Sejam Bem-Vindos!

"É uma grandiosíssima calúnia dizer que tenho revoltas contra a Igreja. Eu nunca tive dúvidas sobre a Fé Católica, nunca disse nem escrevi, nem em cartas particulares, nem em jornais, nem em quaisquer outros escritos nenhuma proposição falsa, nem herética, nem duvidosa, nem coisa alguma contra o ensino da Igreja. Eu condeno tudo o que a Santa Igreja condena. Sigo tudo o que ela manda como Deus mesmo. Quem não ouvir e obedecer a Igreja deve ser tido como pagão e publicano. Fora da Igreja não há salvação."
Padre Cícero Romão Batista

quarta-feira, 21 de outubro de 2015

Cardeal de Bombaim aos LGBTs: “A Igreja abraça vocês, quer vocês, precisa de vocês”

O Cardeal Oswald Gracias é o arcebispo de Bombaim, presidente da Conferência Nacional dos Bispos Católicos da Índia e membro do conselho dos nove cardeais assessores do Papa Francisco. Nos últimos anos, ele surgiu como um dos principais promotores internacionais para que haja um melhor trabalho civil e pastoral à comunidade LGBT. Ele foi o único líder na Índia que se opôs a uma iniciativa de criminalização das pessoas LGBTs, instou os seus sacerdotes a serem mais sensíveis no emprego da linguagem em se tratando das pessoas desta comunidade, defendeu abertamente um melhor acompanhamento pastoral durante o último Sínodo Extraordinário dos Bispos no ano passado e se encontrou com o Chair of Quest, grupo LGBT católico britânico.
Gracias está em Roma participando do Sínodo, e eu tive o prazer de me sentar com ele para conduzir uma breve entrevista no domingo (18 de outubro). Nela falamos sobre o trabalho pastoral da Igreja junto à comunidade LGBT, leis de criminalização, doutrina e linguagem da Igreja, bem como sobre a sua caminhada pessoal.
A entrevista é de Francis DeBernardo, publicado por New Ways Ministry, 19-10-2015. A tradução é de Isaque Gomes Correa.
Eis a entrevista.
Nos últimos anos, o senhor tem feito gestos muito positivos no que diz respeito às pessoas LGBTs. De que forma a sua compreensão sobre esta comunidade evoluiu e como isso aconteceu?
Inicialmente, o meu trabalho começou envolvendo-me na área do Direito Civil concernente à proibição da homossexualidade. Achei que uma legislação assim não era certa – pondo indiscriminadamente todo mundo na mesma categoria. Então, eu me pronunciei, dizendo que a Igreja não estava a favor.
O que fiz acabou sendo uma surpresa para muitas pessoas, por causa do que eles pensam que a Igreja ensina. É preciso fazer uma distinção entre uma pessoa, que faz parte absolutamente da Igreja, que merece todo o nosso cuidado, e que ela pode ter uma orientação [homossexual]. Não se pode colocar estas pessoas atrás das grades, ou dizer que nós não temos nenhuma responsabilidade aqui.
A lei foi derrubada, mas agora ela já está de volta.
Posteriormente, acabei conhecendo algumas pessoas também. Percebi a bondade delas, coisa que muitas pessoas não enxergam. Muitas vezes estas pessoas são retratadas de uma forma negativa. A minha opinião é que a Igreja tem de ser acolhedora, inclusiva, e cuidar de todas as pessoas. Os nossos princípios morais estão claros. Deveria nos preocupar o fato de estarmos rompendo o nosso código moral ou que os princípios da Igreja estão sendo rompidos. O catecismo tem dito também que estas pessoas precisam ser acompanhadas. Algumas pessoas dizem que estamos indo longe demais.
De certa forma, acolhê-los é uma postura bem católica. Não ser acolhedor é errado. Não ser acolhedor é o mesmo que não ser católico. Esta não seria a atitude de Cristo, com certeza. Temos de ser bastante compassivos, compreensivos e abertos às pessoas.
Quando li sobre a sua posição na questão do direito civil, vi que o senhor foi o único líder religioso da Índia a se opor à criminalização. Como encontrou coragem para tanta ousadia?
Eu estava convencido. Eu acho que, aos poucos, os demais irão ver o que estou dizendo. O que digo está tão claro para mim. É isso o que a Igreja iria querer. Estou convencido de que, no final, esta legislação não será aprovada, e a descriminalização se sairá vencedora. É uma questão de tempo.
O senhor recebeu críticas pela postura assumida?
Não muitas. Houve algumas. Houve alguns teólogos que disseram discordar de mim. Mas aí era uma questão intelectual, e eu fiquei feliz com isso porque o debate me permitiu dar melhores contornos aos meus pensamentos sobre o assunto. Não houve, porém, nenhuma campanha contra o que eu disse.
Nos EUA, temos muitas paróquias que criaram ministérios para a comunidade LGBT. Que conselho o senhor daria a essas paróquias e pastores que trabalham com as pessoas LGBT?
Honestamente, acho que elas sabem mais sobre isso do que eu. A partir da experiência, você sempre aprender como fazer as coisas pastoralmente. Na Índia, a homossexualidade não saiu por completo do armário. A atmosfera não é tão aberta na sociedade civil a ponto de ser possível ver pessoas vindo, abertamente, e se declarar como pertencentes à comunidade LGBT. Na verdade, uma associação formada por gays perguntou-me se eu rezaria a missa para ela. Eu disse: “Sim, sem dúvidas.Não há por que eu negar”. Disse-lhes também que deveriam ter em mente que eles, de repente, estariam assumindo suas orientações abertamente. Para mim, não há problema algum. 
 
O senhor percebe algum dom que as pessoas lésbicas ou gays trazem à Igreja?
Eu não me encontrei com elas o suficiente para poder fazer uma generalização. Mas as pessoas que conheci muito me impressionaram por sua sinceridade, querendo ajudar a Igreja, por sua generosidade. Isso seria algo específico destas pessoas ou simplesmente acontece de ser assim por causa da pessoa que elas são? Então, não posso generalizar.
Mas todos os que conheci são boas pessoas, que querem se dedicar ao trabalho pela Igreja. Quando digo “pela Igreja”, quero dizer: “pelas pessoas, via instituições de caridade da Igreja”.
Vamos falar sobre o Sínodo. O senhor acha que haverá algum progresso no tocante a questões envolvendo a comunidade LGBT na edição deste ano?
Posso ver que há uma grande hesitação por parte dos padres sinodais a tocarem, de fato, neste tópico. Dessa forma, posso ver que o Sínodo irá provavelmente dizer que nós devemos acolhê-los em nossos trabalhos pastorais. Algo muito gentil e limitado, ao mesmo tempo. Não espero que nós possamos dizer muito além disso.
O senhor acha que seria possível que o Sínodo publique uma declaração sobre a criminalização, visto que ela está ocorrendo ao redor do mundo?
Tenho confiança aqui. Uma das críticas ao Sínodo é que ele é demais eurocrêntico, e nós estamos cuidadosamente prestando atenção nisso. A esta altura, é difícil começar mudar o foco como um todo. Estou dizendo isso porque sei que a África é muito sensível a esta questão. Há uma postura norte-americana e europeia muito clara na questão da homossexualidade. Como nós, enquanto Igreja, enquanto Igreja universal, podemos compreender e aceitar ideias e opiniões que poderão se alterar no futuro é algo que precisamos ponderar. Isso é realmente central.
E quanto à linguagem? Houve relatos de que alguns bispos estão propondo livrar-se de palavras como “desordem” e “mal” em relação às pessoas da comunidade LGBT…
Isso precisa ser pensado e conduzido de forma muito cuidadosa. Fico feliz que você trouxe esse assunto. Acho que deveria haver uma aceitação em dizermos: “Vamos empregar uma linguagem mais cuidadosa, que não seja muito julgadora”. A resposta a esta visão é: “Você a está tolerando?” Eu pessoalmente acho que [uma mudança na linguagem] nos ajudaria a termos uma visão mais clara e objetiva sobre o assunto.
Teria sido útil aos bispos ver lésbicas e gays falando ao Sínodo da mesma forma como os casais heterossexuais falaram?
Pessoalmente, eu teria considerado esta situação como algo enriquecedor. Eu ficaria feliz em ouvi-los, e acho que ouvi-los iria ajudar todos os padres sinodais a entenderem. Penso que a maioria deles nunca teve um contato direto ou um debate... Para eles, trata-se apenas de uma questão teórica, mas nunca chega no nível interpessoal. Quando você está diante de uma pessoa, você fala com ela e compreende a sua ansiedade. Eu sempre penso sobre a abordagem do Nosso Senhor nestas circunstâncias: empático, compreensivo.
A coisa toda sobre a origem da orientação sexual não foi ainda estudada em profundidade. Alguns dizem ser uma escolha. Vejo que, para muitas pessoas, não se trata de uma escolha, então não é justo pensar assim. Nesse sentido, não estamos abertos o suficiente.
Em meu ministério com a comunidade LGBT, encontrei muitos que pensam em deixar a Igreja ou que acham difícil permanecer nela. O que o senhor diria a estas pessoas?
Eu diria que a Igreja abraça vocês, quer vocês, e que a Igreja precisa de vocês. Vocês não são um alguém que representa um fardo a ela. A Igreja precisa de vocês. Vocês fazem parte de nós. Nós gostaríamos de ajudá-los, gostaríamos de vê-los com mais clareza. Estamos nos esforçando para saber como ajudá-los mais em nossos trabalhos pastorais.
Eu também diria: “Não desanimem”. No último Sínodo dos Bispos houve apenas uma intervenção oficial sobre este assunto; nas discussões em grupo o tema surgiu mais vezes. Na edição deste ano, ocorreram algumas vezes mais. Então, eu diria às pessoas LGBTs: “Esperem aí. Com certeza não chegamos ao final. Ainda estamos em processo, e encontraremos uma saída”.
Que conselhos o senhor daria aos outros bispos que poderão se opor a toda e qualquer mudança na questão relação da Igreja com as pessoas LGBTs?
Eu diria a eles que se encontrem com as pessoas. Isso é importante. Estejam com elas. Isso iria nos ajudar – e a mim também – a ver a realidade, a perceber que esta questão não se trata de um problema acadêmico, mas que é um problema real. Não se trata de um caso acadêmico onde dizemos: “A é igual a B, e B é igual a C”. Há inúmeras ramificações.
Eu diria a eles que a Igreja é uma mãe toda acolhedora, que a Igreja é mãe e mestra. A mãe não manda o seu filho embora, não importa o que for.
Fiquei emocionado ao ouvir esta sua resposta. Foi bonita. Na Igreja americana, um dos maiores grupos que apoiam os direitos das pessoas LGBTs são as mães e os pais. Dizemos que eles são uma ponte, pois são pessoas muito dedicadas à Igreja e muito dedicadas aos seus filhos e filhas.
Os pais sofrem muito, mas eles compreendem os filhos. Então, não podemos ser legalistas. Não podemos mudar a doutrina ou o ensino da Igreja. Não tenho certeza de que possuímos a palavra final. Temos de estudar continuamente as  escrituras, a moral, o Direito Canônico, a fim de ver o que poderíamos fazer.
Obrigado pelo seu tempo conosco. Tenho certeza de que o senhor é alguém muito ocupado.

