ou encontro repouso, dizendo como Paulo: «Sei em quem acreditei» (2 Tm 1, 12). Repassemos brevemente os compromissos dos sacerdotes, que proclama a liturgia de hoje: levar a Boa-Nova aos pobres, anunciar a libertação aos cativos e a cura aos cegos, dar a liberdade aos oprimidos e proclamar o ano de graça do Senhor. Isaías diz também cuidar daqueles que têm o coração despedaçado e consolar os aflitos. Não são tarefas fáceis, externas, como, por exemplo, as actividades manuais: construir um novo salão paroquial, ou traçar as linhas dum campo de futebol para os jovens do oratório, etc. Os compromissos mencionados por Jesus envolvem a nossa capacidade de compaixão: são compromissos nos quais o nosso coração estremece e se comove. Alegramo-nos com os noivos que vão casar; rimos com a criança que trazem para baptizar; acompanhamos os jovens que se preparam para o matrimónio e para ser família; entristecemo-nos com quem recebe a extrema-unção no leito do hospital; choramos com os que enterram uma pessoa querida... Tantas emoções, tanto carinho cansam o coração do pastor. Para nós, sacerdotes, as histórias do nosso povo não são um noticiário: conhecemos a nossa gente, podemos adivinhar o que se passa no seu coração; e o nosso, sofrendo com eles, vai-se desgastando, divide-se em mil pedaços, compadece-se e parece até ser comido pelas pessoas: tomai, comei. Esta é a palavra que o sacerdote de Jesus sussurra sem cessar, quando está a cuidar do seu povo fiel: tomai e comei, tomai e bebei... E, assim, a nossa vida sacerdotal se vai doando no serviço, na proximidade ao povo fiel de Deus, etc., o que sempre cansa. Gostaria agora de partilhar convosco alguns cansaços, em que meditei. Temos aquele que podemos chamar «o cansaço do povo, das multidões»: para o Senhor, como o é para nós, era desgastante – di-lo o Evangelho – mas é um cansaço bom, um cansaço cheio de frutos e de alegria. O povo que O seguia, as famílias que Lhe traziam os seus filhos para que os abençoasse, aqueles que foram curados e voltavam com os seus amigos, os jovens que se entusiasmavam com o Mestre… Não Lhe deixavam sequer tempo para comer. Mas o Senhor não Se aborrecia de estar com a gente. Antes pelo contrário, parecia que ganhava nova energia (cf. Evangelii gaudium, 11). Este cansaço habitual no meio da nossa actividade é uma graça que está ao alcance de todos nós, sacerdotes (cf. ibid., 279). Como é belo tudo isto: o povo amar, desejar e precisar dos seus pastores! O povo fiel não nos deixa sem actividade directa, a não ser que alguém se esconda num escritório ou passe pela cidade com vidros escuros. E este cansaço é bom, é saudável. É o cansaço do sacerdote com o cheiro das ovelhas, mas com o sorriso de um pai que contempla os seus filhos ou os seus netinhos. Isto não tem nada a ver com aqueles que conhecem perfumes caros e te olham de cima e de longe (cf. ibid., 97). Somos os amigos do noivo: esta é a nossa alegria. Se Jesus está apascentando o rebanho no meio de nós, não podemos ser pastores com a cara azeda ou melancólica, nem – o que é pior – pastores enjoados. Cheiro de ovelhas e sorriso de pais... Muito cansados, sim; mas com a alegria de quem ouve o seu Senhor que diz: «Vinde, benditos de meu Pai!» (Mt 25, 34). Existe depois aquele que podemos chamar «o cansaço dos inimigos». O diabo e os seus sectários não dormem e, uma vez que os seus ouvidos não suportam a Palavra de Deus, trabalham incansavelmente para a silenciar ou distorcer. Aqui o cansaço de enfrentá-los é mais árduo. Não se trata apenas de fazer o bem, com toda a fadiga que isso implica, mas é preciso também defender o rebanho e defender-se a si mesmo do mal (cf. Evangelii gaudium, 83). O maligno é mais astuto do que nós e é capaz de destruir num instante aquilo que construímos pacientemente durante muito tempo. Aqui é preciso pedir a graça de aprender a neutralizar: neutralizar o mal, não arrancar a cizânia, não pretender defender como super-homens aquilo que só o Senhor deve defender. Tudo isto ajuda a não nos deixar cair os braços à vista da espessura da iniquidade, frente à zombaria dos malvados. Eis a palavra do Senhor para estas situações de cansaço: «Tende confiança! Eu