Dom Eugenio de Araujo Sales
Cardeal Arcebispo Emérito do Rio de Janeiro
A missa do IV Domingo de Páscoa apresenta no evangelho a bela passagem do Bom Pastor. Cristo utiliza um quadro muito comum à vida rural palestina e a outras regiões: o rebanho e seu pastor. Este o guarda, defende, dirige, garantindo proteção e alimento. Quando percorremos aqueles locais nos deparamos, ainda hoje, com igual cena e vêm-nos à memória as palavras do Mestre: "Eu sou o bom pastor. Tenho ainda outras ovelhas, mas não estão neste redil; é preciso trazê-las também" (Jo 10,14-16). O encargo recebido do Pai é, pelo Filho Ressuscitado, transmitido a outros que o devem prover de forma ativa e eficaz, em todas as gerações futuras. A ação redentora, que pode atuar direta e ordinariamente, efetiva-se através de indivíduos chamados a cumprir tão nobilitante ministério. É a vocação, que, uma vez correspondida, transforma o escolhido em parceiro íntimo da obra salvífica. Essa missão é confiada de modo particular a determinadas pessoas por ele vocacionadas a exercer esse ofício.
Para reavivar a memória dos fiéis, a Igreja celebra o 47º Dia Mundial de Oração pelas Vocações com a publicação da mensagem oficial do Santo Padre. Nela, o Papa Bento XVI propõe a reflexão de um tema que se enquadra bem no Ano Sacerdotal: “O testemunho suscita vocações”. De fato, “a fecundidade da proposta vocacional depende primariamente da ação gratuita de Deus, mas é favorecida também pela qualidade e riqueza do testemunho pessoal e comunitário de todos aqueles que já responderam ao chamamento do Senhor no ministério sacerdotal e na vida consagrada, pois o seu testemunho pode suscitar noutras pessoas o desejo de, por sua vez, corresponder com generosidade ao apelo de Cristo”.
Sabemos da carência de trabalhadores nesse campo. O Mestre já o constatava, quando percorria a Palestina: “A messe é grande, mas poucos os operários” (Mt 9,37). Essa observação onera todos os cristãos. Recordemos, pois, o Decreto “Optatam Totius” sobre a formação sacerdotal: “O dever de fomentar as vocações pertence a toda a comunidade dos fiéis” (n.20).
O Dia de Oração pelas Vocações sugere, de modo particular, um exame de consciência sobre o papel da comunidade diante da escassez de operários na vinha do Senhor.
As razões são óbvias. O objetivo dessa especial consagração à causa do Evangelho é o bem dos cristãos que precisam do alimento da Palavra e da Eucaristia, do perdão dos pecados, do amparo nos momentos finais, das graças que lhes são dispensadas pelos Sacramentos. Sem ministros, o rebanho corre o risco de se dispersar e fica mais facilmente à mercê de seus inimigos. O campo, sem o essencial cuidado, não produzirá os frutos esperados e necessários. Assim, todos se responsabilizam, a fim de não serem privados de quem distribua o indispensável à subsistência da vida espiritual. Daí resulta a incontável e benéfica influência do ministro de Deus em toda a ordem social. Lembremo-nos da advertência contida na expressão: “Vós sois o sal da terra” (Mt 5,13). Não nos fixemos apenas na parte referente à corrupção do sal, mas também no que ocorreria a toda a coletividade se ele viesse a faltar.
O esforço pela multiplicação de vocações é também um sinal de vitalidade eclesial. Um renascer promissor da vida consagrada é, na verdade, motivo de profunda ação de graças. Em muitas partes, os seminários e casas de formação voltam a se encher. As estatísticas da Santa Sé, publicadas em 2010, indicam um número de 117.024 candidatos ao sacerdócio.
O maior estímulo ao surgimento de candidatos à consagração integral ao serviço do Reino de Deus é a figura do bom padre. O exemplo de uma doação livre e feliz certamente fala de modo mais eloquente que muitas palavras. O padre, com sua vida e seu zelo, sempre encontrará meios de fazer germinar a semente depositada por Deus no coração de tantos jovens. E, para um testemunho eficaz, três aspectos são elencados pelo Santo Padre em sua mensagem para este ano de 2010: primeiramente “a amizade com Cristo, pois o sacerdote não pode deixar de cultivar uma profunda intimidade com Ele e permanecer no seu amor (...). Nesse sentido, a oração é o primeiro testemunho que suscita vocações”.
Outro aspecto, segundo o Santo Padre, é “o dom total de si mesmo a Deus (...). Daqui brota a capacidade para se dar depois àqueles que a Providência lhe confia no ministério pastoral, com dedicação plena, contínua e fiel, e com a alegria de fazer-se companheiro de viagem de muitos irmãos, a fim de que se abram ao encontro com Cristo e a sua Palavra se torne luz para o seu caminho”.
Um terceiro aspecto é “viver em comunhão. De modo particular, o sacerdote deve ser um homem de comunhão, aberto a todos, capaz de fazer caminhar unido todo o rebanho que a bondade do Senhor lhe confiou, ajudando a superar divisões, sanar lacerações, aplainar contrastes e incompreensões, perdoar as ofensas”.
Finalmente, o germe de toda vocação nasce e se cultiva na Família, que o Decreto “Optatam Totius” chama de “primeiro Seminário” (n.2). Neste IV Domingo da Páscoa, cabe uma reflexão aos nossos movimentos familiares sobre a matéria. Uma demonstração concreta de sua eficácia é fazer surgir entre seus filhos o desejo de uma consagração religiosa.
Que o Dia Mundial de Oração pelas vocações, “uma vez mais, possa oferecer preciosa ocasião para muitos jovens refletirem sobre a própria vocação, abrindo-se a ela com simplicidade, confiança e plena disponibilidade”.