Fonte: Instituto Humanitas Unisinos 

domingo, 2 de agosto de 2015

O perdão de Assis

Segundo o testemunho de Bartolomeu de Pisa, a origem da Indulgência da Porciúncula se deu assim:

Uma noite, do ano do Senhor de 1216, Francisco estava compenetrado na oração e na contemplação na igrejinha da Porciúncula, perto de Assis, quando, repentinamente, a igrejinha ficou repleta de uma vivíssima luz e Francisco viu sobre o altar o Cristo e à sua direita a sua Mãe Santíssima, circundados de uma multidão de anjos. Francisco, em silêncio e com a face por terra, adorou a seu Senhor.

Perguntaram-lhe, então, o que ele desejava para a salvação das almas. A resposta de Francisco foi imediata: “Santíssimo Pai, mesmo que eu seja um mísero pecador, te peço, que, a todos quantos arrependidos e confessados, virão a visitar esta igreja, lhes conceda amplo e generoso perdão, com uma completa remissão de todas as culpas”.

O Senhor lhe disse: “Ó Irmão Francisco, aquilo que pedes é grande, de coisas maiores és digno e coisas maiores tereis: acolho portanto o teu pedido, mas com a condição de que tu peças esta indulgência, da parte minha, ao meu Vigário na terra (Papa)”.

E imediatamente, Francisco se apresentou ao Pontífice Honório III que, naqueles dias encontrava-se em Perusia e com candura lhe narrou a visão que teve. O Papa o escutou com atenção e, depois de alguns esclarecimentos, deu a sua aprovação e disse: “Por quanto anos queres esta indulgência”? Francisco, destacadamente respondeu-lhe: “Pai santo, não peço por anos, mas por almas”.

E feliz, se dirigiu à porta, mas o Pontífice o reconvocou: “Como, não queres nenhum documento”? E Francisco respondeu-lhe: “Santo Pai, de Deus, Ele cuidará de manifestar a obra sua; eu não tenho necessidade de algum documento. Esta carta deve ser a Santíssima Virgem Maria, Cristo o Escrivão e os Anjos as testemunhas”.

E poucos dias mais tarde, junto aos Bispos da Úmbria, ao povo reunido na Porciúncula, Francisco anunciou a indulgência plenária e disse entre lágrimas:”Irmãos meus, quero mandar-vos todos ao paraíso!”

sábado, 1 de agosto de 2015

A vida religiosa consagrada

Por ocasião do cinquentenário da promulgação do decreto conciliar Perfectae Caritatis, sobre a renovação da vida religiosa, o Papa Francisco convocou um ano dedicado à vida consagrada. Mas o que é a vida religiosa? Qual a sua natureza? Ela é parte essencial da Igreja, ou é uma invenção humana? O que ela tem para oferecer à Igreja nos seus tempos de crise?

Em primeiro lugar, a vida religiosa é um caminho privilegiado para alcançar a santidade. O Papa João Paulo II observa que, "na manifestação da santidade da Igreja,há que reconhecer uma objetiva primazia à vida consagrada" [1]. E ainda:

"Os santos e as santas sempre foram fonte e origem de renovação nas circunstâncias mais difíceis, ao longo de toda a história da Igreja. Hoje, temos muita necessidade de santos, graça esta que devemos implorar continuamente a Deus. Os Institutos de vida consagrada, mediante a profissão dos conselhos evangélicos, devem estar conscientes da sua especial missão na Igreja de hoje, e nós devemos encorajá-los nessa sua missão." [2]


Ou seja, a vida consagrada, para ser fiel à sua essência, precisa ser uma "fábrica de santos". Mas, o que significa "ser santo"? O próprio nome do decreto conciliar sobre a vida religiosa indica o caminho: trata-se da "perfectae caritatis prosecutionem – consecução da caridade perfeita". A santidade não é um moralismo – um cuidado escrupuloso com o que é ou não pecado –, mas um progresso no amor. A Igreja ensina que o amor verdadeiro deve ser caridade (αγάπη), tendo Deus como objeto formal. Isso significa amar a Deus, ao próximo e a si mesmo, por causa de Deus. Em sua condição, o homem experimenta uma espécie de "poder de destruição". Mesmo quando se dispõe a fazer as coisas certas, ele pode destruir aquilo que ama, colocando seu casamento, suas amizades e relacionamentos em perigo. Só amando as pessoasem Deus é que ele pode amar de verdade. A santidade, então, resume-se a isto: amar e crescer no amor.

Para chegar à meta, todavia, existem métodos, dos quais a profissão dos conselhos evangélicos se sobressai. Os religiosos, como se sabe, fazem esta profissão, com o fim de entregar-se totalmente a Deus, em holocausto (do grego "ὁλός", que quer dizer "todo"), como chama de amor. É verdade que todos os cristãos, independentemente do estado de vida, podem e devem entregar-se a Deus. Os religiosos, porém, fazem um ato ainda mais generoso, ofertando até o que não precisavam dispor: os seus bens externos – pelo voto de pobreza –, o seu corpo – pelo voto de castidade – e a sua alma – pelo voto de obediência. Pela vivência cotidiana destes votos, eles são chamados a progredir até a "perfeição da caridade" – que é o fim para que tende toda a vida consagrada.

Este testemunho, de fato, oferece à Igreja uma missão profética. Chamados de modo especial e agraciados com "um dom específico do Espírito Santo" [3], os religiosos lembram a todos os cristãos que eles devem estar dispostos a viver os conselhos evangélicos, caso se lhes apresente a necessidade. Para ser cristão, nenhuma pessoa é obrigada a fazer voto expresso de pobreza, mas, se a necessidade a visitar – caso venha a perder seus bens e propriedades, por exemplo –, ela deve resignar-se e encarar com amor a sua condição. Quantas vezes, também, casais em santo matrimônio não são chamados a viver o celibato, quando, por exemplo, um cônjuge fica doente ou se ausenta por um tempo? Por isso, mesmo quem não fez o voto específico de pobreza, obediência ou castidade, deve viver o seu espírito.