já venci o mundo» (Jo 16, 33). E, por último (para que esta homilia não vos canse!), há também «o cansaço de nós próprios» (cf. Evangelii gaudium, 277). É talvez o mais perigoso. Porque os outros dois derivam do facto de estarmos expostos, de sairmos de nós mesmos para ungir e servir (somos aqueles que cuidam). Diversamente, este cansaço é mais auto-referencial: é a desilusão com nós mesmos, mas sem a encararmos de frente, com a alegria serena de quem se descobre pecador e carecido de perdão; é que, neste caso, a pessoa pede ajuda e segue em frente. Trata-se do cansaço que resulta de «querer e não querer», de ter apostado tudo e depois pôr-se a chorar pelos alhos e as cebolas do Egipto, de jogar com a ilusão de sermos outra coisa qualquer. Gosto de lhe chamar o cansaço de «fazer a corte ao mundanismo espiritual». E, quando uma pessoa fica sozinha, dá-se conta de quantos sectores da vida foram impregnados por este mundanismo e temos até a impressão de que não há banho que o possa lavar. Aqui pode haver um cansaço mau. A palavra do Apocalipse indica-nos a causa deste cansaço: «Tens constância, sofreste por causa de Mim, sem te cansares. No entanto, tenho uma coisa contra ti: abandonaste o teu primeiro amor» (2, 3-4). Só o amor dá repouso. Aquilo que não se ama, cansa; e, com o passar do tempo, torna-se um cansaço mau. A imagem mais profunda e misteriosa do modo como o Senhor cuida do nosso cansaço pastoral – «Ele que amara os seus (…), levou o seu amor por eles até ao extremo» (Jo 13,1) – é a cena do lava-pés. Gosto de a contemplar como o lava-seguimento. O Senhor purifica o próprio seguimento, Ele «envolve-Se» connosco (Evangelii gaudium, 24), tem pessoalmente o cuidado de lavar todas as manchas, aquela sujeira mundana e gordurosa que se apegou a nós no caminho que percorremos em seu Nome. Sabemos que, nos pés, se pode ver como está todo o nosso corpo. No modo de seguir o Senhor, manifesta-se como está o nosso coração. As chagas dos pés, os entorses e o cansaço são sinal de como O seguimos, das estradas que percorremos à procura das ovelhas perdidas, tentando conduzir o rebanho aos prados verdejantes e às águas tranquilas (cf. ibid., 270). O Senhor lava-nos e purifica-nos de tudo aquilo que se acumulou nos nossos pés ao segui-Lo. Isto é sagrado. Não permitais que fique manchado. Como Ele beija as feridas de guerra, assim lava a sujeira do trabalho. O seguimento de Jesus é lavado pelo próprio Senhor para que nos sintamos no direito de ser e viver «alegres», «satisfeitos», «sem medo nem culpa» e, assim, tenhamos a coragem de sair e ir, «a todas as periferias até aos confins do mundo», levar esta Boa-Nova aos mais abandonados, sabendo que «Ele estará sempre connosco até ao fim dos tempos». E saibamos aprender a estar cansados, mas com um cansaço bom!
Papa Francisco
quinta-feira, 26 de março de 2015
Novinter
De 23 a 26 deste, estivemos reunidos no Juvenato Maria auxiliadora das Irmãs Salesianas em Carpina várias congregações e ordens. Entre eles: capuchinhos, menores, damas, beneditinas, santo Antônio, etc. Em que refletirmos a história da vida religiosa consagrada e conjuntura eclesial.
Podemos entender um pouco mais da nossa história de VRC desde os seus primórdios e compreender e fazer uma leitura da conjuntura eclesial a partir do Concílio Vaticano II e a encíclica Evangelli Gaudium, A alegria do Evangelho do Papa Francisco.
Em breve mais fotos do encontro!
segunda-feira, 16 de março de 2015
Notícias
Caríssimos,
Aos poucos estamos contando as nossas postagens no nosso blog. Estamos chegando às proximidades da páscoa do Senhor, que possamos cada vez mas nos preparar para este momento. Com alegria acompanhamos o anúncio do ano jubilar extraordinário, o Ano Santo da Misericórdia anunciado pelo Papa Francisco. Vamos caminhando juntos trilhar e fazer uma igreja sempre mais aberta sem medo de amar.
terça-feira, 3 de março de 2015
comunicado
Estamos no tempo da quaresma. Tempo este de mais silêncio e oração. Neste ano estou no noviciado e por isso o blog está um pouco desatualizado. Mais após a quaresma o blog estará voltando ao seu funcionamenro normal. Que o Deus da vida e a Virgem Maria os abençoe.