Cardeal Arcebispo Emérito do Rio de Janeiro
A missa do IV Domingo de Páscoa apresenta no evangelho a bela passagem do Bom Pastor. Cristo utiliza um quadro muito comum à vida rural palestina e a outras regiões: o rebanho e seu pastor. Este o guarda, defende, dirige, garantindo proteção e alimento. Quando percorremos aqueles locais nos deparamos, ainda hoje, com igual cena e vêm-nos à memória as palavras do Mestre: "Eu sou o bom pastor. Tenho ainda outras ovelhas, mas não estão neste redil; é preciso trazê-las também" (Jo 10,14-16). O encargo recebido do Pai é, pelo Filho Ressuscitado, transmitido a outros que o devem prover de forma ativa e eficaz, em todas as gerações futuras. A ação redentora, que pode atuar direta e ordinariamente, efetiva-se através de indivíduos chamados a cumprir tão nobilitante ministério. É a vocação, que, uma vez correspondida, transforma o escolhido em parceiro íntimo da obra salvífica. Essa missão é confiada de modo particular a determinadas pessoas por ele vocacionadas a exercer esse ofício.
Para reavivar a memória dos fiéis, a Igreja celebra o 47º Dia Mundial de Oração pelas Vocações com a publicação da mensagem oficial do Santo Padre. Nela, o Papa Bento XVI propõe a reflexão de um tema que se enquadra bem no Ano Sacerdotal: “O testemunho suscita vocações”. De fato, “a fecundidade da proposta vocacional depende primariamente da ação gratuita de Deus, mas é favorecida também pela qualidade e riqueza do testemunho pessoal e comunitário de todos aqueles que já responderam ao chamamento do Senhor no ministério sacerdotal e na vida consagrada, pois o seu testemunho pode suscitar noutras pessoas o desejo de, por sua vez, corresponder com generosidade ao apelo de Cristo”.
Sabemos da carência de trabalhadores nesse campo. O Mestre já o constatava, quando percorria a Palestina: “A messe é grande, mas poucos os operários” (Mt 9,37). Essa observação onera todos os cristãos. Recordemos, pois, o Decreto “Optatam Totius” sobre a formação sacerdotal: “O dever de fomentar as vocações pertence a toda a comunidade dos fiéis” (n.20).
O Dia de Oração pelas Vocações sugere, de modo particular, um exame de consciência sobre o papel da comunidade diante da escassez de operários na vinha do Senhor.
As razões são óbvias. O objetivo dessa especial consagração à causa do Evangelho é o bem dos cristãos que precisam do alimento da Palavra e da Eucaristia, do perdão dos pecados, do amparo nos momentos finais, das graças que lhes são dispensadas pelos Sacramentos. Sem ministros, o rebanho corre o risco de se dispersar e fica mais facilmente à mercê de seus inimigos. O campo, sem o essencial cuidado, não produzirá os frutos esperados e necessários. Assim, todos se responsabilizam, a fim de não serem privados de quem distribua o indispensável à subsistência da vida espiritual. Daí resulta a incontável e benéfica influência do ministro de Deus em toda a ordem social. Lembremo-nos da advertência contida na expressão: “Vós sois o sal da terra” (Mt 5,13). Não nos fixemos apenas na parte referente à corrupção do sal, mas também no que ocorreria a toda a coletividade se ele viesse a faltar.
O esforço pela multiplicação de vocações é também um sinal de vitalidade eclesial. Um renascer promissor da vida consagrada é, na verdade, motivo de profunda ação de graças. Em muitas partes, os seminários e casas de formação voltam a se encher. As estatísticas da Santa Sé, publicadas em 2010, indicam um número de 117.024 candidatos ao sacerdócio.
O maior estímulo ao surgimento de candidatos à consagração integral ao serviço do Reino de Deus é a figura do bom padre. O exemplo de uma doação livre e feliz certamente fala de modo mais eloquente que muitas palavras. O padre, com sua vida e seu zelo, sempre encontrará meios de fazer germinar a semente depositada por Deus no coração de tantos jovens. E, para um testemunho eficaz, três aspectos são elencados pelo Santo Padre em sua mensagem para este ano de 2010: primeiramente “a amizade com Cristo, pois o sacerdote não pode deixar de cultivar uma profunda intimidade com Ele e permanecer no seu amor (...). Nesse sentido, a oração é o primeiro testemunho que suscita vocações”.
Outro aspecto, segundo o Santo Padre, é “o dom total de si mesmo a Deus (...). Daqui brota a capacidade para se dar depois àqueles que a Providência lhe confia no ministério pastoral, com dedicação plena, contínua e fiel, e com a alegria de fazer-se companheiro de viagem de muitos irmãos, a fim de que se abram ao encontro com Cristo e a sua Palavra se torne luz para o seu caminho”.
Um terceiro aspecto é “viver em comunhão. De modo particular, o sacerdote deve ser um homem de comunhão, aberto a todos, capaz de fazer caminhar unido todo o rebanho que a bondade do Senhor lhe confiou, ajudando a superar divisões, sanar lacerações, aplainar contrastes e incompreensões, perdoar as ofensas”.
Finalmente, o germe de toda vocação nasce e se cultiva na Família, que o Decreto “Optatam Totius” chama de “primeiro Seminário” (n.2). Neste IV Domingo da Páscoa, cabe uma reflexão aos nossos movimentos familiares sobre a matéria. Uma demonstração concreta de sua eficácia é fazer surgir entre seus filhos o desejo de uma consagração religiosa.
Que o Dia Mundial de Oração pelas vocações, “uma vez mais, possa oferecer preciosa ocasião para muitos jovens refletirem sobre a própria vocação, abrindo-se a ela com simplicidade, confiança e plena disponibilidade”.
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