São passados quase 600 anos da última renúncia de um papa, Gregório XII, em 1416. Por isso, a inusitada e impensada renúncia do papa Bento XVII soa estranha, até aqui em Roma. 0s papas que renunciaram o fizeram em situação de forte crise, ou até de caos.
O papa São Clemente I em 97, em meio a uma crise na Igreja de Corinto, onde jovens se rebelaram contra os presbíteros (velhos). Ele escreveu a essa Igreja uma belíssima carta, que rivaliza com a de São Paulo. O cristianismo incipiente intimidava o poder. O imperador Nerva, literalmente mandou o Papa ir arrancar pedras, nas minas do Quersoneso. Parece que ele não renunciou, foi cassado. Sua festa é no dia 23 de novembro.
O papa São Ponciano renunciou formalmente em 235, antes de ser exilado por Maximino, nas minas da Sardenha. No conclave foi eleito o papa Ponciano, mas um grupo elegeu santo Hipólito, também papa. O imperador mandou os dois para o exílio. Ambos são mártires celebrados no dia 13 de agosto. Santo Hipólito - talvez sem querer - é o primeiro antipapa. Por ser mártir e santo, em geral ele não aparece como antipapa.
O papa Silvério, em 537. Em plena Idade Média, era grande a ingerência do poder civil na Igreja. Os ostrogodos invadiram o norte da Itália e chegaram a assediar Roma com 150 mil soldados. Houve falsificação de uma carta do papa Silvério. E em meio a esse caos, o papa teria renunciado. Alguns autores dizem que ele foi formalmente destituído.
O papa João XVIII em 1009. Na época toda a península itálica estava envolta em grande confusão política. Ela foi invadida por Henrique da Baviera, com grandes transtornos. O papa que só cuidava das coisas espirituais, renunciou e retirou-se para a Abadia de São Paulo fora dos Muros, nos arredores de Roma, onde morreu poucos meses depois.
O papa São Celestino V, em 1294. Por lutas internas na Igreja, a sede Pontifícia ficou vacante mais de dois anos. Em julho foi eleito o velho monge Celestino, aos 79 anos. Ele se viu em meio a tanta confusão, que renunciou já em dezembro. Ele é citado por Dante Alighieri na Divina Comédia (Inf. III, 59-60). Ele é o S. Pedro Celestino, festejado em 19 de maio.
O papa Gregório XII, em 1416. Era o tempo difícil dos papas em Avinhão e da volta para Roma. Ele foi eleito apenas por 15 cardeais. Enfrentou grande oposição do outro grupo. Ele tentou por algum tempo, conciliar a situação mas sem resultado, renunciou pelo bem da Igreja. Isso permitiu a eleição de um novo papa de consenso.
O papa atual, Bento XVI, anunciou a sua renúncia para o dia 28 de fevereiro de 2013. Ele enfrentou desde o início uma crise: muitos cardeais não aceitavam o secretário de Estado do Vaticano, D. Tarcísio Bertone, por ele não ser da carreira da Diplomacia do Vaticano. Isso incomodava aos carreiristas. Para mim, a renúncia do papa pode ser interpretada como: “Se ele deve sair, eu saio também!”
A crise cresceu com o anuncio, em janeiro de 2012, de que o papa “morreria” até dezembro e seu sucessor, já estaria designado: o cardeal de Milão Angelo Scola. O aviso escrito foi entregue a D. Bertone e divulgado na imprensa. Os citados nele, negaram o fato, “comme toujours!”
O ápice veio em fevereiro de 2012 quando o livro Sua Santidade publicou documentos particulares do Vaticano. Identificado o culpado, o mordomo (como em Aghata Christie), ele foi preso, julgado, condenado e anistiado em 22 de dezembro de 2012. Ele disse: “Eu fiz isso para salvar a vida do papa”. Sua advogada foi mais enfática:“Quando a verdade dos fatos vier a lume, Paolo Gabriele será homenageado”. A pergunta é: Por ter salvado a vida do papa?
Hermínio Bezerra
freiherkol@yahoo.com.br
Frade
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