Após o Concílio Vaticano II, começou-se um debate sobre a vida consagrada, com duas visões bem opostas sobre o tema. Uma primeira corrente tendia a enxergar os religiosos como simples leigos, os quais, portanto, não teriam nenhuma consagração especial, a não ser o seu Batismo. Essa visão fez muitas congregações se perderem no caminho. Irmãos e irmãs em crise de identidade – afinal, se não tinham nenhuma vocação especial, o que faziam reclusos? – tiraram o seu hábito, saíram dos conventos e voltaram para suas casas.

A isto opôs-se energicamente o Papa João Paulo II, apresentando o ensinamento tradicional da Igreja: o de que o religioso tem sim uma consagração especial e não pode, portanto, levar uma vida meramente laical. É certo que os cristãos de vida religiosa não foram consagrados como um sacerdote. Este recebeu uma consagraçãosacramental (ou ontológica) – o mesmo que acontece no Batismo, por exemplo. Ao entregar à Igreja os seus votos, porém, os religiosos também se consagram: fazem uma consagração moral, ou seja, um ato de vontade seu os separa para Deus.

"Na tradição da Igreja, a profissão religiosa é considerada como um singular e fecundo aprofundamento da consagração batismal (...). Todavia esta nova consagração reveste uma sua peculiaridade relativamente à primeira, da qual não é uma consequência necessária. Na verdade, todo aquele que foi regenerado em Cristo é chamado a viver, pela força que lhe vem do dom do Espírito, a castidade própria do seu estado de vida, a obediência a Deus e à Igreja, e um razoável desapego dos bens materiais, porque todos são chamados à santidade, que consiste na perfeição da caridade. Mas o Batismo, por si mesmo, não comporta o chamamento ao celibato ou à virgindade, a renúncia à posse dos bens, e a obediência a um superior, na forma exigida pelos conselhos evangélicos. Portanto, a profissão destes últimos supõe um dom particular de Deus não concedido a todos, como Jesus mesmo sublinha no caso do celibato voluntário (cf. Mt 19, 10-12)." [4]


Por isso, a vida religiosa sempre foi uma "fábrica de santos". Desde o início, com Santo Agostinho, São Bento e São Gregório Magno, passando pela crise da Reforma, com os dominicanos, jesuítas e carmelitas, até os dias de hoje, é da vida consagrada que Cristo tira o fôlego para revigorar constantemente a Sua Esposa. A fim de resistir e lutar contra o demônio, que quer destruir esta realidade tão importante, é urgente que todos os cristãos vivam a sua vocação universal à santidade e que os religiosos não desanimem e se entreguem cada vez mais a Deus, que alimenta e fortalece a sua consagração.

sexta-feira, 12 de junho de 2015

Gays amorizados: Uma reflexão da parada gay

   A Parada Gay de São Paulo fez um enorme barulho. Muito barulho é sinal de que existe um grande vazio. Existe vazio nos causadores do barulho, nos que o ouvem, o acolhem, ou reclamam. Existem muitos vazios nos tempos atuais, como podemos constatar em nós mesmos. Esses vazios são como que buracos existenciais que somente serão preenchidos se houver o acolhimento de um amor maior.

     Quando se perde o sentido da vida ela fica vazia, sem alegria e a pessoa fica sem motivações para viver. Vida vazia é vida aberta para o mundo da droga, da violência, do desrespeito, da exploração que se torna visível em toda atitude de desamor. É preciso novamente amorizar a vida. A melhor sugestão para se entrar no processo de amorização é viver a partir de Jesus que amou até aqueles que o desrespeitaram e lhe tiraram a vida.

     A Igreja ama com o coração de Cristo. O que aconteceu em São Paulo, embora com uma linguagem não comum, pode ser um pedido de abertura para deixar Deus entrar na vida e, seguir na mesma, com a leveza de quem ama a Cruz do Cristo e ama aquela cruz que Ele pediu que todo discípulo a carregasse todos os dias. Os sofrimentos dos homessexuais são cruzes que somente eles conhecem o seu peso e suas dores. Em Cristo e na comunidade de seus discípulos eles encontram o alívio para suas angústias e proteção para as ameaças. As ações da Igreja tem provado isso.

     Certamente lá no meio de tantos barulhentos que estavam na Parada Gay, existiam algumas pessoas gays que eram o Sal da terra e a Luz do mundo como pediu Jesus. No peito de algumas pessoas que ali estavam certamente ardia o amor de Jesus e não concordavam com os absurdos cometidos. Existem muitos homessexuais que vivem de forma digna, cristã e prestam um grande serviço nas famílias e na comunidade.

     Uma presença Cristã no meio dos mais variados setores da sociedade faz as sementes do Reino germinar e crescer. Deus escolhe algumas pessoas, as capacita e as coloca no meio do mundo para ajudar o mundo a ser melhor.

     A forma exagerada, desrespeitosa e maldosa de manifestar o sofrimento causou muita estranheza e revelou uma fraqueza de fé, mas Deus ama e se aproxima daqueles que lhes faltam esse valor fundamental e especialmente quando alguém hospeda a dor, em si. A falta de fé é curável. Muitas vezes uma fé pura salva a vida, como Jesus gostava de dizer “ A tua fé te salvou” (Cf. Mc 5,34; Lc 7,50).

     Onde existe uma pessoa que sofre podemos ter certeza que Cristo está sofrendo naquela pessoa. Por este motivo o caminho da Igreja será sempre um caminho de cura, de libertação, de construção da paz e valorização do ser humano. A Igreja jamais vai expor a imagem de um Gay desrespeitando-o porque o ama com o amor de Jesus. Ela só conseguiria ultrajar a imagem de um de seus filhos, mesmo que ingrato, se estive muito vazia do amor de Cristo, mas nunca está. Todas as pessoas querem ser amadas. Jesus merece ser amado por todos nós, apesar da nossa fragilidade humana. É preciso que todos se deem as mãos e vivam em favor do bem, amando, convivendo com as diferenças e se respeitando mutuamente. O caminho do amor é o melhor caminho.

 

Dom Messias dos Reis Silveira

Bispo de Uruaçu GO

terça-feira, 12 de maio de 2015

O amor como transformação

É através do nosso coração, do nosso amor que podemos mudar a nossa realidade. Sem amor nada se constrói porque sem este dom tão precioso vamos ficando egoístas. Por isso o Papa Francisco nos alerta para que sempre devemos cuidar do nosso coração pois é de lá somente de lá que saí tudo, tanto bom quando as coisas ruins.

Uma das coisas que nos ajuda a superar tantas magoas e feridas que temos são as nossas relações sadias de grandes amizades, as mesmas nos dão ao mesmo tempo iluminações e força para sempre ir mais além do que podemos pensar, pois uma verdadeira amizade nos aponta o céu, nos aponta o Cristo, a vida e a ressurreição. Uma amizade que nos aponta o inferno, a destruição, o ódio, o egoísmo é simplesmente falsa. Não nos faz crescer e amadurecer na fé e na caminhada como cristãos e seguidores do mestre.

Que cada dia de nossa vida possamos sempre buscar estes relacionamentos que nos apontem o céu, a santidade para estarmos felizes e libertos diante de Deus e dos irmãos.

Frei Vinicius Caíque da S. Bezerra, OFMCap.

Fotos do retiro do Eneagrama

Realizado no Seminário São José em Garanhuns-PE de 04 a 08 de Maio do corrente ano.

Paz e bem!