Abraço fraterno,
Frei Vinicius Caique da S. Bezerra - frade capuchinho
quarta-feira, 21 de janeiro de 2015
Terrorista se converte e realiza sonho de infância: entrar para o mosteiro
Alguns seres humanos que colocaram em ação o terror podem se libertar e curar a maldade para renascer para uma vida nova. Deus foi e é a razão desta “ressurreição” no caso do ex-terrorista do ETA Jean Philippe Saez.
Saez foi educado no amor pela tradição dos pais, e aos 19 anos era conhecedor de Txistu (flauta tradicional). Eram os anos sessenta quando Domingo Iturbe Abasoloi, aliás Txomin, o “alistou" e o formou para torná-lo membro do primeiro comando operativo (Argala) do ETA. O grupo colocou em ação seus primeiros ataques terroristas na Espanha em 1978 e 1979.
“Naquele momento”, confessou anos depois Philippe, “o ETA representava o mito dos dias gloriosos da luta contra Franco. Unir-me a eles era uma espécie de exaltação para mim, mas logo tive de viver na clandestinidade”.
Philippe, chamado “Txistu”, descobriu rapidamente o macabro sentimento de ser protagonista do terror do ETA, participando de pelo menos quatro atentados nos quais os seus companheiros mataram sete pessoas: o industrial José Legaza, o magistrado José Francisco Mateu, o general Constantino Ortiz, o tenente geral Luis Gómes Ortigüela, os coronéis Agustín Laso e Jesús Avelós e o motorista Lorenzo Gómez.
Phillippe, auxiliar no último atentado em Laso, Avelós e Gómez, naquele dia estava prestes a fugir, mas este ato teria significado assinar a própria condenação de morte. Aproveitando os meses de “silêncio” que a própria organização havia imposto para que passasse despercebido, uma vez voltando à França, confessou-se, começou a ir regularmente à Missa e no seu coração renasceu a vocação que havia perdido na adolescência. Ingressar como monge na abadia beneditina de Notre Dame de Belloc era seu sonho.
O ETA e a abadia
A abadia representava desde suas origens um símbolo de proteção para os bascos. Talvez era um dos motivos da influência que tinha sobre Philippe. Foi fundada em 1974 por um grupo de noviços bascos provenientes do mosteiro de Pierre-que-Vire, com o padre Agustín Bastres, de Lapurdi.
No dia 1° de setembro daquele ano, toda a aldeia de Urt acompanhou os monges para uma antiga fazenda desabitada de Belloc, cantando o Ongi etorri-aita onak-Jainkozko gizonak (Bem-vindo seja Deus, pai bom do homem), como refere a enciclopédia Auñamendi. Desde então o lugar passou a ter uma tradição de hospitalidade.
Durante a Guerra Civil espanhola refugiaram-se ali republicanos e nacionalistas. Depois na II Guerra Mundial, esconderam-se membros da resistência e pilotos aliados enviados pela rede Orion. Como consequência, alguns monges morreram no campo de concentração nazista de Dachau, e a abadia recebeu a Legião de Honra.
Em maio de 1962, os monges não acharam tão inconveniente que o grupo de ideias separatistas basco realizasse sua primeira reunião na abadia. Ali nasceu o ETA como “movimento revolucionário basco para a libertação nacional baseado na resistência patriota, socialista, de caráter não confessional e economicamente independente”. A mesma organização que anos depois, na sua quinta assembleia, teria se voltado à luta armada, escorregando para o terrorismo.
Irmão Philippe
Em 1982, Txistu conseguiu fazer com que o ETA aceitasse o seu distanciamento. Livre, em setembro de 1988, aquele que agora é “irmão Philippe” iniciou a sua formação monástica na abadia de Notre Dame de Belloc.
“Sempre tive a necessidade de viver para Deus. Disse que entraria em um mosteiro e não falaria mais do meu passado”, disse Philippe a todos que o procuraram pouco tempo depois no claustro.
A polícia o prendeu pelo seu passado e o prior Jean Jacques de Amestoy, desolado, disse aos meios de comunicação que o noviço Philippe “vivia com serenidade a formação para a sua nova vida monástica, baseada na conversão e na oração. O mosteiro não pode aprovar de nenhum modo aquilo que na sua essência não se pode justificar”, acrescentou antecipando a sentença. A última, porém, permitiu que o futuro monge continuasse a sua reclusão na abadia, e em 1997, foi condenado a dez anos de prisão.
Após cumprir sua pena, irmão Philippe continuou a ser ligado à abadia. Cada vez que é possível se move pela região, para tocar música sacra nas paróquias, com sua flauta tradicional.