quinta-feira, 2 de abril de 2015

Homilia do Papa Francisco na Missa Crismal

«A minha mão estará sempre com ele / e o meu braço há-de torná-lo forte» (Sl 89/88, 22). Assim pensa o Senhor, quando diz para consigo: «Encontrei David, meu servo, / e ungi-o com óleo santo» (v. 21). Assim pensa o nosso Pai cada vez que «encontra» um padre. E acrescenta: «A minha fidelidade e o meu amor estarão com ele / (...) Ele me invocará, dizendo: “Tu és meu pai, / és o meu Deus e o rochedo da minha salvação”» (vv. 25.27). É muito bom entrar, com o Salmista, neste solilóquio do nosso Deus. Ele fala de nós, os seus sacerdotes, os seus padres; na realidade, porém, não é um solilóquio, não fala sozinho. É o Pai que diz a Jesus: «Os teus amigos, aqueles que Te amam, poderão dizer-Me de uma maneira especial: “Tu és o meu Pai”» (cf. Jo 14, 21). E, se o Senhor pensa e Se preocupa tanto com o modo como poderá ajudar-nos, é porque sabe que a tarefa de ungir o povo fiel é dura; causa fadiga e leva-nos ao cansaço. E nós experimentamo-lo em todas as suas formas: desde o cansaço habitual do trabalho apostólico diário até ao da doença e da morte, incluindo o consumar-se no martírio. O cansaço dos sacerdotes! Sabeis quantas vezes penso nisto, no cansaço de todos vós? Penso muito e rezo com frequência, especialmente quando sou eu que estou cansado. Rezo por vós que trabalhais no meio do povo fiel de Deus, que vos foi confiado; e muitos fazem-no em lugares demasiado isolados e perigosos. E o nosso cansaço, queridos sacerdotes, é como o incenso que sobe silenciosamente ao Céu (cf. Sl 141/140, 2; Ap 8, 3-4). O nosso cansaço eleva-se directamente ao coração do Pai. Estai certos de que também Nossa Senhora Se dá conta deste cansaço e, imediatamente, fá-lo notar ao Senhor. Como Mãe, sabe compreender quando os seus filhos estão cansados, e só disso se preocupa. «Bem-vindo! Descansa, meu filho. Depois falamos... Não estou aqui eu, que sou tua Mãe?»: dir-nos-á ao abeirarmo-nos d’Ela (cf. Evangelii gaudium, 286). E dirá, ao seu Filho, como em Caná: «Não têm vinho!» (Jo 2, 3). Pode acontecer também que, ao sentir o peso do trabalho pastoral, nos venha a tentação de descansarmos de um modo qualquer, como se o repouso não fosse uma coisa de Deus. Não caiamos nesta tentação! A nossa fadiga é preciosa aos olhos de Jesus, que nos acolhe e faz levantar o ânimo: «Vinde a Mim, todos os que estais cansados e oprimidos, que Eu hei-de aliviar-vos» (Mt 11, 28). Se uma pessoa sabe que, morta de cansaço, pode prostrar-se em adoração e dizer: «Senhor, por hoje basta!», rendendo-se ao Pai, sabe também que não tomba mas renova-se, pois o Senhor que ungiu com o óleo da alegria o povo fiel de Deus, também a unge a ela: «Muda a sua cinza em coroa, o seu semblante triste em perfume de festa e o seu abatimento em cantos de festa» (cf. Is 61, 3). Tenhamos bem em mente que uma chave da fecundidade sacerdotal reside na forma como repousamos e como sentimos que o Senhor cuida do nosso cansaço. Como é difícil aprender a repousar! Nisto transparece a nossa confiança e a consciência de que também nós somos ovelhas. A propósito, podem ajudar-nos algumas perguntas. Sei repousar recebendo o amor, a gratidão e todo o carinho que me dá o povo fiel de Deus? Ou, depois do trabalho pastoral, procuro repousos mais refinados: não os repousos dos pobres, mas os que oferece a sociedade de consumo? O Espírito Santo é verdadeiramente, para mim, «repouso na fadiga», ou apenas Aquele que me faz trabalhar? Sei pedir ajuda a qualquer sacerdote experiente? Sei repousar de mim mesmo, da minha auto-exigência, da minha auto-complacência, da minha auto-referencialidade? Sei conversar com Jesus, com o Pai, com a Virgem Maria e São José, com os meus Santos padroeiros e amigos, para repousar nas suas exigências – que são suaves e leves – nas suas complacências – eles gostam de estar na minha companhia – nos seus interesses e referências – só lhes interessa a maior glória de Deus? Sei repousar dos meus inimigos, sob a protecção do Senhor? Vou argumentando, tecendo e ruminando repetidamente cá para comigo a minha defesa, ou confio-me ao Espírito que me ensina o que devo dizer em cada ocasião? Preocupo-me e afano-me excessivamente ou encontro repouso, dizendo como Paulo: «Sei em quem acreditei» (2 Tm 1, 12). Repassemos brevemente os compromissos dos sacerdotes, que proclama a liturgia de hoje: levar a Boa-Nova aos pobres, anunciar a libertação aos cativos e a cura aos cegos, dar a liberdade aos oprimidos e proclamar o ano de graça do Senhor. Isaías diz também cuidar daqueles que têm o coração despedaçado e consolar os aflitos. Não são tarefas fáceis, externas, como, por exemplo, as actividades manuais: construir um novo salão paroquial, ou traçar as linhas dum campo de futebol para os jovens do oratório, etc. Os compromissos mencionados por Jesus envolvem a nossa capacidade de compaixão: são compromissos nos quais o nosso coração estremece e se comove. Alegramo-nos com os noivos que vão casar; rimos com a criança que trazem para baptizar; acompanhamos os jovens que se preparam para o matrimónio e para ser família; entristecemo-nos com quem recebe a extrema-unção no leito do hospital; choramos com os que enterram uma pessoa querida... Tantas emoções, tanto carinho cansam o coração do pastor. Para nós, sacerdotes, as histórias do nosso povo não são um noticiário: conhecemos a nossa gente, podemos adivinhar o que se passa no seu coração; e o nosso, sofrendo com eles, vai-se desgastando, divide-se em mil pedaços, compadece-se e parece até ser comido pelas pessoas: tomai, comei. Esta é a palavra que o sacerdote de Jesus sussurra sem cessar, quando está a cuidar do seu povo fiel: tomai e comei, tomai e bebei... E, assim, a nossa vida sacerdotal se vai doando no serviço, na proximidade ao povo fiel de Deus, etc., o que sempre cansa. Gostaria agora de partilhar convosco alguns cansaços, em que meditei. Temos aquele que podemos chamar «o cansaço do povo, das multidões»: para o Senhor, como o é para nós, era desgastante – di-lo o Evangelho – mas é um cansaço bom, um cansaço cheio de frutos e de alegria. O povo que O seguia, as famílias que Lhe traziam os seus filhos para que os abençoasse, aqueles que foram curados e voltavam com os seus amigos, os jovens que se entusiasmavam com o Mestre… Não Lhe deixavam sequer tempo para comer. Mas o Senhor não Se aborrecia de estar com a gente. Antes pelo contrário, parecia que ganhava nova energia (cf. Evangelii gaudium, 11). Este cansaço habitual no meio da nossa actividade é uma graça que está ao alcance de todos nós, sacerdotes (cf. ibid., 279). Como é belo tudo isto: o povo amar, desejar e precisar dos seus pastores! O povo fiel não nos deixa sem actividade directa, a não ser que alguém se esconda num escritório ou passe pela cidade com vidros escuros. E este cansaço é bom, é saudável. É o cansaço do sacerdote com o cheiro das ovelhas, mas com o sorriso de um pai que contempla os seus filhos ou os seus netinhos. Isto não tem nada a ver com aqueles que conhecem perfumes caros e te olham de cima e de longe (cf. ibid., 97). Somos os amigos do noivo: esta é a nossa alegria. Se Jesus está apascentando o rebanho no meio de nós, não podemos ser pastores com a cara azeda ou melancólica, nem – o que é pior – pastores enjoados. Cheiro de ovelhas e sorriso de pais... Muito cansados, sim; mas com a alegria de quem ouve o seu Senhor que diz: «Vinde, benditos de meu Pai!» (Mt 25, 34). Existe depois aquele que podemos chamar «o cansaço dos inimigos». O diabo e os seus sectários não dormem e, uma vez que os seus ouvidos não suportam a Palavra de Deus, trabalham incansavelmente para a silenciar ou distorcer. Aqui o cansaço de enfrentá-los é mais árduo. Não se trata apenas de fazer o bem, com toda a fadiga que isso implica, mas é preciso também defender o rebanho e defender-se a si mesmo do mal (cf. Evangelii gaudium, 83). O maligno é mais astuto do que nós e é capaz de destruir num instante aquilo que construímos pacientemente durante muito tempo. Aqui é preciso pedir a graça de aprender a neutralizar: neutralizar o mal, não arrancar a cizânia, não pretender defender como super-homens aquilo que só o Senhor deve defender. Tudo isto ajuda a não nos deixar cair os braços à vista da espessura da iniquidade, frente à zombaria dos malvados. Eis a palavra do Senhor para estas situações de cansaço: «Tende confiança! Eu já venci o mundo» (Jo 16, 33). E, por último (para que esta homilia não vos canse!), há também «o cansaço de nós próprios» (cf. Evangelii gaudium, 277). É talvez o mais perigoso. Porque os outros dois derivam do facto de estarmos expostos, de sairmos de nós mesmos para ungir e servir (somos aqueles que cuidam). Diversamente, este cansaço é mais auto-referencial: é a desilusão com nós mesmos, mas sem a encararmos de frente, com a alegria serena de quem se descobre pecador e carecido de perdão; é que, neste caso, a pessoa pede ajuda e segue em frente. Trata-se do cansaço que resulta de «querer e não querer», de ter apostado tudo e depois pôr-se a chorar pelos alhos e as cebolas do Egipto, de jogar com a ilusão de sermos outra coisa qualquer. Gosto de lhe chamar o cansaço de «fazer a corte ao mundanismo espiritual». E, quando uma pessoa fica sozinha, dá-se conta de quantos sectores da vida foram impregnados por este mundanismo e temos até a impressão de que não há banho que o possa lavar. Aqui pode haver um cansaço mau. A palavra do Apocalipse indica-nos a causa deste cansaço: «Tens constância, sofreste por causa de Mim, sem te cansares. No entanto, tenho uma coisa contra ti: abandonaste o teu primeiro amor» (2, 3-4). Só o amor dá repouso. Aquilo que não se ama, cansa; e, com o passar do tempo, torna-se um cansaço mau. A imagem mais profunda e misteriosa do modo como o Senhor cuida do nosso cansaço pastoral – «Ele que amara os seus (…), levou o seu amor por eles até ao extremo» (Jo 13,1) – é a cena do lava-pés. Gosto de a contemplar como o lava-seguimento. O Senhor purifica o próprio seguimento, Ele «envolve-Se» connosco (Evangelii gaudium, 24), tem pessoalmente o cuidado de lavar todas as manchas, aquela sujeira mundana e gordurosa que se apegou a nós no caminho que percorremos em seu Nome. Sabemos que, nos pés, se pode ver como está todo o nosso corpo. No modo de seguir o Senhor, manifesta-se como está o nosso coração. As chagas dos pés, os entorses e o cansaço são sinal de como O seguimos, das estradas que percorremos à procura das ovelhas perdidas, tentando conduzir o rebanho aos prados verdejantes e às águas tranquilas (cf. ibid., 270). O Senhor lava-nos e purifica-nos de tudo aquilo que se acumulou nos nossos pés ao segui-Lo. Isto é sagrado. Não permitais que fique manchado. Como Ele beija as feridas de guerra, assim lava a sujeira do trabalho. O seguimento de Jesus é lavado pelo próprio Senhor para que nos sintamos no direito de ser e viver «alegres», «satisfeitos», «sem medo nem culpa» e, assim, tenhamos a coragem de sair e ir, «a todas as periferias até aos confins do mundo», levar esta Boa-Nova aos mais abandonados, sabendo que «Ele estará sempre connosco até ao fim dos tempos». E saibamos aprender a estar cansados, mas com um cansaço bom!

Papa Francisco

quinta-feira, 26 de março de 2015

Novinter

De 23 a 26 deste, estivemos reunidos no Juvenato Maria auxiliadora das Irmãs Salesianas em Carpina várias congregações e ordens. Entre eles: capuchinhos, menores, damas, beneditinas, santo Antônio, etc. Em que refletirmos a história da vida religiosa consagrada e conjuntura eclesial.

Podemos entender um pouco mais da nossa história de VRC desde os seus primórdios e compreender e fazer uma leitura da conjuntura eclesial a partir do Concílio Vaticano II e a  encíclica Evangelli Gaudium, A alegria do Evangelho do Papa Francisco.

Em breve mais fotos do encontro!

segunda-feira, 16 de março de 2015

Notícias

Caríssimos,

Aos poucos estamos contando as nossas postagens no nosso blog. Estamos chegando às proximidades da páscoa do Senhor, que possamos cada vez mas nos preparar para este momento. Com alegria acompanhamos o anúncio do ano jubilar extraordinário,  o Ano Santo da Misericórdia anunciado pelo Papa Francisco. Vamos caminhando juntos trilhar e fazer uma igreja sempre mais aberta sem medo de amar.

Algumas fotos...

Caros internautas
Algumas fotos do cotidiano

Paz e bem!

terça-feira, 3 de março de 2015

comunicado

Caros irmãos,

Estamos no tempo da quaresma. Tempo este de mais silêncio e oração.  Neste ano estou no noviciado e por isso o blog está um pouco desatualizado. Mais  após a quaresma o blog estará voltando ao seu funcionamenro normal. Que o Deus da vida e a Virgem Maria os abençoe.

Abraço fraterno,
Frei Vinicius Caique da S. Bezerra - frade capuchinho

quarta-feira, 21 de janeiro de 2015

Terrorista se converte e realiza sonho de infância: entrar para o mosteiro


 
As torres gêmeas de Nova York, o atentado de Madri, a matança na ilha de Utoya, na Noruega, as atrocidades do Boko Haram e do Estado Islâmico, a recente bomba no metrô de Santiago do Chile... Todos esses episódios têm um fator em comum: o ódio e a desumanização com base no terrorismo.

Alguns seres humanos que colocaram em ação o terror podem se libertar e curar a maldade para renascer para uma vida nova. Deus foi e é a razão desta “ressurreição” no caso do ex-terrorista do ETA Jean Philippe Saez.

Saez foi educado no amor pela tradição dos pais, e aos 19 anos era conhecedor de Txistu (flauta tradicional). Eram os anos sessenta quando Domingo Iturbe Abasoloi, aliás Txomin, o “alistou" e o formou para torná-lo membro do primeiro comando operativo (Argala) do ETA. O grupo colocou em ação seus primeiros ataques terroristas na Espanha em 1978 e 1979.

“Naquele momento”, confessou anos depois Philippe, “o ETA representava o mito dos dias gloriosos da luta contra Franco. Unir-me a eles era uma espécie de exaltação para mim, mas logo tive de viver na clandestinidade”.

Philippe, chamado “Txistu”, descobriu rapidamente o macabro sentimento de ser protagonista do terror do ETA, participando de pelo menos quatro atentados nos quais os seus companheiros mataram sete pessoas: o industrial José Legaza, o magistrado José Francisco Mateu, o general Constantino Ortiz, o tenente geral Luis Gómes Ortigüela, os coronéis Agustín Laso e Jesús Avelós e o motorista Lorenzo Gómez.

Phillippe, auxiliar no último atentado em Laso, Avelós e Gómez, naquele dia estava prestes a fugir, mas este ato teria significado assinar a própria condenação de morte. Aproveitando os meses de “silêncio” que a própria organização havia imposto para que passasse despercebido, uma vez voltando à França, confessou-se, começou a ir regularmente à Missa e no seu coração renasceu a vocação que havia perdido na adolescência. Ingressar como monge na abadia beneditina de Notre Dame de Belloc era seu sonho.

O ETA e a abadia 

A abadia representava desde suas origens um símbolo de proteção para os bascos. Talvez era um dos motivos da influência que tinha sobre Philippe. Foi fundada em 1974 por um grupo de noviços bascos provenientes do mosteiro de Pierre-que-Vire, com o padre Agustín Bastres, de Lapurdi.

No dia 1° de setembro daquele ano, toda a aldeia de Urt acompanhou os monges para uma antiga fazenda desabitada de Belloc, cantando o Ongi etorri-aita onak-Jainkozko gizonak (Bem-vindo seja Deus, pai bom do homem), como refere a enciclopédia Auñamendi. Desde então o lugar passou a ter uma tradição de hospitalidade.

Durante a Guerra Civil espanhola refugiaram-se ali republicanos e nacionalistas. Depois na II Guerra Mundial, esconderam-se membros da resistência e pilotos aliados enviados pela rede Orion. Como consequência, alguns monges morreram no campo de concentração nazista de Dachau, e a abadia recebeu a Legião de Honra.

Em maio de 1962, os monges não acharam tão inconveniente que o grupo de ideias separatistas basco realizasse sua primeira reunião na abadia. Ali nasceu o ETA como “movimento revolucionário basco para a libertação nacional baseado na resistência patriota, socialista, de caráter não confessional e economicamente independente”. A mesma organização que anos depois, na sua quinta assembleia, teria se voltado à luta armada, escorregando para o terrorismo.

Irmão Philippe

Em 1982, Txistu conseguiu fazer com que o ETA aceitasse o seu distanciamento. Livre, em setembro de 1988, aquele que agora é “irmão Philippe” iniciou a sua formação monástica na abadia de Notre Dame de Belloc.

“Sempre tive a necessidade de viver para Deus. Disse que entraria em um mosteiro e não falaria mais do meu passado”, disse Philippe a todos que o procuraram pouco tempo depois no claustro.

A polícia o prendeu pelo seu passado e o prior Jean Jacques de Amestoy, desolado, disse aos meios de comunicação que o noviço Philippe “vivia com serenidade a formação para a sua nova vida monástica, baseada na conversão e na oração. O mosteiro não pode aprovar de nenhum modo aquilo que na sua essência não se pode justificar”, acrescentou antecipando a sentença. A última, porém, permitiu que o futuro monge continuasse a sua reclusão na abadia, e em 1997, foi condenado a dez anos de prisão.

Após cumprir sua pena, irmão Philippe continuou a ser ligado à abadia. Cada vez que é possível se move pela região, para tocar música sacra nas paróquias, com sua flauta tradicional.
sources: Portaluz

segunda-feira, 5 de janeiro de 2015

Síntese de Mariologia




Pe. Jair Cardoso Alves Neto
Quando chegou a plenitude dos tempos, mandou o seu Filho, nascido de mulher… para que recebêssemos a adoção de filhos” (Gl 4,4-5). Constantemente na história da salvação, Deus manifesta o seu amor de Pai junto a seu povo. O amor é revelado por meio de uma eleição: uma jovem é separada para que por meio dela o Filho de Deus pudesse assumir a humanidade decaída com o pecado. Assim como por meio de uma mulher (Eva), o pecado “entrou” no mundo, Deus separa uma mulher para que por meio dela chegue a Salvação: dá-se uma nova criação. Há um novo Adão e, do seu lado é tirada a mulher, a nova Eva; um novo povo é constituído.
Maria é a Mulher do sim. O sim dado ao Amor. A obediência dada por amor. A entrega dada no amor. Desta maneira, Maria tem uma grande importância na história da salvação e na vida de muitos cristãos e sua figura é tradicionalmente reconhecida na Igreja Católica.

5.1 MARIA NO NOVO TESTAMENTO

Certamente, a Virgem tem na Bíblia um lugar discreto. Ela aí é representada toda em função de Cristo e não por si mesma. Mas sua importância consiste na estreiteza de seus laços com Cristo.
Maria está presente em todos os momentos de importância fundamental na história da salvação: não somente no princípio (cf. Lc 1 – 2) e no fim (cf. Jo 19,27) da vida de Cristo, mistérios da Encarnação e da morte redentora, mas na inauguração de seu ministério (cf. Jo 2) e no nascimento da Igreja (cf. At 1,14). Presença discreta, na maior parte das vezes, silenciosa, animada pelo ideal de uma fé pura, e de um amor pronto a compreender e a servir aos desejos de Deus e dos homens (cf. Lc 1,38-39.46-56; Jo 2,3) (BOFF, 2004).
Esta presença revela seu sentido total, e com toda a Escritura se a recolocarmos nos grandes quadros e correntes da teologia bíblica onde eles se situam, Maria aparece no término da história do povo eleito como correspondente de Abraão: Ela se apossa, pela fé, da promessa que ele havia recebido na fé. Ela é o ponto culminante onde o povo eleito dá nascimento a seu Deus e se torna a Igreja. Se alagarmos a perspectiva da história de Israel à história cósmica, segundo as insinuações de João e de Lucas, se compreendermos que Cristo inaugura uma nova criação, Maria aparece no início da salvação, como restauração de Eva: Ela acolhe a promessa de vida onde a primeira mulher havia acolhido a palavra de morte e se torna perto da nova árvore da vida a mãe dos vivos (LAURENTIN, 1965).
5.1.1 Maria no Evangelho de Marcos
O Evangelho de Marcos se constitui em duas questões fundamentais: Quem é Jesus de Nazaré? Como ser discípulo de Jesus, o Cristo? Questões que Maria, mãe de Jesus, como todos de sua família e todos da comunidade cristã, inclusive Marcos buscam entender.
No Evangelho de Marcos a pessoa de Maria aparece em duas passagens: Mc 3,31-35 e Mc 6, 3-4. Nestes textos Maria é a mãe biológica de Jesus que busca entender o filho juntamente com seus familiares. A mulher maternalmente solícita pela sorte do filho. Mas, que também é convocada a ser discípula na busca de compreender Jesus e sua missão e acolher sua proposta.  Ela também podia estar entre os primeiros a nutrir preocupações ainda muito humanas pela missão e a obra de Jesus.
Marcos indica que a verdadeira família de Jesus não é a de ordem carnal e que a ela pertencem todos os filhos do Reino. Assim, Maria, Mãe de Jesus é fundamental testemunho dos verdadeiros laços que criam comunhão com Jesus. Depois de ter levado Jesus, seu filho no ventre, era preciso que ela o gerasse no coração, cumprindo a vontade de Deus (cf. Mc 3,35), que se manifestava naquilo que Jesus dizia e realizava. Neste sentido, a figura de Maria “mãe” se harmoniza e se completa com a figura da “discípula” (SERRA, 1995).
5.1.2 Maria no Evangelho de Mateus
No Evangelho de Mateus a pessoa de Maria aparece em dois momentos: nos relatos da infância (cf. Mt 1-2) e no ministério apostólico de Jesus ( cf.Mt 12,46-50; 13,54-58). O primeiro é composto por relatos próprios de Mateus; o segundo está em dependência de Marcos, mas Mateus toma diante dele tal liberdade que é capaz de transformar seu sentido e seu ensinamento (ALVAREZ, 2005).
No Evangelho da Infância em Mateus, Jesus, como todos os meninos, não chega ao mundo sem um pai e uma mãe. Mateus fala de José, esposo de Maria (cf. Mt 1,16) e de Maria esposa de José (cf. Mt 1,24). Maria, por sua vez não tem existência sem José, do qual é esposa, e sem Jesus, do qual é mãe. Maria é aquela que gera e é mãe, ao passo que José é somente o pai legal.
Mt 1,3 fala sobre a concepção de Jesus, diz que esta se realizou “para que se cumpra o oráculo do Senhor, por meio do profeta [...]” e cita Is7, 14, aplicando a Jesus a realidade do “Emanuel” e a Maria a de “virgem”. (Mateus quando) Ao falar do nascimento de Jesus, Mateus recorrendo ao texto de Isaías, não somente assume a interpretação dos LXX, mas ele mesmo interpreta teologicamente esse nascimento: Jesus é o Emmanuel e nasce de Maria Virgem. Neles dois se realiza plenamente o oráculo do profeta: Jesus é o Messias, e Maria é a Mãe-Virgem e, este fato maravilhoso somente pode ser entendido como a obra do Espírito Santo (ALVAREZ, 2005).
A união de Maria com seu Filho é, então, íntima, total e permanente. Desde a concepção virginal, Maria está expressamente unida a Jesus e é inseparável dele. Por isso, os escritores eclesiásticos aprofundam nesta realidade, dizendo que não podemos entender Jesus sem Maria e entender Maria sem Jesus.
Podemos notar, finalmente, como que um contraste nas expressões de Mateus: Enquanto Jesus é o Emmanuel de Deus, Deus – conosco, Maria é a Mãe que está sempre junto do seu Filho. Ela é a resposta permanente à presença sempre atual do Senhor na história.
Quanto ao ser discípulos de Jesus significa cumprir a vontade do Pai no céu, realizar seu plano. Para Mateus, o discípulo integra, então, a escuta da Palavra e sua ação (cf. Mt 5,19;Mt7,24-25), o estar junto de Jesus e sob a sua proteção (cf. Mt 12,49-50). E Maria, com perfeita discípula e “família dele” em um nível muito mais forte e firme do que o dos laços físicos de geração (ALVAREZ, 2005).
Portanto, o Evangelho de Mateus nos fala que Maria está intimamente ligada ao seu Filho Jesus Cristo, desde antes do nascimento e, uma vez nascido para o mundo, está unida a ele nos momentos fundamentais de sua vida e de seu ministério. Assim, Maria aparece, mesmo sem palavras, como testemunha da graça abundante de Deus para seu povo, mas também como mãe que cuida e acompanha o Filho de suas entranhas (ALVAREZ, 2005).
5.1.3 Maria no Evangelho de Lucas
De todos os Evangelhos, Lucas é o que mais nos fala de Maria. Primeiramente nos relatos da infância, onde ela tem um papel mais ativo do que o que vimos em Mateus; em seguida, no marco da atividade apostólica de Jesus, com quatro textos, dois dos quais coincidem com as tradições de Marcos e de Mateus (cf. Lc 4,16-30 e 8,19-21) e outros dois que pertencem à tradição própria de Lucas (cf. Lc 3,23 e 11,27-28); por último, no começo dos Atos dos Apóstolos, quando se inicia a história da Igreja (cf. At 1,14) (ALVAREZ, 2005).
A primeira coisa que temos de afirmar, ao entrar na análise dos textos lucanos sobre Maria, dentro do chamado Evangelho da infância (Lc1-2), é que os textos são fundamentalmente cristológicos e mariológicos. Maria não tem uma identidade e uma vocação própria, mas dentro e a serviço da cristologia. Ela é tudo para Jesus e se transforma e se enriquece plenamente por e para Jesus. Para isto, temos alguns títulos que ilustram esta tão grandiosa discípula: Filha de Sião, Virgem e Mãe, Cheia de Graça, Morada de Deus, Cheia do Espírito, Serva e mulher de fé e Portadora da santa presença. Temos também textos bíblicos que falam da sua experiência como Mãe do Salvador: Lc1, 26-28 (o anúncio do Anjo); Lc1-39-45 (a visita a Isabel); Lc1, 46-55 (o cântico da libertação). Assim sendo, Maria surge em Lucas como a primeira mensageira do Evangelho de Deus: leva a Notícia da paz, da felicidade e da salvação, desde a Galiléia até a região de Judá. Mas Maria é a primeira mulher que acolhe o Evangelho e o comunica a seus irmãos, trazendo-lhes o gozo escatológico, quer dizer, a alegria e a segurança da salvação definitiva (cf. Lc 1,44) (ALVAREZ, 2005).
Em Lucas percebemos a participação e a cooperação de Maria no plano da salvação, desde a anunciação até o início da Igreja: “todos estes unânimes, perseveravam na oração com algumas mulheres, entre as quais Maria, a mãe de Jesus, e com seus irmãos” (At 1,14) (ALVAREZ, 2005).
Portanto, no Evangelho de Lucas vimos que Maria é apresentada como a Mãe do Salvador e esta em Atos exerce a função de Mãe da comunidade, pois, ela se encontra reunida com esta comunidade nascente para receber em oração a Promessa do Espírito; com esta comunidade reunida com os seus para orar e esperar de seu Filho o presente dos tempos novos. É, finalmente, irmã na comunidade e discípula do Senhor exaltada, que permanece em Jerusalém em cumprimento da Palavra do Mestre (cf. At 1,5-8) (ALVAREZ, 2005).
5.1.4 Maria no Evangelho de João
O quarto Evangelho oferece-nos a história de Cristo, num esforço de “memória viva” que parte da fé pascal (cf. Jo 2,17.22;12,16;13,7;20,9) e é realizada por obra do Espírito, o Paráclito, que é testemunha fiel e o hermeneuta qualificado da vida e da obra do Cristo joânico (cf. Jo 14,15-17;15,26;16,7-11.13.15). O quarto Evangelho é do final do século I e expressa a situação de duas igrejas, primeiro na Síria e depois na Ásia Menor (ALVAREZ, 2005).
A figura de Maria aparece no quarto Evangelho em duas ocasiões, no começo e no final do Evangelho. Em ambas, Maria é chamada “a Mãe de Jesus” (cf. Jo 2,1.3.5;19,26), e em ambas a palavra do Mestre vai dirigida a ela com o nome de “mulher” (cf. 2,3;19,26), mas nunca aparece o nome próprio de Maria. No Evangelho de João Maria é chamada por dois nomes: “Mãe de Jesus” e “Mulher”. Enquanto a expressão “Mãe de Jesus” é um título que contrasta com a outra afirmação, “filho de José”, o termo “mulher” é comum em Jesus para dirigir-se às mulheres (cf. Mt15, 28; Lc13, 12; Jo4, 21; 8,10; 20,13). Contudo aqui, dito à sua Mãe tem uma conotação especial: o termo “mulher” dirigido por Jesus é um termo joânico que aparece em duas ocasiões (em Caná e na cruz) e forma uma espécie de inclusão. A mulher está presente no começo e no fim da vida pública, no momento em que o Messias inicia suas obras e na hora da morte, quando consuma sua obra (ALVAREZ, 2005).
Maria aparece no Evangelho de João, sobretudo em 2,1-12 como intercessora e evangelizadora. Como intercessora Maria apresenta simplesmente a Jesus, a necessidade dos que participam da festa de bodas: “Não há mais vinho” (Jo 2,3). Já como evangelizadora, a segunda palavra de Maria que encontramos no quarto Evangelho é significativa não só pelo que diz, mas também por aqueles aos quais a diz: “Fazei o que ele disser” (Jo 2,5) (ALVAREZ, 2005).
Se em Caná, Jesus lhe disse que ainda não havia chegado sua “Hora” e iniciou seus sinais, aqui, na cruz, na Hora da Páscoa, Jesus realiza seu último e definitivo sinal da salvação, a morte por todos e a entrega do Espírito (cf. Jo 19,30). Assim, Maria é chamada novamente com dois títulos de Caná: a Mãe de Jesus e a Mulher. Maria também é a testemunha por excelência da Páscoa de Jesus diante da comunidade (cf. Jo 19,35; 21, 24). E esta comunidade, ao entender o gesto de seu Senhor, a recebe entre seus bens mais preciosos: Maria passa a ser um bem precioso com que Jesus Cristo presenteia a Comunidade, um dom da Páscoa de inapreciável valor; mas também a Mãe de todos acolhida como tal (ALVAREZ, 2005).
A visão do quarto Evangelho é nitidamente teológica contribui para realçar o papel de Maria no mistério de Jesus. Assim, o Evangelho de João articula os três elementos, Maria – Mãe de Jesus, Maria – Mulher e Maria – Mãe dos discípulos, segundo uma graduação teológica: partindo de Maria – Mãe de Jesus para chegar a Maria – Mãe dos discípulos, com uma maternidade nova.

5.2 OS DOGMAS MARIANOS

Os quatro dogmas marianos: “Maternidade Divina” = “Mãe de Deus” (Theotókos), e “Maria Virgem” = Virgindade, são antigos e estão estreitamente ligados entre si e inseparáveis da fé em Jesus Cristo e a sua formulação histórico- dogmática. Os dogmas da “Imaculada Conceição” e “Assunção de Maria” são mais recentes e estão baseados na dignidade e no significado de Maria Virgem e Mãe de Deus.
5.2.1 A Maternidade Divina e Virginal
Julga-se que o título Theotókos, Mãe de Deus, aparece pela primeira vez, na literatura cristã, nos escritos de Orígenes (†250). Foi solenemente proclamado pelo Concílio de Éfeso (431) (BETTENCOURT, 2004).
Em que sentido Maria é a Mãe de Deus? Toda mãe é mãe de uma pessoa. A Pessoa que nasce de Maria é a segunda Pessoa da Santíssima Trindade, que dela assumiu a carne humana. Maria, porém, não é mãe apenas da carne humana, mas de toda a realidade do seu Filho, o Verbo encarnado. Daí dizer-se que Maria é Mãe de Deus, mas enquanto Deus feito homem.
Deus escolheu Maria, por benevolência ou gratuidade, para ser Mãe Santa. Portanto, encheu-a de graça. Maria correspondeu fielmente ao dom de Deus, dizendo-se e fazendo-se a serva do Senhor (cf. Lc 1,38. 44). Maria foi escolhida como filha de Sião ou como membro de um povo chamado a gerar o Messias. Isto quer dizer que o Sim de Maria é o Sim de uma coletividade; é o Sim de todo o gênero humano, chamado a se prolongar na Igreja através dos séculos (BETTENCOURT, 2004).
Maria concebeu o Filho de Deus de maneira livre e generosa. Para isto, devia ter certo conhecimento do dom e da missão que lhe eram propostos (não se tratava de conhecimento pleno; (cf. Lc 2,50). Maria é privilegiada, mas ela se intitula “servidora de Deus e dos homens” (cf. Lc 2,38. 48). O próprio Jesus ensinou que “o maior deve ser como aquele que serve” (cf. Lc 22,26; Jo 12,13-15).
Desde remota época a Igreja professa que Maria é sempre virgem (no sentido físico). Esta verdade pertence ao patrimônio da fé, como declarou, em conformidade com a Tradição, o Papa Paulo V (aos 7/08/1555): “A bem-aventurada Virgem Maria foi verdadeira Mãe de Deus, e guardou sempre íntegra a virgindade, antes do parto, no parto e constantemente depois do parto” (DS 1880 [993]).
A doutrina da concepção virginal de Maria começa a ter sentido quando abordada de modo contemplativo no contexto da encarnação. As narrativas da infância de Mateus e Lucas são as únicas fontes que falam da concepção virginal de Jesus. Elas testemunham que Maria concebeu Jesus pelo poder da sombra do Espírito Santo sem intervenção masculina (cf. Lc 1,26-38; Mt 1,18-25). Os dois autores estão indicando o interesse na concepção virginal como sinal de escolha e graça divinas. A descrição extraordinária do nascimento de Jesus entra no discernimento cristológico de que Jesus é Filho de Deus, o Messias, desde o nascimento.
Assim, a doutrina da virgindade de Maria é indicativo das origens de Jesus no mistério de Deus que não se explicita apenas por ascendência humana, mas pela iniciativa criadora de Deus. Maria é virgem e mãe. Maria Virgem porque se guardou íntegra para Deus. Virgem por guardar íntegra a Palavra de Deus: “Faça-se em mim…”. Por isso é também a “sempre virgem Maria”: avançou íntegra na “penumbra da não-visão”; avançou em “peregrinação de fé” (LG 58).
5.2.3 Imaculada Conceição
O dogma da Imaculada Conceição significa que, no primeiro instante de sua conceição, a Bem-aventurada Virgem Maria foi, por graça e privilégio singulares de Deus onipotente e em vista dos méritos de Jesus Cristo, Salvador do gênero humano, preservada de toda mancha da culpa original (DS 2803 [1641]).
Esta verdade, solenemente definida por Pio IX em 08/12/1854, foi aos poucos aflorando à consciência da Igreja. Durante muito tempo, os teólogos perguntavam como poderia Maria ter sido salva por Jesus Cristo se nunca tivesse pecado. Finalmente, João Duns Scoto, O.F.M. (†1308) propôs a fórmula decisiva: “pertence à perfeição do Redentor não somente purificar do pecado, mas preservar do pecado a mais dileta dentre as criaturas” (BETTENCOURT, 2004, p.06).
Maria, portanto, foi isenta do pecado original em previsão dos méritos de Cristo; assim, ela foi remida de maneira mais perfeita do que as outras criaturas.
Maria nunca contraiu pecado pessoal, nem a mais leve culpa. A razão pela qual o Senhor Deus quis outorgar tal privilégio a Maria, se deriva da graça da maternidade divina: não convinha que aquela mulher chamada a ser tabernáculo do Altíssimo ou Mãe de Deus feito homem estivesse, por um momento sequer, sujeita ao domínio do pecado e de Satanás. O anjo declarou Maria “cheia de graça” (Lc 1,26) – o que sugere que desde o início da sua existência ela gozou da plenitude do favor divino.
A riqueza de graças em Maria não impediu que ela vivesse de fé e de esperança, em meio a lutas e dores. A sua fé inspirou-lhe a obediência incondicional a Deus, que lhe pedia cada vez mais generosa. Maria não compreendeu desde o início a grandeza da obra que Deus nela realizaria; também se sentiu perplexa, mais de uma vez, diante do procedimento de seu Filho (cf. Lc 2,49s), mas abandonou-se a Deus sem reservas.
5.2.4 Assunção de Maria
Desde remota época (séculos IV e V), os autores cristãos julgaram que Maria teve um fim de vida terrestre singular; em seus sermões e em escritos apócrifos, professaram a glorificação corporal de Maria, logo após a sua morte na terra. Esta crença foi-se transmitindo até que o Papa Pio XII em 1950 houve por bem proclamá-la solenemente como dogma de fé (FIORES, 1995).
Com efeito, Maria, que não esteve sujeita ao império do pecado para poder ser a santa Mãe de Deus, não podia ficar sob o domínio da morte que entrou no mundo através do pecado (cf. Rm 5,12). Por isto, não conheceu a deterioração da sepultura, mas foi glorificada não somente em sua alma, mas também em seu corpo (FORTE, 1985).
A carne da mãe e a carne do filho são uma só carne. Por isto, a carne de Maria devia tocar a mesma sorte que tocou a carne de Jesus: ambas foram glorificadas no fim desta caminhada terrestre. Existe uma tendência a empalidecer o significado da glorificação corporal de Maria mediante a tese da ressurreição de todo indivíduo logo após a morte: o caso de Maria seria um entre outros pares (BETTENCOURT, 2004).
A Assunção da Virgem Maria é uma participação singular na Ressurreição de seu Filho e uma antecipação da ressurreição dos outros cristãos (CIC 966).

5.3 MARIA NOS DOCUMENTOS DO VATICANO II: LUMEN GENTIUM E MARIALIS CULTUS

A figura de Maria foi de suma importância para o Vaticano II: o Papa João XXIII abriu o Concílio na festa da Maternidade Divina de Maria (11 de outubro de 1962) e o Papa Paulo VI o concluiu na vigília da Imaculada Conceição (07 de dezembro de 1965). O Concílio, todavia, abre perspectivas de um novo tempo, nos deixando o “Capítulo VIII” da Lumem Gentium. Depois do Concílio Vaticano II, temos a exortação de Paulo VI (02 de fevereiro de 1974) (FURLANI, 2005).
5.3.1 Maria no Capítulo VIII da Lumen Gentium
O capítulo VIII da Lumem Gentium integra o mistério da Mãe de Deus no mistério de Cristo e da Igreja. Este documento dá destaque à fundamentação bíblica e tradicional da doutrina mariana, levando em conta a exegese recente, os Padres da Igreja e dos teólogos posteriores.
No seu conteúdo, representa a doutrina clássica em termos modernos: Maria, a Mãe de Deus e tipo de Igreja é vista como pessoa que se oferece livre e conscientemente à graça de Deus.
A devoção aparece como incentivo para a fé e amor de Jesus. E favorece ao diálogo ecumênico, assumido no Concílio. O Papa Paulo VI na promulgação da Constituição Lumem Gentium, terminou sua alocução proclamando Maria Mãe da Igreja, título que não aparece no documento conciliar, mas foi acrescido às “Ladainhas lauretanas” (FIORES, 1995).
5.3.2 Marialis Cultus
A Exortação Apostólica do Papa Paulo VI (02/02/ 1974), parte da renovação litúrgica, decidida pelo Concílio Vaticano II, para explicar o lugar de Maria no ciclo geral e o sentido das festas propriamente marianas (FIORES, 1995).
A Exortação segue o que orienta o Concílio: [...] promovam generosamente o culto, sobretudo o litúrgico, para com a Bem-Aventurada Virgem Maria; dêem grande valor às práticas e aos exercícios de piedade recomendados pelo magistério [...] (LG 67). Neste ensinamento, Paulo VI articula a questão da cultura e da inculturação do culto devido a Maria, como a Mulher que soube viver no seu contexto e inserir-se no mistério de Cristo, porque foi uma mulher que acreditou naquilo que o Senhor lhe disse.
A Exortação especifica as características e evidencia elementos teológicos e espirituais do culto e de uma devoção mariana para o nosso tempo. Portanto, no seu conteúdo doutrinal, o mistério de Maria deve ser compreendido como um mistério trinitário, cristológico, pneumatológico e eclesial; em relação à devoção mariana deverá seguir quatro orientações: “bíblica, litúrgica, ecumênica e antropológica, para tornar mais vivo e mais inteligível o vínculo que nos une a mãe de Cristo e mãe nossa na comunhão dos santos” (MC 29).
O cunho bíblico em toda forma de culto é princípio e fato reconhecido pela piedade cristã e também pela piedade mariana. O conteúdo bíblico, portanto é referencial para alimentar o amor para com Maria e o culto que a ela se presta (MC 30).
Na característica antropológica, mostra que o mundo moderno requer uma nova imagem de Maria. Os cristãos devem fazer ver em Maria o modelo de pessoa humana, da mulher responsável e co-responsável, em conformidade com a realidade bíblica e levando em conta as exigências do fenômeno da libertação da mulher e do reconhecimento dos seus direitos na sociedade moderna (MC 35).
Na questão do ecumenismo a Marialis Cultos orienta que se mantenham os sentimentos de unidade de todos os cristãos  pois: “[...] todos aqueles que confessam abertamente que o filho de Maria é o Filho de Deus e Senhor nosso, Salvador e único Mediador (cf. 11Tm 2,5), são chamados a serem uma só coisa entre si, com Ele e com o Pai, na unidade do espírito Santo” (MC 32).
O lugar de Maria na liturgia se insere na celebração da obra salvífica do Pai: o Mistério de Cristo. Neste mistério inseriu-se a memória de Maria como Mãe de Cristo, celebrando-se de forma explícita a íntima ligação que a Mãe tem com o Filho de Deus (MC 3-4). Na celebração dos eventos dos mistérios da salvação, Maria aparece associada ao Filho em primeiro lugar na Celebração Eucarística, quando se invoca a memória da “sempre Virgem Maria, Mãe de Deus e Senhor Jesus Cristo” (Oração Eucarística I) e as memórias incorporadas pela liturgia da Igreja e aquelas que nascem da experiência de fé das comunidades cristãs. Da tradição perene e viva da fé da Igreja colhem-se as mais significativas expressões da piedade e devoção marianas (MC 9-15).
Referências Bibliográficas
ALVAREZ, Carlos G. Maria Discípula e Mensageira do Evangelho. São Paulo: Paulus, 2005. (Coleção do Celam).
BETTENCOURT, Estevão Tavares. Escola “Mater Ecclesiae”: curso de iniciação teológica por correspondência. – Rio de Janeiro.
DENZIGER, HünermannCompêndio dos Símbolos, definições e declarações de fé e moral. São Paulo: Paulinas/Loyola,2007.
FORTE, Bruno. Maria, a mulher ícone do Mistério. São Paulo, Paulinas, 1985.
FURLANI, Maria Aparecida. Apostila de Mariologia”: “ad usum studentium”.- Várzea Grande, MT,2006.
Lumen Gentium. In: Documentos do Concílio Vaticano II. São Paulo: Paulus, 1997.
PAULO VI, Papa. Marialis Cultus. In Documentos de Paulo VI. São Paulo: Paulus, 1997.

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